quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Empedernido


Por que o desuso na linguagem? Parece-me que há grande empenho em “criar”, de forma célere, um português arcaico, pois percebo uma “língua morta” a partilhar nosso dia-a-dia. Seriam tão somente as dificuldades idiomáticas? Não creio! Dar-se-ia o mesmo com outros idiomas? Ou muito me engano, ou nossas gerações atuais desconhecem nosso idioma falado. Exacerbo? Senão, vejamos!

Em determinado concurso público, o texto apresentado na prova de português continha o termo propínquo. Pareceu-me ter ouvido - não é exagero - certo murmúrio a partir de alguns candidatos. Ao final da prova o termo propínquo era tudo em que se falava. E como a ignorância busca refúgio na galhofa, a coisa em pouco tempo virou piada. Na rua, em frente ao colégio que sediara a prova, alguém perguntou a um casal que passava: - “Ele é teu propínquo?” A mulher então, algo ofendida, respondeu: - “Propínquo é tua avó!” Não obstante a intenção ofensiva, vovós parecem-me a encarnação da proximidade. A linguagem poética, por sua vez, também é vítima do processo de degeneração. O achincalhe fez a bela mulher sentir-se ofendida com o termo pulcritude colocado pelo esposo. Sua resposta: - “Não tendo mais nada para falar, resolveste implicar com minha pulcritude!”

Peço a gentileza de corrigir-me em havendo excesso, mas, salvo melhor juízo, soa-me protocolar o processo de aviltar - degradar - o português. A língua, a norma culta não é distintivo de nenhuma classe social. Fazei-me o favor, a linguagem escorreita não envergonha, não desabona ou ofende a ninguém. A propósito, o termo empedernido não me converte em pedra ou me torna insensível, apenas declara-me não influenciável pelo discurso colonialista que dissemina a ideia do português ser uma língua periférica.           









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