terça-feira, 16 de julho de 2013

das Badezimmer

das Badezimmer

De início, devo esclarecer que escolhi o termo em alemão por duas significativas razões: primeiro porque, como cronista desconhecido, tenho por fito mostrar-me possuidor de uma cultura invejável - quem sabe tornar-me celebridade? Segundo porque, filósofo mormente acadêmico que sou, pleitear uma universalização do conceito. Afinal, quem foi o ícone filosófico que já discorreu abstrata, pragmática ou empiricamente sobre o banheiro?
Mas voltemos ao nosso objeto de estudo! Quem diria, hein? O banheiro! Bem, lá o ser e o não-ser se disjuntam, se desjungem, ou seja, a positividade manifestada pelo corpo se desdobra/revela em um excrescente não-ser; o ser e o não-ser (que está em devir) se apartam e estabelecem uma irrevogável dicotomia (muito embora, dizem, existem aqueles que se alimentam e se fartam deste não-ser), e isto se dá através da rachadura do ser. E o banheiro é o refúgio desta síntese furtiva e refutada; lá suportamos nossos cheiros - emanações do não-ser; lá divagamos acerca de nossas mesmas lucubrações; lá lemos não só os semanários, mas também alguns pensadores endeusados pela mídia filosófica, ideias que, infelizmente, foram importadas de além mar.
Mas porque o banheiro? Sim, claro! Vinícius de Moraes poetava no banheiro dentro de uma banheira com água e sabão, dessedentando-se com bons goles de whisky. Não poucos artistas disseram compor no banheiro; há aqueles que adentram a olorosa peça munidos de violão e gravador. O banheiro, segundo eles, é a parte da casa que mais tem acústica. E quem de nós ainda não cantou no banheiro, ou melhor, no chuveiro, mais exatamente? Não são raras as vezes que me surpreendo entoando bizarramente a Ode à Amizade - Freund - de Schiller e magnanimamente musicada por Beethoven.
Mas porque pararmos aqui? Não! Conheço alguns que levam o dicionário para o banheiro, pois enquanto aguardam pela maiêutica do não-ser, correm os olhos pelos vocábulos, termos, verbetes etc. Devoram páginas de Quine, de Sartre, de Deleuze, de Foucault. Dir-se-ia o assimilar de uma cultura literalmente escatológica. A boca pequena vos posso segredar que é no banheiro que arquitetamos as vinganças mais mesquinhas contra nossos inimigos secretos, ponderamos acerca de critérios totalmente desprovidos de lisura para perseguirmos os desafetos e beneficiar os energúmenos.
Neste cômodo ímpar, posso vos afiançar, pessoas choram as mágoas, mascaram seus temores e amargam suas não lobrigadas expectativas. Mas também dispõem das máscaras; ali os seres se escondem e se moldam, se permitem ser e igualmente se obliteram, se punem, se revelam.  Portanto, agora posso enfim finalizar: conceitualmente falando, o banheiro - das Badezimmer - é o lugar perfeito para a tomada de uma segunda consciência, ou melhor, é a segunda consciência em-si e para-si.


E dizer que tive o meu Projeto de Doutorado recusado!?

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