sábado, 22 de abril de 2023

Curricula Vitae

  

Percurso de vida, eis nosso apogeu! O melhor de nós? Deveras? Não o saberia dizer. Poderíamos resumi-lo a dados bibliográficos, formações, conhecimentos e percursos profissionais?  Creio que não. A coisa vai um pouco mais além. Há um outro viver, um currículo oculto, algo que optamos por sonegar, disfarçar... Não, não me reporto a detalhes técnicos tornados despercebidos; nada das dissimulações tão pertinentes ao fazer humano; falo no cerne da vivência que alicerça os currículos.

Soren Kierkegaarde, filósofo dinamarquês, fala-nos acerca do desespero humano, algo como a essência de todo viver. Sim, uma doença mortal; não por causar a morte, mas por mostrar-se ad aeternum. E a dita doença pode ser percebida em todo currículo de modos distintos: alguém que não quer ser o que de fato é; aquele que quer ser o que não é. Importante: o simples fato de aceitar-se como é também insere-se na sintomatologia.

Bem, salvo melhor juízo, parece-me que os profissionais de RH, encarregados de realizar entrevistas e analisar currículos, fazem “vista grossa” para o desespero humano que fundamenta tais documentos. O não querer perceber os sintomas acima descritos mostra-se como algo prático, bem-vindo. Por que não ficar sob a égide de uma fingida ignorância? Todo esforço por desconhecer a doença desespero tem lá seu mérito, ou seja, o profissional de RH não pode ser responsabilizado.

Enfim, o que temos de concreto, de verdadeiro, em nosso Curricula Vitae? A mesma hipocrisia que fundamenta as sociedades, que trama relações, que permeia nossa existência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário