Convido-vos
à reflexão. Como é difícil escrever
contos infantis nos dias de hoje! Como dar azo à imaginação criadora com tantas
medidas, leis, regras, regulamentos, normas etc.? Não estaria a criatividade
sendo bloqueada justamente por conta de um sem número de exigências cabulosas e
desprovidas de bom senso? Lancemos, portanto, nossa atenção para o mais famoso
texto entre a petizada.
Pergunto:
Como escrever algo similar ao Chapeuzinho Vermelho com todos os obstáculos que
nos são interpostos? Consideremos: em primeiro lugar, como conceber pais que
permitam uma menina adentrar sozinha a floresta com a ameaça, não do lobo ou de
qualquer perigo, mas do Conselho Tutelar? E desde quando é possível uma
velhinha habitar isolada numa floresta erma? E o Estatuto do Idoso? No mínimo,
os parentes da velhinha seriam processados com a acusação de abandono, maus
tratos e, quiçá, cárcere privado. E desde quando o IBAMA permitiria a caça e a
presença invasiva em florestas? E o lobo, coitado, protegido para que não seja extinto.
Eis a risibilidade das leis: característica assimilada pela Ciência Jurídica, que quando infectada pelo messianismo, inclina-se a disciplinar fenômenos de ordem
socioeducativas.
Mas ainda
não paramos por aí. Por que Chapeuzinho irrompe a floresta levando doces para a
vovozinha? Como ficariam os cuidados
enfocados e/ou impostos pelos cultores da longevidade e pela irreverência dos imperativos
estéticos? Estaria Chapeuzinho pretendendo deixar a vovó diabética? Por que não
frutas frescas tais como maçãs, - desde que não seja envenenada como a da uma
bruxa que vitima Branca de Neve - uvas, peras, pêssegos, carambolas, açaís,
goiabas etc.?
Neste
passo, acredito estar justificado o expediente hodierno das releituras de
textos, filmes e romances clássicos. Com algum esforço, então, procurarei
esboçar breve sinopse de uma releitura do conto em pauta. Vejamos: Chapeuzinho,
na verdade, seria uma adolescente tão complicada quanto antenada. Ela e seu
namoradinho encontrar-se-iam furtivamente na floresta para queimar um baseado.
Neste caso, deve-se trocar o nome de Chapeuzinho Vermelho por Olhinho Vermelho.
Visitar a vovó não passaria de desculpas, porque no sítio da velhinha eles
teriam oportunidade de dar uns “amassos” e apertarem um bagulho.
Vovó,
na verdade, seria uma viúva fogosa e pervertida; Lobo o nome do traficante que
iria ao sítio cobrar a conta. Mas lá chegando - o Lobo - cairia vítima da
sedução da vovó assanhada. É claro, eles "ficariam"! De fato, seria a vovó a
comer o lobo, e não ao contrário como no conto clássico. O caçador em questão seria
tão somente um investigador disfarçado, que há muito seguia os passos do
traficante. E as tais perguntas totalmente sem noção, deveriam ser assim colocadas.
Vovó: - “Pra que estes olhos tão grandes e vermelhos?” E o Lobo: - “É
conjuntivite! Desencana!” Vovó: - “Pra que estes dentes tão grandes?” E o Lobo:
- “Já marquei consulta com o ortodontista; vou usar aparelho”. E a vovó: - “Pra
que estas unhas tão grandes?” O Lobo: - “Minha manicure foi presa traficando”.
E a vovó: - “Pra que este nariz tão grande?” E o Lobo: - Porra, tu já está me
enchendo o saco. Quer ver uma coisa grande?”
Nesta
altura chega o investigador e dá voz de prisão ao traficante. Ele reage e é
abatido. A vovó, mala, põe-se a gritar e a se fazer de vítima, alegando ter
sido comida pelo lobo. Ainda bem que morreu, senão o pobre do Lobo seria
acusado também de estupro de vulnerável. Mas minha historinha tem final feliz.
Vovó se torna amante do investigador, e, com isso, Olhinho Vermelho pode dar
seus "amassos" com o namoradinho e apertar fumo à vontade. E o mais importante: não
precisa mais pagar a dívida ao traficante.
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