domingo, 6 de dezembro de 2020

Oikos


Há lembranças, algumas evidentemente, que se nos revelam agradáveis e são sempre benvindas. Exemplo disso é o personagem alienígena do Filme ET, dirigido por Steven Spielberg. Em determinada cena, o extraterrestre aponta seu longo dedo para um lugar qualquer do universo e pronuncia: “Casa minha”. Não só a cena, mas a frase fez-se antológica. Debruço-me, então, sobre a frase. A casa em questão refere-se a seu mundo, à sua pátria. Alienígenas estimariam, de fato, suas casas?

Ponho-me a pensar em minha casa: grande, algo soberba, confortável, se bem que... Sim, os sintomas da velhice estão patentes: goteiras, quando na temporada chuvosa, transformam-me num Gene Kelly; eu apenas solfejo a meia voz algo parecido com Singing in the Rain. Paredes um tanto amarelecidas que exibem cópias ou obras de arte. Alguns portais, poucos na verdade, receberam a visita de térmites (este substantivo é um eufemismo para evitar-se o cupim). Torneiras e chuveiros gotejam, talvez para marcarem o compasso do estridular de grilos. É minha casa, minha realização, adquirida com determinação...

Pensando bem, não é só minha casa; é também meu lar. Sim, este local está repleto de emoções, de sentimentos. Os bons sentimentos do lar dão anima, vida à casa. Existem histórias as mais variadas; há memórias... Conheço cada canto do imóvel; eu o concebi, o construí. Ali está minha energia, meus bons fluídos. Não se trata apenas de meu Oikos - família, propriedade familiar e moradia - mas também de minha Polis - cidade com suas próprias regras. Minha biblioteca é meu mundo, meu templo particular; há também o quarto que protela em tornar-se oficina. Pelo minúsculo quintal, as flores e folhagens com quem converso. Enfim, minha casa, espaço físico, palco de tantas experiências agradáveis, atingiu o status de lar; há parceria, cumplicidade, completude. Entre mim e minha casa, meu lar, há sinergia, cooperação, solidariedade.

Não tenteis tirá-la de mim com a promessa de algo mais novo, moderno ou próspero, pois apesar dos pesares, foi erguida "com muito esmero". 

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