Com certa constância surgem
rumores de um iminente apocalipse; são as mais diversas interpretações que se
apegam a possíveis revelações teleológicas, apoiadas não raramente em premissas
teológicas, e que soem provocar as mais díspares reações nos seres ditos
racionais.
Minha interpretação - e aqui
me permito fazê-la, haja vista a quantidade de exegeses apresentadas - pauta-se
não em documentos, mas sim em lucubrações insensatas, posto que toda especulação
tem como ponto de partida a insensatez. Todavia, minha lúdica e inconsequente
interpretação é de um fim do mundo, e não do mundo mesmo. Se me voltasse ao
mundo em si, estaria incorrendo nos topos erráticos das ciências sociais, isto
é: a filosofia tenta entender o mundo, a sociologia quer explicar o mundo, a
psicologia quer justificar o mundo. E assim por diante.
De volta ao assunto: O mundo
já acabou, ou melhor, o mundo acaba diariamente. O mundo acaba para aqueles que
dele se apartam, seja pela morte ou pela descrença, seja pela alienação ou pela
revolta. O mundo desfaz-se pelo cismar constante dos que sobre ele se debruçam
e tentam esquadrinhá-lo. O mundo é essa alucinação organizada, um caos
sistematizado, irreversível e recalcitrante. Ao nos confrontarmos com o
dissimulado caos e com suas características de irreversibilidade e
recalcitrância expondo-o, ele desfaz-se, desconstrói-se, rui, evola-se,
furta-se.
E quando o ser humano acaba
para o mundo? Quando ele abandona a condição de ser no mundo; quando do mundo
se retira, se extrai. A possibilidade única de viver no mundo é pela total
disponibilidade; é disponibilizar-se de si, e, portanto, entender o mundo como
indisponível. O mundo para estes não tem existência de fato.
O mundo tem e terá existência
eterna somente enquanto fabulação, enquanto expectativa de melhora. Seres que
optam por estar e partilhar da existência mundanal tornar-se-ão eternos, tanto
quanto o mundo que veneram. Para estes, a ausência material do mundo - o objeto
a ser adorado - se lhes assemelha à morte; nesse caso, o fim do mundo. O mundo,
contudo, pode até transformar-se, mas seu fim está longe e distante de um
peremptório apocalipse.
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