quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Processo anticivilizador



Sabemos que o mundo ocidental tem como sustentáculo de sua civilização três pilares: a filosofia grega, o direito romano e a moral religiosa judaico-cristã. A filosofia grega seria a base para o conhecimento e para a ciência; o direito romano revelar-se-ia como fundamento à formação e solidez dos estados; a moral religiosa judaico-cristã, por sua vez, viria fornecer valores, harmonizando e servindo como supedâneo a toda e qualquer relação social.

Contudo, e longe de aqui propor inusitada teoria conspiratória, asseguro-vos que uma Nova Ordem Mundial tem como desiderato agredir, desacreditar, banalizar e extinguir estes pilares. Evidentemente que a referida ameaça não é algo que tenha surgido de hora para outra; é um processo que se arrasta desde o Iluminismo; é algo protocolar, que vem cumprindo etapas com bastante regularidade.

A Filosofia grega viu-se de início aviltada pelo positivismo de Comte. Dez anos depois um novo desafio teve lugar com o evolucionismo de Darwin. Herbert Spencer, lançando mão do legado de John Stuart Mill, retrabalhou o empirismo, o utilitarismo e liberalismo. Toda esta gama de informações e teorias forjou o inimigo maior da humanidade: Karl Marx. A filosofia perverteu-se, pois deixou de trabalhar ideias para elaborar ideologias. A filosofia foi atropelada pelo Círculo de Viena, pois este pleiteava fazer da filosofia uma ciência exata. A Escola de Frankfurt tentou associar Marx e a psicanálise de Sigmund Freud. Depois vieram os existencialistas ateus e a coisa degringolou de vez. O que temos hoje são temáticas sociais fastidiosas, trabalhadas por seguidores de Marx, que apelam em demasia para o emocional, até porque primam em vitimizar seus atores sociais.

E o direito romano? Bem, o direito romano não seguiu destino muito diferente. Inclusive, nos dias atuais, dificilmente encontra-se um curso de Direito que ofereça a citada disciplina, até porque já não há professores capazes de ministrá-la. A desculpa é que o latim é língua morta, como se o direito romano fosse refém do latim, se bem que os brocardos latinos mostram-se de suma importância para a assimilação de alguns conceitos. Do Corpus Jure Civilis nada ou pouca coisa restou. O Digesto presta-se apenas como saudosa referência nas conversas informais. O direito natural caiu em descrédito.  Diz-se que da escola histórica de Savigny ficou apenas o evidenciar de uma insegurança jurídica. Os pandectistas alemãs tentaram resgatar o direito romano, mas tornaram-se vítimas da mordacidade. Então surgiram os positivistas: Hans Kelsen e sua Teoria Pura inspirada em Immanuel kant. Nesta teoria, pelo menos, as leis ainda eram aplicadas, pois pautavam-se em juízos hipotéticos: se A acontece, então B é aplicado. Em seguida, no entanto, tiveram início os rudimentos de um certo messianismo jurídico, pois surge a teoria egológica do direito de autoria do argentino Carlos Cóssio. Esta tem como base juízos disjuntivos, ou seja, se acontece A, B poderá ou não ser aplicado, dependendo das condições sociais do infrator. E para finalizar, deparamo-nos com a Teoria Tridimensional do Direito, onde o fato é tratado pela sociologia, o valor pela filosofia e a norma pelo direito. Acontece que o magistrado, com base nessa sociologia chinfrim disseminada nos cursos superiores, ou melhor dizendo, em um repugnante sociologismo, faz uso de uma hermenêutica trôpega e espúria, eivada de interesses politiqueiros, haja vista nosso brilhante STF.

Quanto à moral religiosa judaico-cristã, pode-se atestar que vem sendo agredida por todos os meios e de maneira covarde. O que temos hodiernamente é a relativização de tudo: relativizou-se o certo e o errado, o justo e o injusto, o correto e o incorreto, o normal e o anormal, a moralidade e a imoralidade; relativizaram-se as relações, sejam elas sociais, profissionais, familiares; relativizou-se e, destarte, banalizou-se o amor, o companheirismo, a amizade, e até mesmo o sexo. Pautado em discurso pseudo científico, a “casta” que diz ser mais intelectualizada, não só coloca em cheque, mas ridiculariza qualquer abordagem de cunho religioso. Pretende-se afastar toda e qualquer orientação religiosa das escolas à guisa de que nossa Constituição declara o Estado Brasileiro como laico. Para melhor fundamentar meus argumentos, devo recordar que as igrejas, de um modo geral, e independente da orientação, quando se colocam contra os interesses da “casta” liberal de esquerda sofrem fortes retaliações. Quando a igreja colocou-se contra a liberação do uso de preservativos, os “paladinos” se fizeram de ofendidos; a igreja buscava apenas coibir a banalização do ato sexual. Quando, nos dias de hoje, a igreja mostra-se contrária ao aborto, outra vez é ridicularizada. O que os “gênios” liberais não conseguem, ou não querem entender, é que toda liberdade implica responsabilidade. Se há uma liberdade explícita para o sexo, a gravidez seria uma das consequências naturais. Então quando a gravidez for indesejada, apela-se para o aborto? Os valores, com isso, foram dizimados. O discurso das feministas é “meu corpo, minhas regras”. Só que, no aborto, a mulher não apenas agride o próprio corpo, ela ceifa uma vida ligada temporariamente a seu corpo, mas uma vida independente. Estamos diante do assassinato como recurso para livrar a responsabilidade dos que vivem de modo dissoluto. 
  
