Sim, eu queria parecer bem vestido, elegante (naquela época, é claro). Como fazer? Além da calça boca de sino e sapato com salto, vali-me da camisa social do meu pai, usada com mangas arregaçadas a sugerir descontração. Saí quase que furtivo, ainda que vigiado, e só retornei depois das onze da noite. Pela manhã, minha mãe obrigou-me a lavar a camisa, pois meu pai precisaria da mesma. E assim fiz. Devo lembrar-vos que, à época, máquina de lavar era coisa rara. Lavei, esfreguei e enxaguei a bendita. Minha mãe exigiu que torcesse bem a peça para pendurá-la no varal. Torci tanto que acabei por arrancar a gola. Adjetivos qualificativos serviram de trilha sonora para os tapas que levei. Não, nada de traumas, apenas uma divertida saudade e admiração por meus pais.