Podem não acreditar, mas eu, o não ungido, olho para
as multidões e me sinto consternado. Já percorri lugares, aqui, acolá,
algures... e o abatimento é o mesmo. Curioso: parece que a apatia acaba por
fazer proselitismo.
Permito-me, então, acompanhar de discípulos. E como
se não bastasse, sou instado a ensiná-los. Mas não há montes onde eu possa
subir; não há multidões a conduzir. Assim, contento-me com a cadeira acolchoada
que o conforto burguês oferece. O mais afoito pupilo questiona: - Como podemos
ser felizes no mundo de hoje? Eu pigarreio (um sintoma de minha dúbia
intelectualidade), cutuco disfarçadamente o nariz, e passo a esbanjar descarado
conhecimento ao discorrer sobre as bem-aventuranças da nossa pós-modernidade.
Bem-aventurados
os pobres de espírito, leigos, estúpidos e vazios, pois haverá discursos a
favor, lançando-os na esfera dos discriminados, incitando-os a assim se
perpetuarem, relegando todo esforço do conhecimento à esfera do inútil.
Bem-aventurados
os que choram o choro da hipocrisia e se arrogam em vítimas – quando na verdade
são contumazes velhacos – pois serão consolados pelo sensacionalismo da mídia
que realiza a pieguice do populacho.
Bem-aventurados
os que cometem de modo farto a injustiça, pois que são amparados pela leniência
de seus pares que desfilam pelas vacâncias do poder da polis.
Bem-aventurados
os desocupados, ex-presidiários, arruaceiros e vândalos pós-modernos que se
reúnem em grupos organizados com o quilate do MST, pois que serão perdoados
enquanto se travestirem de “movimento social”.
Bem-aventurados
os violentos, criminosos, réprobos em geral, pois serão protegidos pelo
discurso afetado e com ranço ideológico de uma esquerda ressentida, que ostenta
o título de “Direitos Humanos”.
Bem-aventurados
a casta política, independente se pertencente às oligarquias regionais, quando
furta, desvia, nega, dissimula, mente, humilha e insulta os eleitores, pois
terá direito a foro privilegiado e a imunidade parlamentar.
Bem-aventurados
os fúteis, os superficiais, os vaidosos, quando disserem todo o mal contra vós,
pois que a futilidade, a superficialidade e a vaidade arrebatam corações e
mentes dos mais empedernidos.
Bem-aventurados
os de mentalidade tacanha, os obtusos e limitados porque chegarão à faculdade e
de lá sairão “um monte de DOTÔ”, graças ao Prouni, Reuni e outras desastrosas
barganhas.
Bem-aventurados
os analfabetos ou semianalfabetos, pois poderão alcançar o cargo de Presidente
da República, transformando republiquetas de bananas em imensos sindicatos.
...
Mas onde estão
meus discípulos?
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