Com
o passar dos dias, torno-me mais e mais fã de coisas, pessoas e hábitos
antigos, inclusive de mim mesmo. O outrora suplanta, em muito, o atual. (Aqui
arrisco-me como possível vítima de gerontocídio ou, no mínimo, a receber como
epíteto algo como hodiernusfobia). Há uma razão para tudo isso, todavia, para
evitar uma longa discussão - também ideológica - não me pergunteis pelo porquê.
Cansei-me de desempenhar a farsa que nos é imposta; cansei-me da hipocrisia
sociocultural; cansei-me da vaidade que opõe-se até mesmo à gravitação, haja
vista as pelancas que com o tempo inundam nossas faces; cansei-me de ouvir
pessoas, que em nome do saudável, alimentam seus respectivos coelhos com
vegetais hidroprônicos.
E
para enaltecer o mais antigo, presenteio-vos com um autorretrato. Recuso-me à
analogia do vinho, algo muito clichê. Na verdade, sou como um daqueles queijos
de boa procedência: quanto mais velho, mais apurado o sabor, o prazer da
degustação. Sim, de boa elasticidade no toque, aromático, acastanhado e - por
que não?- a acidez e o adocicado em perfeita harmonia. Não, não me exijais modéstia; a preocupação
em ser modesto já traduz a falsa modéstia. E cá entre nós, com um pouquinho
mais de tempo, tornar-me-ei imemorado. Fazer o quê?