sexta-feira, 10 de maio de 2013

Utilidade da filosofia ou filosofia da utilidade?



Não raramente, pessoas - prefiro falar em incautos - perguntam a si mesmos e a outros pela utilidade da filosofia. Parece-me que o equívoco advém de outro equívoco: entender a filosofia como ciência prática ou exata, isto é, algo que proporcione um resultado tangível. Neste caso, as pessoas, de fato, não buscam uma utilidade para a filosofia, mas sim uma filosofia da utilidade. Lamentavelmente, a filosofia não se propõe a semelhante desideratum.

Outra questão, então, nos é colocada: Para que filosofia? Eu poderia discorrer exaustivamente acerca da mentalidade cartesiana que nos foi infundida; poderia também demonstrar que o cientificismo busca em tudo resultados práticos. No entanto, a coisa poderia parecer retórica, pois os questionadores, exatamente por seus questionamentos, já demonstram uma total insipiência a partir do próprio questionar.

Mas não nos calemos; não façamos ouvidos de mercador; não tentemos nos encerrar numa pseudo sabedoria, olvidando com desfaçatez e desprezo as lacunas de um desconhecimento ingênuo. A filosofia mesma condenaria tal expediente. Ora, a filosofia, diferentemente das ciências e técnicas, não forma profissionais. Filósofo profissional? Não! A filosofia, simplesmente, incita ao pensar, induz ao questionar racional. E então se revela uma primeira dificuldade aos neófitos: como ensinar a pensar alguém que já pensa? Mas a filosofia não ensina ninguém a pensar, apenas os estimula a fazê-lo, mas só que com o vigor de uma exigência lógica.

Não obstante, a filosofia necessita de algo extrínseco, isto é, algo presente naquele (a) (s) que a ela se propõe dedicar, e não em si mesma. A filosofia, já que não busca resultados práticos, pode manifestar-se como saber inócuo para uma grande maioria. Por quê? - insistiriam os leitores. Ora, o saber, que a princípio mostra-se como inócuo, assim parece aos inocentes por conta da própria inocência. A inocência não demonstra a inquietação necessária ao estudo filosófico. Candura e simplicidade vestais prescindem do saber filosófico. Aliado a isso, faz-se mister a experiência. Não a mera experiência de um fazer repetitivo, mas de um vivenciar - erleben - ter consciência do vivido. O simples viver não satisfaz à exigência filosófica. Ora, a vivência mesma está vinculada ao tempo vivido. Portanto, a filosofia não se mostra como fundamento ao pensar, quando afastada da vivência dos que a ela se dedicam.

Outro esclarecimento: Não se ensina a filosofar, mas sim a se utilizar de pressupostos filosóficos para estruturar o pensamento. O que se pode aprender então? Uma história da filosofia, em todo o seu evoluir conceitual, em todo o seu aparato lógico formal. A filosofia fornece ferramentas que auxiliam o pensar, mas tal aproveitamento só se verificaria quando no abandono da ingenuidade. Aí sim, o genuíno aflora despido de pré-conceitos e preconceitos; o banal se esvai, a maturidade irrompe e desilude. Logo, não há uma ilusão na filosofia, pois que a filosofia mesma prima pela desilusão; não há uma miséria da filosofia, pois que a indigência e as imperfeições humanas é que buscam sofregamente por seu consolo, refúgio e conforto.

Contudo, não nos furtemos a disseminar o estudo da filosofia, apesar de todos os percalços que possam existir. Não façamos da filosofia um troféu inatingível, uma instância destinada a gerontes. A insipiência, assim queremos crer, é efêmera; o desconhecimento é uma fase do desenvolvimento humano; a juventude é o que sempre foi: rebelde, um tanto inconsequente, imediatista e com a libido exacerbada. Falta-nos, assim me parece, um pouco de persuasão e método para lidar com essa recém-nata imprudentocracia, que persegue uma filosofia da utilidade.

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