sábado, 17 de fevereiro de 2024

Eu no universo kafkiano

 

E tudo teve início com uma das minhas postagens - mesmo que não muito afeito às redes sociais - na qual dispus-me discorrer, de modo superficial, diga-se de passagem, acerca da atitude não tomada por certo chefe do executivo. Pasmai, mas invocar o artigo 142 da nossa Constituição Federal revelou-se-me como crime, um golpe contra a democracia. Indiferentemente se com os poderes constitucionais à deriva; mesmo que a lei e a ordem estejam à mercê de baderneiros. Ora, então, por ilação, posso entender que nossa Constituição Federal possui certo dispositivo que pode proporcionar um golpe de Estado, de modo a afrontar, assim, a democracia que intenta defender. Em resumo: ao se invocar a Constituição estar-se-ia colocando contra a mesma; seria inconstitucional invocar a Constituição. Bem, deve ser por isso que o Supremo Tribunal Federal a agride diariamente. Talvez seja esse - aqui especulo - o resultado das indicações para os cargos de ministros da Suprema Corte (a quase totalidade deles sequer foram juízes), mas que se colocam sob a égide de um pretenso “notável saber jurídico”.

Pois bem, depois da citada postagem minha vida mudou; e não foi para melhor. Pontualmente, às 06:30 horas de uma manhã sonolenta, a Polícia Federal, ou melhor, a milícia particular do STF, chegou à minha casa. Bateram à porta, forçaram-na, arrombaram-na. Armas na mão: uns doces de pessoas. Exibiram meu mandado de prisão. Eu não resisti nem tentei fugir, mas fui algemado. Crime? Até hoje não sei. Fake News? Atentado contra a democracia? Terrorismo? Definitivamente não! Talvez por não me ter vacinado... O fato é que reviraram minha casa para cumprir mandado de busca e apreensão. O que levaram? Pasmai: um computador HP com mais de 20 anos (o qual ainda exibe com orgulho um Windows 7), meu nada sofisticado telefone celular, um boné novinho com o símbolo da cachaça Pitú, meu passaporte, um canivete suíço (arma branca?), uma máquina fotográfica Nikon e uma caixa de pomada Proctan do primo de um amigo.

Levaram-me para exame de corpo delito e depois para uma cela no prédio da Polícia Federal. Não pude contatar um advogado, mas alguns “causídicos” apareceram do nada a assediar-me psicologicamente; pediam algo em torno de 30 mil reais para pegarem meu caso. Cá entre nós, mesmo que vendesse meu carro velho não conseguiria a metade da quantia. Parece-me que somente os tais “advogados paladinos” conheciam minha acusação. Tive quebrados meus sigilos bancário e telefônico. O que descobriram? O que eu tentava esconder da família: que havia atrasado o pagamento do cartão de crédito e que minha aposentadoria não passa de um salário mínimo. Audiência de custódia! Fora preso em flagrante? Qual teria sido meu crime?  Todavia, minha prisão tornou-se preventiva. E lá fiquei por uns 40 dias: a comer mal, dormir pior ainda e com direito a apenas 20 minutos de banho de Sol por dia. Até que do nada, numa preguiçosa segunda-feira, colocaram-me uma fashion tornozeleira eletrônica e mandaram-me de volta para casa.

Bem, estou a aguardar julgamento. Continuo desconhecendo a acusação. Sei que meu processo corre em segredo de justiça. Acesso aos autos? Nem pensar! Muito embora sem foro privilegiado, serei julgado pelos ministros do STF. Quanta honra! Serei condenado? Certamente; não porque eu seja culpado, mas por saberem-me bem melhor do que eles. Eis o que se esconde por trás do discurso democrático!             

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