Once upon a time... Comecemos de modo chique porque o assunto merece destaque. Então vamos lá: era uma vez um casal de pavões. Em linguagem neutra falar-se-ia em pavês (risos). Pavê, pelo que me consta é um doce bem brasileiro, apesar da inspiração francesa. Por favor, desculpai-me a divagação. Voltemos aos pavês, digo, ao casal de pavões. Ele belíssimo, com seu pescoço azul e de dorso policromado; quando abre a cauda então... Ela, nem tanto, de pescoço verde e o corpo acinzentado. Todavia, a beleza de Antônio - esse é seu nome - não o torna um arrogante; ele busca ser atencioso, cavalheiro, abrir a porta do carro (se tal carro existisse), pagar a conta do restaurante quando leva sua pavoa (nada de patroa) Jezabel, ou, como ele costuma chamá-la, Isabel - ou ainda Isa - para jantar (se é que tal circunstância é possível). E justamente esse seu cavalheirismo fez com que assimilasse a fama de machista. Desculpai-me outra vez, mas (risos)... nossa breve historinha origina-se exatamente por conta dessa fama imposta.
Muito embora as facilidades proporcionadas
pela sociedade pavônica (na verdade uma poáia), às suas fêmeas, elas deram
início a um clamar por igualdade. Igualdade? Afinal sempre foram privilegiadas.
Os machos é quem as sustentam e as cercam de mimos, paparicos, cuidados. O único
esforço que elas fazem é pôr seus ovos; depois é só cuidar dos rebentos,
auxiliadas, evidentemente, pelos respectivos pares. A força física dos machos
os colocam em destaque, é verdade, mas em compensação são sempre mais visados. Os
trabalhos mais perigosos e insalubres ficam por conta dos machos; somente os
machos vão às guerras. Quando em situações de perigo, as fêmeas sempre são protegidas.
O código de leis que rege a poáia beneficia em muito as fêmeas. A expectativa de
vida dos machos é menor que das fêmeas. Por morte do marido elas não ficam
desamparadas (refiro-me a seguros, pensões, etc.)
Creio, se assim me for permitido, ser
justamente essa gama de regalias a responsável pelo vindicado “empoderamento” das
pavoas. Na verdade, elas não querem tratamento igualitário, elas não querem
fazer o trabalho pesado, o trabalho sujo. Algumas pavoas, a título de
experiência (algo a ser louvado), na tentativa de desenvolverem trabalhos
pesados típicos de machos, experimentaram o desgaste, o estresse, a ansiedade
e, lamentavelmente, voltaram-se à bebida e ao cigarro. As pavoas ativistas não
querem isso; elas querem os bons empregos, os lugares de destaque, querem dominar,
sujeitar os machos pavões; em suma, querem ser patroas. Elas clamam por uma
sociedade de pavoas amazonas. (Será o Benedito? Desculpem-me a falha, Benedito
é um sapo, personagem de outro conto).
Bem, agora falemos sério (se é que há
alguma coisa de sério nessa crônica). Eu não colocaria a culpa num dimorfismo
sexual ou biológico. Ide desculpando-me, mas entendo que a inveja é o mainstream das ditas peripécias pavoáticas.
Pavões com seus corpos esbeltos, belos, de inegável maior força física, bem
dispostos, dorsos bem torneados, policromados, com caudas que inspiram
predicados como amazing só fazem
estimular um certo desgosto nas pavoas (dimorfismo de caráter?) Só lhes resta,
então, tentar subjugar os que, por natureza, atendem melhor ao imperativo
proposto. E quando elas conseguirem a dita supremacia, se é que vão consegui-lo,
haverá uma premiação mensal para a pavoa que mais se destacar: uma noite com o
pavão mais charmoso do pedaço.
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