segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Chapeuzinho Vermelho


Convido-vos à reflexão.  Como é difícil escrever contos infantis nos dias de hoje! Como dar azo à imaginação criadora com tantas medidas, leis, regras, regulamentos, normas etc.? Não estaria a criatividade sendo bloqueada justamente por conta de um sem número de exigências cabulosas e desprovidas de bom senso? Lancemos, portanto, nossa atenção para o mais famoso texto entre a petizada.

Pergunto: Como escrever algo similar ao Chapeuzinho Vermelho com todos os obstáculos que nos são interpostos? Consideremos: em primeiro lugar, como conceber pais que permitam uma menina adentrar sozinha a floresta com a ameaça, não do lobo ou de qualquer perigo, mas do Conselho Tutelar? E desde quando é possível uma velhinha habitar isolada numa floresta erma? E o Estatuto do Idoso? No mínimo, os parentes da velhinha seriam processados com a acusação de abandono, maus tratos e, quiçá, cárcere privado. E desde quando o IBAMA permitiria a caça e a presença invasiva em florestas? E o lobo, coitado, protegido para que não seja extinto. Eis a risibilidade das leis: característica assimilada pela Ciência Jurídica, que quando infectada pelo messianismo, inclina-se a disciplinar fenômenos de ordem socioeducativas.

Mas ainda não paramos por aí. Por que Chapeuzinho irrompe a floresta levando doces para a vovozinha?  Como ficariam os cuidados enfocados e/ou impostos pelos cultores da longevidade e pela irreverência dos imperativos estéticos? Estaria Chapeuzinho pretendendo deixar a vovó diabética? Por que não frutas frescas tais como maçãs, - desde que não seja envenenada como a da uma bruxa que vitima Branca de Neve - uvas, peras, pêssegos, carambolas, açaís, goiabas etc.?

Neste passo, acredito estar justificado o expediente hodierno das releituras de textos, filmes e romances clássicos. Com algum esforço, então, procurarei esboçar breve sinopse de uma releitura do conto em pauta. Vejamos: Chapeuzinho, na verdade, seria uma adolescente tão complicada quanto antenada. Ela e seu namoradinho encontrar-se-iam furtivamente na floresta para queimar um baseado. Neste caso, deve-se trocar o nome de Chapeuzinho Vermelho por Olhinho Vermelho. Visitar a vovó não passaria de desculpas, porque no sítio da velhinha eles teriam oportunidade de dar uns “amassos” e apertarem um bagulho.

Vovó, na verdade, seria uma viúva fogosa e pervertida; Lobo o nome do traficante que iria ao sítio cobrar a conta. Mas lá chegando - o Lobo - cairia vítima da sedução da vovó assanhada. É claro, eles "ficariam"! De fato, seria a vovó a comer o lobo, e não ao contrário como no conto clássico. O caçador em questão seria tão somente um investigador disfarçado, que há muito seguia os passos do traficante. E as tais perguntas totalmente sem noção, deveriam ser assim colocadas. Vovó: - “Pra que estes olhos tão grandes e vermelhos?” E o Lobo: - “É conjuntivite! Desencana!” Vovó: - “Pra que estes dentes tão grandes?” E o Lobo: - “Já marquei consulta com o ortodontista; vou usar aparelho”. E a vovó: - “Pra que estas unhas tão grandes?” O Lobo: - “Minha manicure foi presa traficando”. E a vovó: - “Pra que este nariz tão grande?” E o Lobo: - Porra, tu já está me enchendo o saco. Quer ver uma coisa grande?”


Nesta altura chega o investigador e dá voz de prisão ao traficante. Ele reage e é abatido. A vovó, mala, põe-se a gritar e a se fazer de vítima, alegando ter sido comida pelo lobo. Ainda bem que morreu, senão o pobre do Lobo seria acusado também de estupro de vulnerável. Mas minha historinha tem final feliz. Vovó se torna amante do investigador, e, com isso, Olhinho Vermelho pode dar seus "amassos" com o namoradinho e apertar fumo à vontade. E o mais importante: não precisa mais pagar a dívida ao traficante.

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