Recomenda-se
amiúde e com obstinação o otimismo; preconiza-se de modo insano a alegria. A
única pergunta cabível nesta oportunidade seria: Em que circunstâncias? Parece-me
que tal recomendação não só tem origem, como também se dirige àqueles cuja vida
se resume a pão e circo. Estruturas sociais são disponibilizadas para facultar Questa bella vita. Então a vida
discorre - pelo menos na visão deste pragmatismo forjado - ou escorre tranquila
e macia em um onírico clima de banalidade, onde todos os problemas são
irrelevantes, as dificuldades são aparências e, portanto, igualmente irrisórias.
Neste caso, a
arte mesma perde todo seu significado, pois que esta vem servir-nos de alento
frente às dificuldades que se nos impõe. No entanto, caíram por terra o
entusiasmo e a inspiração. O comedimento esvaiu-se, o excesso insurgiu-se.
Bem, como
este texto-desabafo e não trânsfuga não pretende versar sobre imposturas de uma
autoajuda, então, se me permitem, gostaria de falar um pouco sobre angústia.
Sim, a angústia que se me afronta quando ouço as tolas recomendações, quando
testemunho os sorrisos vagos de seres apascentados, quando constato a peregrina
vulgaridade. Torno-me presa de intensa aflição ao perceber a arte
amesquinhar-se, promiscuir-se, desconstruir-se; e tudo em nome de uma ruptura
conceitual necessária e indolente. Tudo desemboca no leviano, no sofrível, na
degenerescência. Mas o que ainda mais me apavora é o fato de não mais ser
surpreendido.
Acredito que
grande parte das pessoas desconhece o que seja sentir-se inútil. Como a
ignorância torna os seres humanos felizes! Como o banal oblitera o raciocínio e
obsta a sensibilidade humana! Em verdade eu os invejo. O quanto eu gostaria de
assimilar o inútil, o torpe, o obsceno, o infame,... Mas é tarde. Fiz oferendas
à Minerva; a Apolo ofereci libações de sangue; meu repasto está em Sofia. Então
se justifica meu desespero e meu clamor. Angústia é isso: é o viver uma vida que
se revela ácida, estreita, agônica em toda a sua extensão. O desespero é
despertar e perceber que se vive, muita embora não se possa chamar viver o que
há muito descaracterizou-se como vida.
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