domingo, 22 de abril de 2018


“Barbarus hic ego sum, quia non intelligor ulli”.[1]
Ovídio

Não são raras às vezes em que alguma máxima, entendida aqui como dito sentencioso, se nos apresenta com impressionante atualidade. Estaríamos, de fato, sujeito ao “eterno retorno do mesmo”? Não obstante, a atualidade do dito parece pervadir um pessoal dia-a-dia. Certamente estais a vos perguntar: Mas o que se pode, neste caso, entender por bárbaro? Por certo não me reporto à incivilidade, nem à selvageria. O que me ocorre, de momento, é que a ausência de valores pode lançar qualquer sociedade na barbárie. Ora, mas em uma sociedade bárbara, neste caso carente de valores, o barbarismo é considerado algo natural. Portanto, bárbaros seriam aqueles que distam patentemente dos desvalores - ou falta deles - contemplados por tal ou tais sociedades. Interessante é que a máxima de Ovídio refere-se pontualmente a questão da linguagem, que quando não partilhada impede a comunicação. Ora, um fosso valorativo, ou seja, uma discrepante diferença entre valores também é impeditiva à comunicação.
E as dificuldades têm início no seio da família. Os jovens, os filhos, optam, assimilam e, ipso facto, defendem novos valores. Até aí, as coisas se mostram como naturais. No entanto, na pós-modernidade, esses novos valores demonstram certa contradição, isto é, ausência de valores, pois que no afã de se imporem, os valores mesmos olvidam a liberdade do próximo; querem experimentar uma liberdade libertária; exigem dos mais velhos - aqueles por quem foram criados e que lhes forneceu outros valores, ou seja, os fundamentos - uma total aceitação aos novos paradigmas; exigem total ruptura com o que lhes parece arcaico ou démodé. Esquecem, porém que - e aqui apoio-me em Hannah Arendt - constantes rupturas criam lacunas insuperáveis. Os novos valores da juventude se revelam como antidialéticos, o que polariza as relações e torna a convivência insuportável. Aqui, então, sinto-me um bárbaro.
Na sociedade não é diferente. A sociedade apenas é o reflexo das relações oriundas da vida em família. Aristóteles exemplifica semelhante tese ao demonstrar como as formas de governo tem origem no seio familiar. E os valores sociais nada mais são do que a repetição dos novos valores assimilados pelos jovens e respectivas famílias. Sim, porque as famílias - em nome de uma imposta correção de rumos, sujeitas aos mais toscos e tendenciosos discursos, discursos estes apoiados por pseudociências e potencializados por ideologias vãs - fizeram-se submissas, servis.
Como a sociedade reflete a crise nos valores familiares, epifenômenos podem ser identificados, seja na educação, na política, nas relações e nas artes de um modo geral. Observa-se também crises institucionais de grande monta. A sociedade, mesmo adoentada, quer dizer-se democrática, pois o discurso dito democrático serve como afago e justifica a perpetuação do desregramento. Tal sociedade mostra-se insensível e a insensibilidade torna-se patente com o desrespeito ao cidadão, com o descaso às instituições. Então estamos diante da personificação do pífio, porque lidamos não com a democracia mesma, mas com uma democracia totalitária. E todo aquele que não compactua com esses desvalores, a sociedade o vê como bárbaro.



[1] Aqui eu sou bárbaro, porque não compreendido por qualquer pessoa.

Um comentário:

  1. Como vivemos a era da idiotia demagógica de esquerda e dos seus movimentos sociais totalitários, intolerantes e profundamente equivocados, faço aqui agora o uso do seu frequente chavão, refiro-me aos esquerdopatas, para prestar solidariedade ao emérito autor desse texto, pois me senti representado nele e portanto "Somos todos Bárbaros".

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