terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Episódio adolescente

 

Sim, eu queria parecer bem vestido, elegante (naquela época, é claro). Como fazer? Além da calça boca de sino e sapato com salto, vali-me da camisa social do meu pai, usada com mangas arregaçadas a sugerir descontração. Saí quase que furtivo, ainda que vigiado, e só retornei depois das onze da noite. Pela manhã, minha mãe obrigou-me a lavar a camisa, pois meu pai precisaria da mesma. E assim fiz. Devo lembrar-vos que, à época, máquina de lavar era coisa rara. Lavei, esfreguei e enxaguei a bendita. Minha mãe exigiu que torcesse bem a peça para pendurá-la no varal. Torci tanto que acabei por arrancar a gola. Adjetivos qualificativos serviram de trilha sonora para os tapas que levei. Não, nada de traumas, apenas uma divertida saudade e admiração por meus pais.

Uma mensagem de Natal

 

A Felicidade é circunstancial. Logo, criemos circunstâncias para sentirmo-nos felizes. Como? Perguntar-me-eis. Simples: amando! “O amor destina-se a pessoas; é uma vontade constante; tem como alvo a promoção do outro; eleva o fim pessoal do outro e faz dele parte de si mesmo”. Amar é devoção. “Devoção que surge do ego em outro, para permear, encher, abençoar esse outro consigo mesmo”. “Amai o próximo como a si mesmo”. O Amor identifica algo de si no outro. Quando amamos, buscamos preservar no outro algo de nós mesmos. Essa preservação é a circunstância que proporciona Felicidade.

Sede felizes!

Um outro mundo

 

É algo bem próximo do abandonar o magistério para tornar-se bedel. Imaginai: os “democratas” proibiram-me de comemorar, ou seja, estou impedido de recordar, de trazer à memória o que me soa importante. Em busca de uma metáfora, descubro que a democracia no Brasil é similar ao querer fazer-se frajola, trajando o clássico “exame de fezes”, embora preocupado em não amarrotar a calça de tergal. 

Inominado

 

E teve lugar o som; sim, era quarta ou quinta-feira, um mês qualquer de um ano bissexto. O primeiro ruído? O estrondo advindo do trovão que teima em acompanhar relâmpagos. Os gatos que dormiam distantes, os morcegos enfurnados em cavernas e os golfinhos imersos no fundo do mar foram os mais afetados, afinal o som precisava ser ouvido por tudo e todos, apesar da abundância de surdos. Então surgiram o pipilar, o coaxar, o silvo, o rinchar, o assobio, o ronco, o berro, o cantar, o bulício, o estrépito, o alvoroço, a gritaria, o etc. Forma de comunicação? Sei lá! Aí alguém descobriu que os sons emitem frequência e inventou o Hertz, o CPS. Um outro mais incomodado inventou o decibel. E a bagunça estava formada. Mas a natureza também nos disponibilizara um Lá natural (440 Hz). Muito embora a música tenha surgido há 35 mil anos com a invenção da flauta de osso, Pitágoras, através da matemática, revelou-nos a escala musical. Desse modo, conhecemos a harmonia, o alento, o agradável da natureza, mas...

Hoje a música é tumulto, é estardalhaço, é desarmonia, é agressividade. Parece-me que o ser humano deleita-se com o inominado.