quarta-feira, 25 de julho de 2012

Soneto da paixão e do descaramento


(Eis o risco que se corre ao se tentar fazer poeta)

Mulher

De início um olhar, um cismar, um pensar.
Depois o sonho, a quimera, a fantasia;
A embaraçada cobiça, a lúdica ousadia:
O pudico desejo do verbo que diz amar.

Então vieram os afagos, os afetos, carícias,
De corpos não frios, talvez tíbios, dolentes,
De almas que relutavam em se fazer ardentes,
De seres comuns que mascaravam malícias.

E veio o oportuno, o conflito, o abraço,
A vida que eleva, que exige, reclama;
Um clamor exaltado, que grita, que quer.

Ó Eros que fustiga, fere e embaraça,
Que constrange, pune e conclama, mas
Que permite, enfim, chamar-te mulher!

domingo, 1 de julho de 2012

As novas bem-aventuranças ou uma teologia pós-moderna bem brasileira




Podem não acreditar, mas eu, o não ungido, olho para as multidões e me sinto consternado. Já percorri lugares, aqui, acolá, algures... e o abatimento é o mesmo. Curioso: parece que a apatia acaba por fazer proselitismo.
Permito-me, então, acompanhar de discípulos. E como se não bastasse, sou instado a ensiná-los. Mas não há montes onde eu possa subir; não há multidões a conduzir. Assim, contento-me com a cadeira acolchoada que o conforto burguês oferece. O mais afoito pupilo questiona: - Como podemos ser felizes no mundo de hoje? Eu pigarreio (um sintoma de minha dúbia intelectualidade), cutuco disfarçadamente o nariz, e passo a esbanjar descarado conhecimento ao discorrer sobre as bem-aventuranças da nossa pós-modernidade.
Bem-aventurados os pobres de espírito, leigos, estúpidos e vazios, pois haverá discursos a favor, lançando-os na esfera dos discriminados, incitando-os a assim se perpetuarem, relegando todo esforço do conhecimento à esfera do inútil.
Bem-aventurados os que choram o choro da hipocrisia e se arrogam em vítimas – quando na verdade são contumazes velhacos – pois serão consolados pelo sensacionalismo da mídia que realiza a pieguice do populacho.
Bem-aventurados os que cometem de modo farto a injustiça, pois que são amparados pela leniência de seus pares que desfilam pelas vacâncias do poder da polis.
Bem-aventurados os desocupados, ex-presidiários, arruaceiros e vândalos pós-modernos que se reúnem em grupos organizados com o quilate do MST, pois que serão perdoados enquanto se travestirem de “movimento social”.
Bem-aventurados os violentos, criminosos, réprobos em geral, pois serão protegidos pelo discurso afetado e com ranço ideológico de uma esquerda ressentida, que ostenta o título de “Direitos Humanos”.
Bem-aventurados a casta política, independente se pertencente às oligarquias regionais, quando furta, desvia, nega, dissimula, mente, humilha e insulta os eleitores, pois terá direito a foro privilegiado e a imunidade parlamentar.
Bem-aventurados os fúteis, os superficiais, os vaidosos, quando disserem todo o mal contra vós, pois que a futilidade, a superficialidade e a vaidade arrebatam corações e mentes dos mais empedernidos.
Bem-aventurados os de mentalidade tacanha, os obtusos e limitados porque chegarão à faculdade e de lá sairão “um monte de DOTÔ”, graças ao Prouni, Reuni e outras desastrosas barganhas.
Bem-aventurados os analfabetos ou semianalfabetos, pois poderão alcançar o cargo de Presidente da República, transformando republiquetas de bananas em imensos sindicatos.

...

Mas onde estão meus discípulos?