quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Dançantes

 

Antigo filósofo já o dissera: “Bom governante é aquele que faz o que o povo precisa e não o que o povo quer”. Seria isso factível, principalmente nos dias atuais e no Brasil? Em face de grande verba transferida para determinada prefeitura, sua administração, na figura do prefeito, resolveu fazer uma enquete. Como utilizar tal verba? Investir em saúde? Em Educação? Segurança? Saneamento básico? Festejos? Pasmai, mas 87,39% dos entrevistados escolheram os festejos. Então, por inferência declaro: Como é difícil ser um bom governante!

É isso! A característica dançante do povo é pré-histórica. Nossos antepassados dançavam para homenagear os deuses, pedir chuvas, água, alimentos, etc. (afinal, na época não havia bolsa-família). E parece que essa faceta - eu falo de dançar - tornou-se algo como um rótulo bem tupiniquim. O país está a se acabar em problemas: inflação, aumento excessivo de gastos públicos, reoneração nas folhas de pagamento com potencial aumento de desemprego, mal estar com a Europa, com Israel, com os Estados Unidos, por conta de declarações imbecis de um ébrio descondenado... e o povo dança.

Dizem que nossa musicalidade tem origem na miscigenação índio-afro-europeia. E essa musicalidade aliada à característica dançante tornou esse povo irresponsável; bastante alegre, mas irresponsável. É pertinente relembrar que os grandes festivais tiveram lugar mesmo durante o governo militar. Dança-se samba, valsa, bolero, xote, xaxado, merengue, salsa, funk, rock and roll, hip hop, sofrência... o povo brasileiro dança até anúncio da Coca Cola. Os problemas e as dificuldades estão presentes, mas o negócio é dançar. Em uma breve adaptação posso dizer: “Quem dança seus males espanta!”

O povo não abre mão do Carnaval; o importante é saber se determinada escola sairá vencedora... Há os que defendem “Carnavais Fora de Época”. As Festas Juninas estão próximas; dança-se a quadrilha. Narrativas, as mais variadas, vinculam essa faceta musical/dançante (arte?) à uma bagagem cultural. Aqui pouco importa se a situação geoeconômico-política do país se agrava; o negócio é festejar, é continuar dançando. Não para deuses, mas para construir heróis. Alguns “eus” tornar-se-ão heróis, nem que seja por poucas horas. A dança não mais louva quem quer que seja; a dança, nesse caso, infelizmente, apenas inibe um querer ser livre. 

A arte como um todo, muito embora lenitivo, não deve servir de desculpas para o descomprometimento.    

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O doce cheiro do lixo

 

Seres humanos, em geral, não gostam de seguir regras... Então lhes foi ensinado (para isso serve a doutrina) confundir indisciplina com liberdade. O mais curioso é que, quanto mais falam em liberdade, mais e mais assimilam o comportamento escravo; isto é: amam fazerem-se de vítimas e apontarem responsáveis por seus fracassos. O populismo vem, de certo modo, complementar o projeto, pois após identificar possíveis “vítimas” dentro de um sistema previamente moldado, cria mecanismos cujo objetivo precípuo será apenas instaurar a total dependência desses indivíduos em relação ao Estado. Esse messianismo hipócrita e danoso arrebata corações e mentes. Tal mecanismo tem nome: projetos sociais. Vamos a eles!

Na Educação, tais projetos beneficiam mais a empresários do que a possíveis alunos. O Estado preocupa-se em fazer com que o ensino superior preencha as várias lacunas deixadas pelo ensino fundamental. Mas o analfabetismo funcional é fato; estudantes sequer sabem ler e/ou realizar uma mera operação aditiva. Então a irresponsabilidade estatal faz uso de jargões populistas como “Universidade para todos”.  A hipocrisia chega a ponto de criar uma “Ciência sem Fronteiras”, onde diz promover o avanço da ciência e tecnologia. Acostumados a tudo corromper, lançaram o programa “Pé de Meia”; uma tentativa esdrúxula de evitar a evasão escolar. E a “Pátria Educadora” desfruta dos piores índices educacionais em todo o mundo.

