Grande amigo, diplomata, disse-me que falar francês é fácil: deve-se começar sempre por um sonoro Bonjour, em meio a frase solta-se uns dois ou três assintomáticos Voilà e ao terminar um sincero Merci. Seria verdade? Não o saberia dizer, mas algo parecido sucedeu comigo no porto de Odessa, Ucrânia, então parte da extinta União Soviética.
Meado dos anos oitentas; janeiro, se a
memória não está a me pregar peças. O Mar Negro em parte congelado. Por isso a
proa bulbosa dos navios: quebrar gelo. E eu em Odessa... Não, eu não fora ali
em busca de nenhum dossiê. Simplesmente minha vida de marinheiro mercante facultou-me
oportunidades únicas. Creio não ser necessário dizer do frio intenso, mas é bom
fazê-lo. Como suportar a temperatura daquele lugar? Alertaram-me para que
saísse à tarde, pois a noite eu não aguentaria. E assim o fiz. O céu acinzentado,
impassível... O impiedoso clima me incomodava. Solução? Um bar!
Adentrei o recinto não querendo
parecer neófito. Qual nada; perda de tempo. E o idioma? Eu decorara, se muito,
três ou quatro palavras; todas exclamações. E por incrível que pareça, foi com
elas que passei uma tarde em Odessa. Minha primeira palavra: Vodka! (dispensa tradução). Assim que
era servido, eu agradecia com spasibo!
(obrigado). Em seguida, com o copo em riste, eu exclamava zdorov’ye! (saúde). Bem, isso se repetiu incontáveis vezes, até que
o frio pareceu ter-se ido e a cabeça dar início ao penoso giro. Despesa paga,
antes de abandonar o recinto, voltei-me com veemência e disparei um dasvidaniya! (adeus).
Nunca mais tive oportunidade de
retornar a Odessa; ficaram apenas lembranças. Dentre estas a do companheiro de
viagem que, entusiasmado pelo idioma e costumes soviéticos, e de tanto ver
certo termo estampado em boletins, cartazes e documentos nos quadros de avisos, decidiu
colocar o nome do filho recém-nascido de MockBa.