Facundo acordou bem cedo e deu início a seus
afazeres. Ainda em casa ouviu o primeiro Bom Dia! Perguntou-se: Este seria
mesmo um Bom Dia? Ao descer pelo elevador do prédio onde morava ainda ouviu
dois ou mais sonoros Bom Dia! O porteiro também lhe dirigiu um Bom Dia! Na rua,
no transporte, no trabalho também não lhe faltaram o tal Bom Dia!
Mas o que é afinal o Bom Dia? Pensou de si
para consigo. Um desejo? Uma constatação? Afirmação? Saudação? Formalidade?
Mera Educação? Ironia? Facundo também observou que tal fenômeno estendia-se a
muitas outras palavras, ou expressões, locuções. Pareceu-lhe, então, que a
expressão estaria vinculada à conotação, isto é, algo associado à subjetividade,
à cultura ou ao estado emocional. Enfim, a conotação transcende o significado
literal das palavras - sua denotação - e assimila sentidos outros diferentes
daquele empregado. Portanto, nem toda palavra - grande parte, na verdade - estaria
associada à ideia.
Ainda perplexo, entendera que a comunicação
se dava por metáforas, pois que as narrativas se valiam de comparações para
evocar outras realidades. Abatido, Facundo concluiu que a comunicação era uma
farsa, um embuste, uma grande comédia. As relações estavam comprometidas, os
sentimentos estavam neutralizados, a verdade se fora, a certeza se esvaíra.
Tristemente Facundo pensou nos advogados, nos políticos, nos oradores, nos
pregadores, nos vendedores. Por fim pensou em Éolo, pois afinal, o vento é quem
conduzia as palavras. Enfim, flatus voices.
Mas por que os homens falam? A comunicação
oral é, de fato, necessária? Seria uma exigência social como tantas outras?
Facundo, então, entendeu que a comunicação saudável, indubitável, incorrigível,
irrepreensível, aquela que carece de interpretação, só seria possível entre
seres que não apresentassem sentimentos, que estivessem distante de modelos e padrões
comportamentais, que não buscassem ir além de si mesmos, que não desejassem senão o
que a vida lhes proporciona. A verdadeira comunicação estaria restrita ao pensar; seria um em si e para si. Nada mais!
Facundo recordou-se de Luigi Pirandello: "Tem ideia de quanto mal nos fazemos
por essa maldita necessidade de falar?" Fez
uma sincera e comovida prece à ninfa Eco e nunca mais proferiu uma sílaba
sequer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário