domingo, 12 de novembro de 2023

Dimorfismo de caráter

 

Once upon a time... Comecemos de modo chique porque o assunto merece destaque. Então vamos lá: era uma vez um casal de pavões. Em linguagem neutra falar-se-ia em pavês (risos). Pavê, pelo que me consta é um doce bem brasileiro, apesar da inspiração francesa. Por favor, desculpai-me a divagação. Voltemos aos pavês, digo, ao casal de pavões. Ele belíssimo, com seu pescoço azul e de dorso policromado; quando abre a cauda então... Ela, nem tanto, de pescoço verde e o corpo acinzentado. Todavia, a beleza de Antônio - esse é seu nome - não o torna um arrogante; ele busca ser atencioso, cavalheiro, abrir a porta do carro (se tal carro existisse), pagar a conta do restaurante quando leva sua pavoa (nada de patroa) Jezabel, ou, como ele costuma chamá-la, Isabel - ou ainda Isa - para jantar (se é que tal circunstância é possível). E justamente esse seu cavalheirismo fez com que assimilasse a fama de machista. Desculpai-me outra vez, mas (risos)... nossa breve historinha origina-se exatamente por conta dessa fama imposta.

Muito embora as facilidades proporcionadas pela sociedade pavônica (na verdade uma poáia), às suas fêmeas, elas deram início a um clamar por igualdade. Igualdade? Afinal sempre foram privilegiadas. Os machos é quem as sustentam e as cercam de mimos, paparicos, cuidados. O único esforço que elas fazem é pôr seus ovos; depois é só cuidar dos rebentos, auxiliadas, evidentemente, pelos respectivos pares. A força física dos machos os colocam em destaque, é verdade, mas em compensação são sempre mais visados. Os trabalhos mais perigosos e insalubres ficam por conta dos machos; somente os machos vão às guerras. Quando em situações de perigo, as fêmeas sempre são protegidas. O código de leis que rege a poáia beneficia em muito as fêmeas. A expectativa de vida dos machos é menor que das fêmeas. Por morte do marido elas não ficam desamparadas (refiro-me a seguros, pensões, etc.)

Creio, se assim me for permitido, ser justamente essa gama de regalias a responsável pelo vindicado “empoderamento” das pavoas. Na verdade, elas não querem tratamento igualitário, elas não querem fazer o trabalho pesado, o trabalho sujo. Algumas pavoas, a título de experiência (algo a ser louvado), na tentativa de desenvolverem trabalhos pesados típicos de machos, experimentaram o desgaste, o estresse, a ansiedade e, lamentavelmente, voltaram-se à bebida e ao cigarro. As pavoas ativistas não querem isso; elas querem os bons empregos, os lugares de destaque, querem dominar, sujeitar os machos pavões; em suma, querem ser patroas. Elas clamam por uma sociedade de pavoas amazonas. (Será o Benedito? Desculpem-me a falha, Benedito é um sapo, personagem de outro conto).

Bem, agora falemos sério (se é que há alguma coisa de sério nessa crônica). Eu não colocaria a culpa num dimorfismo sexual ou biológico. Ide desculpando-me, mas entendo que a inveja é o mainstream das ditas peripécias pavoáticas. Pavões com seus corpos esbeltos, belos, de inegável maior força física, bem dispostos, dorsos bem torneados, policromados, com caudas que inspiram predicados como amazing só fazem estimular um certo desgosto nas pavoas (dimorfismo de caráter?) Só lhes resta, então, tentar subjugar os que, por natureza, atendem melhor ao imperativo proposto. E quando elas conseguirem a dita supremacia, se é que vão consegui-lo, haverá uma premiação mensal para a pavoa que mais se destacar: uma noite com o pavão mais charmoso do pedaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário