Por que o desuso na linguagem?
Parece-me que há grande empenho em “criar”, de forma célere, um português
arcaico, pois percebo uma “língua morta” a partilhar nosso dia-a-dia. Seriam
tão somente as dificuldades idiomáticas? Não creio! Dar-se-ia o mesmo com
outros idiomas? Ou muito me engano, ou nossas gerações atuais desconhecem nosso
idioma falado. Exacerbo? Senão, vejamos!
Em determinado concurso público, o
texto apresentado na prova de português continha o termo propínquo. Pareceu-me
ter ouvido - não é exagero - certo murmúrio a partir de alguns candidatos. Ao
final da prova o termo propínquo era tudo em que se falava. E como a ignorância
busca refúgio na galhofa, a coisa em pouco tempo virou piada. Na rua, em frente
ao colégio que sediara a prova, alguém perguntou a um casal que passava: - “Ele
é teu propínquo?” A mulher então, algo ofendida, respondeu: - “Propínquo é tua
avó!” Não obstante a intenção ofensiva, vovós parecem-me a encarnação da
proximidade. A linguagem poética, por sua vez, também é vítima do processo de
degeneração. O achincalhe fez a bela mulher sentir-se ofendida com o termo
pulcritude colocado pelo esposo. Sua resposta: - “Não tendo mais nada para
falar, resolveste implicar com minha pulcritude!”
Peço a gentileza de corrigir-me em havendo
excesso, mas, salvo melhor juízo, soa-me protocolar o processo de aviltar -
degradar - o português. A língua, a norma culta não é distintivo de nenhuma
classe social. Fazei-me o favor, a linguagem escorreita não envergonha, não
desabona ou ofende a ninguém. A propósito, o termo empedernido não me converte
em pedra ou me torna insensível, apenas declara-me não influenciável pelo
discurso colonialista que dissemina a ideia do português ser uma língua
periférica.
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