quinta-feira, 9 de março de 2023

Outrora e atual

 

Com o passar dos dias, torno-me mais e mais fã de coisas, pessoas e hábitos antigos, inclusive de mim mesmo. O outrora suplanta, em muito, o atual. (Aqui arrisco-me como possível vítima de gerontocídio ou, no mínimo, a receber como epíteto algo como hodiernusfobia). Há uma razão para tudo isso, todavia, para evitar uma longa discussão - também ideológica - não me pergunteis pelo porquê. Cansei-me de desempenhar a farsa que nos é imposta; cansei-me da hipocrisia sociocultural; cansei-me da vaidade que opõe-se até mesmo à gravitação, haja vista as pelancas que com o tempo inundam nossas faces; cansei-me de ouvir pessoas, que em nome do saudável, alimentam seus respectivos coelhos com vegetais hidroprônicos.

E para enaltecer o mais antigo, presenteio-vos com um autorretrato. Recuso-me à analogia do vinho, algo muito clichê. Na verdade, sou como um daqueles queijos de boa procedência: quanto mais velho, mais apurado o sabor, o prazer da degustação. Sim, de boa elasticidade no toque, aromático, acastanhado e - por que não?- a acidez e o adocicado em perfeita harmonia.  Não, não me exijais modéstia; a preocupação em ser modesto já traduz a falsa modéstia. E cá entre nós, com um pouquinho mais de tempo, tornar-me-ei imemorado. Fazer o quê?