Gente,
vós não ireis acreditar, ainda mais nestes tempos tão mesquinhos. Mas vagava eu
errante por uma daquelas nababescas avenidas de Brasília, a remoer meu
ressentimento com a corja que tomara o poder e se engolfara no crime, quando me
deparei com uma lâmpada. Não, não era uma lâmpada de filamento, fluorescente ou
de led, mas o artefato imortalizado por Aladin. Tão surpreso quanto apatetado,
fiquei a mirar o pequeno objeto abandonado próximo ao jardim que ornava o
calçamento. Peguei-a e, inexplicavelmente, busquei ocultá-la. Por quê? Simples,
parece-me que, depois de adultos, sentimo-nos mal por ser supostamente
flagrados em exibir um comportamento dito infantil. Mas como eu queria esfregar
a lâmpada! Mantive-a sob o paletó e busquei apressar-me por chegar ao hotel no
qual me hospedara.
Demorei-me
no lobby o tempo necessário para pegar a chave; apressadamente embarquei no
elevador e premi com alguma sofreguidão o botão correspondente ao andar. O
elevador era lento, bem mais lento do que exigia minha expectativa. Enfim, a
porta abriu-se e pude lançar-me no corredor. Adentrei o quarto, tranquei a
porta e pus-me a fitar curiosamente o artefato. Depositei-o com cuidado sobre a
escrivaninha e me afastei sem perdê-lo de vista. Tirei o paletó e o lancei à
cama já amarfanhada, sentei-me na cadeira frontal ao bureau. Passados alguns
minutos decidi satisfazer meu lúdico desejo: esfregar a lâmpada e esperar que
dela saísse um gênio com aqueles trajos típicos dos indianos.
Peguei
a lâmpada e com a palma da mão a esfreguei. Nada, repeti ainda uma vez com mais
vigor; de novo nada. Por que a lâmpada falhava? Dispus-me então a friccionar
repetidamente. Puf! Uma baforada enfumarada saiu do objeto. Eu o soltei
apavorado. Daquela nuvem malcheirosa teve origem uma forma; e pasmem: humana!
Todavia, o gênio, se é que posso assim chamá-lo, em nada se assemelhava àquela
figura calva, de brincos, com um pequeno balde invertido na cabeça, desnudo na
cintura para cima, calças largas e sapatos com as pontas recurvadas. Não,
estava de terno e gravata; poder-se-ia dizer bem vestido. E ele não me era
estranho. Sim, é isso, ele parecia muito com o ex-presidente da Câmara Federal,
o Eduardo Cunha, só que com as atitudes pernósticas de um Marco Aurélio Mello e
a arrogância de um Renan Calheiros.
Abaixou
levemente o tronco, agradeceu-me por tê-lo libertado daquele compartimento tão
exíguo, não sem deixar de fazer um comentário bem elucidativo: “A Papuda é mais
confortável”. Não pude evitar o riso. Então o gênio espreguiçou-se e proferiu a
sentença que há muito eu aguardava. “Faça-me três pedidos para que eu possa
satisfazê-lo, meu senhor”. Neste instante, eu estava a passear entre o cômico e
o inacreditável. Pois bem, sem perda de tempo, haja vista as dificuldades de
sempre e de todos, proferi meu primeiro pedido: “Quero ficar rico”. Com o olhar
matreiro de quem mascara uma irrisão, o gênio assentiu com a cabeça e
sussurrou: “Assim será feito”. Dito isto, pancadas na porta do quarto
arrancaram-me daquele alheamento. Afastei-me indeciso da lâmpada e do gênio.
Abri a porta do quarto e deparo-me com Rodrigo Rocha Loures. Apressadamente e a
olhar para os lados ele entregou-me uma mala e falou bem baixinho: “Joesley
mandou-me entregar-te; toda semana receberás uma destas”. Virou sobre os
calcanhares e sumiu pela escada de emergência. Curioso, abri a tal mala.
Deparei-me com 500 mil reais. O gênio então troçou: “Satisfeito, senhor? Fazei
o segundo pedido”.
Entusiasmado
com a mala repleta de dinheiro, dei azo a meus delírios e sonhos de grandeza:
“Eu gostaria de ser famoso”. O gênio então deu de ombros e virou-se de costas. Como
por encanto, eu já não mais estava em meu quarto de hotel, mas vi-me como réu a
prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro. A meu lado, reconheci o meu gênio, que
ora atuava como meu advogado. Ele orientou-me a dizer nada e propôs uma delação
premiada. O Ministro Edson Fachin protocolou minha delação, com a anuência da
Procuradora Raquel Dodge da PGR. Como eu era réu primário, tinha residência
fixa, trabalho estável e nenhum dinheiro para fugir do país, permitiram-me
responder em liberdade, desde que a fazer uso, evidentemente, de uma
tornozeleira eletrônica. De volta ao hotel, reclamei com o gênio por ter-me
colocado naquela situação embaraçosa, ao que ele respondeu: “Ora, quiseste ter
fama; assim o fiz. Os mais famosos neste país são justamente aqueles que são
réus e fazem delação premiada. Não é preciso provar nada; basta incriminares
outros”. Passei ainda um tempo ruminando as palavras daquele gênio bastardo e
terminei por dar a ele razão.
Meu
terceiro e último pedido foi: “Gostaria de ser muito poderoso”. O gênio então
respondeu antes de desaparecer: “Que assim seja!” No mesmo instante vi-me de
beca negra a participar de uma seção no Supremo Tribunal Federal. Mas como? São
apenas 11 magistrados. Corri os olhos pelos meus “colegas” e percebi que o
ministro Celso de Mello estava ausente. “Bem, então agora eu era ministro do
STF?!” Pensei de mim para comigo. E a seção transcorreu como sempre entediante.
Ao dar o meu voto, olhei desafiador para a carranca ignominiosa de Gilmar
Mendes, debochei do gongorismo retórico de Marco Aurélio Mello, encarei aquele
tribufu que se diz muito sabido chamado Ricardo Lewandowski, tripudiei da
boçalidade e pusilanimidade de Dias Toffoli, lamentei o moleirão e oportunista
Alexandre de Moraes e não pude deixar de observar o despreparo e limitação da
presidente Carmem Lúcia. Enfim, acompanhei o voto do relator.
O nume,
eu o vi ainda algumas vezes aboletado no plenário da Corte; ele ministrava
aulas presenciais de Teologia para todos aqueles que pleiteavam uma redução de pena.
Mas, de fato, o gênio estava agora interessado em artes. Não, ele não tinha
talento algum, mas queria ser um empreendedor e tornar-se agenciador de novos
talentos musicais da MPB; ele buscava uma nova Anita, um outro Nego do Boreu, quem
sabe outro Pablo Vitar ou uma nova dupla sertaneja especializada em sofrência.
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