das Badezimmer
De início, devo esclarecer
que escolhi o termo em alemão por duas significativas razões: primeiro porque,
como cronista desconhecido, tenho por fito mostrar-me possuidor de uma cultura
invejável - quem sabe tornar-me celebridade? Segundo porque, filósofo mormente
acadêmico que sou, pleitear uma universalização do conceito. Afinal, quem foi o
ícone filosófico que já discorreu abstrata, pragmática ou empiricamente sobre o
banheiro?
Mas voltemos ao nosso objeto
de estudo! Quem diria, hein? O banheiro! Bem, lá o ser e o não-ser se disjuntam,
se desjungem, ou seja, a positividade manifestada pelo corpo se desdobra/revela
em um excrescente não-ser; o ser e o não-ser (que está em devir) se apartam e
estabelecem uma irrevogável dicotomia (muito embora, dizem, existem aqueles que
se alimentam e se fartam deste não-ser), e isto se dá através da rachadura do
ser. E o banheiro é o refúgio desta síntese furtiva e refutada; lá suportamos
nossos cheiros - emanações do não-ser; lá divagamos acerca de nossas mesmas
lucubrações; lá lemos não só os semanários, mas também alguns pensadores
endeusados pela mídia filosófica, ideias que, infelizmente, foram importadas de
além mar.
Mas porque o banheiro? Sim,
claro! Vinícius de Moraes poetava no banheiro dentro de uma banheira com água e
sabão, dessedentando-se com bons goles de whisky.
Não poucos artistas disseram compor no banheiro; há aqueles que adentram a
olorosa peça munidos de violão e gravador. O banheiro, segundo eles, é a parte
da casa que mais tem acústica. E quem de nós ainda não cantou no banheiro, ou
melhor, no chuveiro, mais exatamente? Não são raras as vezes que me surpreendo
entoando bizarramente a Ode à Amizade - Freund
- de Schiller e magnanimamente musicada por Beethoven.
Mas porque pararmos aqui?
Não! Conheço alguns que levam o dicionário para o banheiro, pois enquanto
aguardam pela maiêutica do não-ser, correm os olhos pelos vocábulos, termos,
verbetes etc. Devoram páginas de Quine, de Sartre, de Deleuze, de Foucault. Dir-se-ia
o assimilar de uma cultura literalmente escatológica. A boca pequena vos posso
segredar que é no banheiro que arquitetamos as vinganças mais mesquinhas contra
nossos inimigos secretos, ponderamos acerca de critérios totalmente desprovidos
de lisura para perseguirmos os desafetos e beneficiar os energúmenos.
Neste cômodo ímpar, posso
vos afiançar, pessoas choram as mágoas, mascaram seus temores e amargam suas
não lobrigadas expectativas. Mas também dispõem das máscaras; ali os seres se
escondem e se moldam, se permitem ser e igualmente se obliteram, se punem, se
revelam. Portanto, agora posso enfim
finalizar: conceitualmente falando, o banheiro - das Badezimmer - é o
lugar perfeito para a tomada de uma segunda consciência, ou melhor, é a segunda
consciência em-si e para-si.
E dizer que tive o meu
Projeto de Doutorado recusado!?
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