Tanto o comunismo quanto o liberalismo ateu trabalham em conjunto. Nossas escolas e universidades têm como prática lecionar e implementar o marxismo cultural, uma doutrinação, na verdade. O ódio é incutido através da propaganda onde se insuflam as lutas de classes, as diferenças raciais, e os preconceitos às minorias. Com isso cria-se uma geração revolucionária, parasitária, pois trata-se de uma geração de idiotas com bastante utilidade. A doutrinação do ódio serve também como instrumento de subversão ideológica, uma espécie de lavagem cerebral, método reconhecido pela psicologia para estabelecer bloqueio cognitivo. A mídia desempenha importante papel, pois mostra-se como agente de desinformação ou de má formação, na verdade, uma eficaz ferramenta de alienação. As instituições que primam por esse modelo (partidos políticos, imprensa, mídia, classe artística, etc.) exercem um ferrenho patrulhamento ideológico, inclusive não poupando recursos no sentido de perseguir seus opositores. A destruição da família torna-se imprescindível, e a defesa de tal propósito pauta-se meramente num preito à irracionalidade, pois que tudo manifesta ampla subversão ideológica. A criação e a exigência institucionalizada do politicamente correto vem dar a impressão de uma falsa igualdade a favor das minorias. Contudo, sabemos que é mero recurso sofístico, algo hipócrita e extremamente cínico, para melhor manipular as minorias que se dizem hostilizadas. Os constantes ataques à religião e à moral cristã, como expus acima, faz-se via livros, filmes, peças de teatro, exposições ditas artísticas, seriados, telenovelas, etc.

E vós, então, perguntais: Por que? Qual o objetivo de tal empreendimento? A finalidade é a desmoralização do mundo ocidental, criar caos social, originar crises institucionais das mais variadas formas, proporcionando meios para uma revolução de grande porte, e, ipso facto, um golpe. O processo anticivilizador prima pelo retorno ao estado de barbaria, pelo recrudescimento intelectual e moral, pelo atraso/retrocesso industrial, incapacitando o ser humano para uma convivência civil, pois que tais seres, com o passar do tempo olvidariam qualquer resquício de cortesia, polidez, honorabilidade, dignidade; enfim, qualquer laivo de humanidade.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Eu e o gênio



Gente, vós não ireis acreditar, ainda mais nestes tempos tão mesquinhos. Mas vagava eu errante por uma daquelas nababescas avenidas de Brasília, a remoer meu ressentimento com a corja que tomara o poder e se engolfara no crime, quando me deparei com uma lâmpada. Não, não era uma lâmpada de filamento, fluorescente ou de led, mas o artefato imortalizado por Aladin. Tão surpreso quanto apatetado, fiquei a mirar o pequeno objeto abandonado próximo ao jardim que ornava o calçamento. Peguei-a e, inexplicavelmente, busquei ocultá-la. Por quê? Simples, parece-me que, depois de adultos, sentimo-nos mal por ser supostamente flagrados em exibir um comportamento dito infantil. Mas como eu queria esfregar a lâmpada! Mantive-a sob o paletó e busquei apressar-me por chegar ao hotel no qual me hospedara.

Demorei-me no lobby o tempo necessário para pegar a chave; apressadamente embarquei no elevador e premi com alguma sofreguidão o botão correspondente ao andar. O elevador era lento, bem mais lento do que exigia minha expectativa. Enfim, a porta abriu-se e pude lançar-me no corredor. Adentrei o quarto, tranquei a porta e pus-me a fitar curiosamente o artefato. Depositei-o com cuidado sobre a escrivaninha e me afastei sem perdê-lo de vista. Tirei o paletó e o lancei à cama já amarfanhada, sentei-me na cadeira frontal ao bureau. Passados alguns minutos decidi satisfazer meu lúdico desejo: esfregar a lâmpada e esperar que dela saísse um gênio com aqueles trajos típicos dos indianos.

