Percurso de vida, eis nosso apogeu! O
melhor de nós? Deveras? Não o saberia dizer. Poderíamos resumi-lo a dados
bibliográficos, formações, conhecimentos e percursos profissionais? Creio que não. A coisa vai um pouco mais
além. Há um outro viver, um currículo oculto, algo que optamos por sonegar,
disfarçar... Não, não me reporto a detalhes técnicos tornados despercebidos; nada
das dissimulações tão pertinentes ao fazer humano; falo no cerne da vivência
que alicerça os currículos.
Soren Kierkegaarde, filósofo
dinamarquês, fala-nos acerca do desespero humano, algo como a essência de todo
viver. Sim, uma doença mortal; não por causar a morte, mas por mostrar-se ad aeternum. E a dita doença pode ser
percebida em todo currículo de modos distintos: alguém que não quer ser o que
de fato é; aquele que quer ser o que não é. Importante: o simples fato de
aceitar-se como é também insere-se na sintomatologia.
Bem, salvo melhor juízo, parece-me que
os profissionais de RH, encarregados de realizar entrevistas e analisar
currículos, fazem “vista grossa” para o desespero humano que fundamenta tais
documentos. O não querer perceber os sintomas acima descritos mostra-se como
algo prático, bem-vindo. Por que não ficar sob a égide de uma fingida
ignorância? Todo esforço por desconhecer a doença desespero tem lá seu mérito,
ou seja, o profissional de RH não pode ser responsabilizado.
Enfim, o que temos de concreto, de
verdadeiro, em nosso Curricula Vitae?
A mesma hipocrisia que fundamenta as sociedades, que trama relações, que permeia
nossa existência.
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