Na área da saúde, o programa Mais Médicos propõe fortalecer o atendimento, tendo como objetivo questões emergenciais. Será? Ora, a partir do caos educacional instaurado no país, questionar-se-á a formação dos profissionais de saúde. Não seria mais uma falácia? Isso justificaria a contratação de profissionais estrangeiros... Programas como Farmácia Popular apenas reforça a dependência da população em relação ao Estado; é vilipêndio. O programa Dignidade Menstrual nada tem de digno. 

Programas de acesso à moradia e transferência direta ou indireta de renda só fazem aviltar cada vez mais a dignidade humana. E a pergunta que não quer calar: será que a população sabe o que significa dignidade? Certa frase do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan é bem pertinente: “Acredito que o melhor programa social é o emprego!”  

Em minha fase notívaga, ao perambular por ruas elegantes, iluminadas e arborizadas, não deixava de perceber o aroma adocicado advindo de ocultas lixeiras.  

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Eu no universo kafkiano

 

E tudo teve início com uma das minhas postagens - mesmo que não muito afeito às redes sociais - na qual dispus-me discorrer, de modo superficial, diga-se de passagem, acerca da atitude não tomada por certo chefe do executivo. Pasmai, mas invocar o artigo 142 da nossa Constituição Federal revelou-se-me como crime, um golpe contra a democracia. Indiferentemente se com os poderes constitucionais à deriva; mesmo que a lei e a ordem estejam à mercê de baderneiros. Ora, então, por ilação, posso entender que nossa Constituição Federal possui certo dispositivo que pode proporcionar um golpe de Estado, de modo a afrontar, assim, a democracia que intenta defender. Em resumo: ao se invocar a Constituição estar-se-ia colocando contra a mesma; seria inconstitucional invocar a Constituição. Bem, deve ser por isso que o Supremo Tribunal Federal a agride diariamente. Talvez seja esse - aqui especulo - o resultado das indicações para os cargos de ministros da Suprema Corte (a quase totalidade deles sequer foram juízes), mas que se colocam sob a égide de um pretenso “notável saber jurídico”.

Pois bem, depois da citada postagem minha vida mudou; e não foi para melhor. Pontualmente, às 06:30 horas de uma manhã sonolenta, a Polícia Federal, ou melhor, a milícia particular do STF, chegou à minha casa. Bateram à porta, forçaram-na, arrombaram-na. Armas na mão: uns doces de pessoas. Exibiram meu mandado de prisão. Eu não resisti nem tentei fugir, mas fui algemado. Crime? Até hoje não sei. Fake News? Atentado contra a democracia? Terrorismo? Definitivamente não! Talvez por não me ter vacinado... O fato é que reviraram minha casa para cumprir mandado de busca e apreensão. O que levaram? Pasmai: um computador HP com mais de 20 anos (o qual ainda exibe com orgulho um Windows 7), meu nada sofisticado telefone celular, um boné novinho com o símbolo da cachaça Pitú, meu passaporte, um canivete suíço (arma branca?), uma máquina fotográfica Nikon e uma caixa de pomada Proctan do primo de um amigo.

Levaram-me para exame de corpo delito e depois para uma cela no prédio da Polícia Federal. Não pude contatar um advogado, mas alguns “causídicos” apareceram do nada a assediar-me psicologicamente; pediam algo em torno de 30 mil reais para pegarem meu caso. Cá entre nós, mesmo que vendesse meu carro velho não conseguiria a metade da quantia. Parece-me que somente os tais “advogados paladinos” conheciam minha acusação. Tive quebrados meus sigilos bancário e telefônico. O que descobriram? O que eu tentava esconder da família: que havia atrasado o pagamento do cartão de crédito e que minha aposentadoria não passa de um salário mínimo. Audiência de custódia! Fora preso em flagrante? Qual teria sido meu crime?  Todavia, minha prisão tornou-se preventiva. E lá fiquei por uns 40 dias: a comer mal, dormir pior ainda e com direito a apenas 20 minutos de banho de Sol por dia. Até que do nada, numa preguiçosa segunda-feira, colocaram-me uma fashion tornozeleira eletrônica e mandaram-me de volta para casa.

Bem, estou a aguardar julgamento. Continuo desconhecendo a acusação. Sei que meu processo corre em segredo de justiça. Acesso aos autos? Nem pensar! Muito embora sem foro privilegiado, serei julgado pelos ministros do STF. Quanta honra! Serei condenado? Certamente; não porque eu seja culpado, mas por saberem-me bem melhor do que eles. Eis o que se esconde por trás do discurso democrático!