Peguei a lâmpada e com a palma da mão a esfreguei. Nada, repeti ainda uma vez com mais vigor; de novo nada. Por que a lâmpada falhava? Dispus-me então a friccionar repetidamente. Puf! Uma baforada enfumarada saiu do objeto. Eu o soltei apavorado. Daquela nuvem malcheirosa teve origem uma forma; e pasmem: humana! Todavia, o gênio, se é que posso assim chamá-lo, em nada se assemelhava àquela figura calva, de brincos, com um pequeno balde invertido na cabeça, desnudo na cintura para cima, calças largas e sapatos com as pontas recurvadas. Não, estava de terno e gravata; poder-se-ia dizer bem vestido. E ele não me era estranho. Sim, é isso, ele parecia muito com o ex-presidente da Câmara Federal, o Eduardo Cunha, só que com as atitudes pernósticas de um Marco Aurélio Mello e a arrogância de um Renan Calheiros.

Abaixou levemente o tronco, agradeceu-me por tê-lo libertado daquele compartimento tão exíguo, não sem deixar de fazer um comentário bem elucidativo: “A Papuda é mais confortável”. Não pude evitar o riso. Então o gênio espreguiçou-se e proferiu a sentença que há muito eu aguardava. “Faça-me três pedidos para que eu possa satisfazê-lo, meu senhor”. Neste instante, eu estava a passear entre o cômico e o inacreditável. Pois bem, sem perda de tempo, haja vista as dificuldades de sempre e de todos, proferi meu primeiro pedido: “Quero ficar rico”. Com o olhar matreiro de quem mascara uma irrisão, o gênio assentiu com a cabeça e sussurrou: “Assim será feito”. Dito isto, pancadas na porta do quarto arrancaram-me daquele alheamento. Afastei-me indeciso da lâmpada e do gênio. Abri a porta do quarto e deparo-me com Rodrigo Rocha Loures. Apressadamente e a olhar para os lados ele entregou-me uma mala e falou bem baixinho: “Joesley mandou-me entregar-te; toda semana receberás uma destas”. Virou sobre os calcanhares e sumiu pela escada de emergência. Curioso, abri a tal mala. Deparei-me com 500 mil reais. O gênio então troçou: “Satisfeito, senhor? Fazei o segundo pedido”.

Entusiasmado com a mala repleta de dinheiro, dei azo a meus delírios e sonhos de grandeza: “Eu gostaria de ser famoso”. O gênio então deu de ombros e virou-se de costas. Como por encanto, eu já não mais estava em meu quarto de hotel, mas vi-me como réu a prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro. A meu lado, reconheci o meu gênio, que ora atuava como meu advogado. Ele orientou-me a dizer nada e propôs uma delação premiada. O Ministro Edson Fachin protocolou minha delação, com a anuência da Procuradora Raquel Dodge da PGR. Como eu era réu primário, tinha residência fixa, trabalho estável e nenhum dinheiro para fugir do país, permitiram-me responder em liberdade, desde que a fazer uso, evidentemente, de uma tornozeleira eletrônica. De volta ao hotel, reclamei com o gênio por ter-me colocado naquela situação embaraçosa, ao que ele respondeu: “Ora, quiseste ter fama; assim o fiz. Os mais famosos neste país são justamente aqueles que são réus e fazem delação premiada. Não é preciso provar nada; basta incriminares outros”. Passei ainda um tempo ruminando as palavras daquele gênio bastardo e terminei por dar a ele razão.

Meu terceiro e último pedido foi: “Gostaria de ser muito poderoso”. O gênio então respondeu antes de desaparecer: “Que assim seja!” No mesmo instante vi-me de beca negra a participar de uma seção no Supremo Tribunal Federal. Mas como? São apenas 11 magistrados. Corri os olhos pelos meus “colegas” e percebi que o ministro Celso de Mello estava ausente. “Bem, então agora eu era ministro do STF?!” Pensei de mim para comigo. E a seção transcorreu como sempre entediante. Ao dar o meu voto, olhei desafiador para a carranca ignominiosa de Gilmar Mendes, debochei do gongorismo retórico de Marco Aurélio Mello, encarei aquele tribufu que se diz muito sabido chamado Ricardo Lewandowski, tripudiei da boçalidade e pusilanimidade de Dias Toffoli, lamentei o moleirão e oportunista Alexandre de Moraes e não pude deixar de observar o despreparo e limitação da presidente Carmem Lúcia. Enfim, acompanhei o voto do relator.

O nume, eu o vi ainda algumas vezes aboletado no plenário da Corte; ele ministrava aulas presenciais de Teologia para todos aqueles que pleiteavam uma redução de pena. Mas, de fato, o gênio estava agora interessado em artes. Não, ele não tinha talento algum, mas queria ser um empreendedor e tornar-se agenciador de novos talentos musicais da MPB; ele buscava uma nova Anita, um outro Nego do Boreu, quem sabe outro Pablo Vitar ou uma nova dupla sertaneja especializada em sofrência.