segunda-feira, 1 de abril de 2013

Palavras!


Facundo acordou bem cedo e deu início a seus afazeres. Ainda em casa ouviu o primeiro Bom Dia! Perguntou-se: Este seria mesmo um Bom Dia? Ao descer pelo elevador do prédio onde morava ainda ouviu dois ou mais sonoros Bom Dia! O porteiro também lhe dirigiu um Bom Dia! Na rua, no transporte, no trabalho também não lhe faltaram o tal Bom Dia!

Mas o que é afinal o Bom Dia? Pensou de si para consigo. Um desejo? Uma constatação? Afirmação? Saudação? Formalidade? Mera Educação? Ironia? Facundo também observou que tal fenômeno estendia-se a muitas outras palavras, ou expressões, locuções. Pareceu-lhe, então, que a expressão estaria vinculada à conotação, isto é, algo associado à subjetividade, à cultura ou ao estado emocional. Enfim, a conotação transcende o significado literal das palavras - sua denotação - e assimila sentidos outros diferentes daquele empregado. Portanto, nem toda palavra - grande parte, na verdade - estaria associada à ideia.

Ainda perplexo, entendera que a comunicação se dava por metáforas, pois que as narrativas se valiam de comparações para evocar outras realidades. Abatido, Facundo concluiu que a comunicação era uma farsa, um embuste, uma grande comédia. As relações estavam comprometidas, os sentimentos estavam neutralizados, a verdade se fora, a certeza se esvaíra. Tristemente Facundo pensou nos advogados, nos políticos, nos oradores, nos pregadores, nos vendedores. Por fim pensou em Éolo, pois afinal, o vento é quem conduzia as palavras. Enfim, flatus voices.

Mas por que os homens falam? A comunicação oral é, de fato, necessária? Seria uma exigência social como tantas outras? Facundo, então, entendeu que a comunicação saudável, indubitável, incorrigível, irrepreensível, aquela que carece de interpretação, só seria possível entre seres que não apresentassem sentimentos, que estivessem distante de modelos e padrões comportamentais, que não buscassem ir além de si mesmos, que não desejassem senão o que a vida lhes proporciona. A verdadeira comunicação estaria restrita ao pensar; seria um em si e para si. Nada mais!

Facundo recordou-se de Luigi Pirandello: "Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?" Fez uma sincera e comovida prece à ninfa Eco e nunca mais proferiu uma sílaba sequer.

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