Este, na verdade, é um desabafo, fruto
da patente dificuldade nas relações no mundo atual. As pessoas, em sua maioria,
entopem-se de informações superficiais, tendenciosas e igualmente inócuas, e
são incapazes de filtrar tais notícias; elas simplesmente as repassam sem
qualquer critério, pois lhes falta o mínimo de criticidade. Não há mais
diálogo; há apenas empenho por parte de muitos em transmitir e defender ideias
ou opiniões que lhes são de todo estranhas. O processo de emburrecimento parece-me,
portanto, irreversível. Há um surto não endêmico – arrisco-me a falar em
epidemia – de bloqueio cognitivo. As pessoas dão a entender que se negam a
pensar; o dia-a-dia oferecido lhes basta, o que é sugerido é bem-vindo, o que é
apresentado torna-se verdadeiro.
Paralelamente vemos emergir uma
espécie de culto à agressão. Já percebestes que existe uma agressão no falar e
nas próprias relações cotidianas? Há agressão no vestir, no trajar, no
embelezar. A estética mostrou-se permissiva com a agressividade. Corteja-se de
modo agressivo; ama-se de modo agressivo. As notícias são pura agressividade. A
arte contemporânea prima pela injúria, insulto, ataque. A literatura é
agressiva, as artes plásticas são impetuosas e desagradáveis porque violentas,
o cinema e o teatro agridem, a música e a dança são agressivas. A poesia tem
por base a agressão.
Vez por outra aparece alguém dizendo-se
disposto a arrefecer e modificar semelhante condição. Mas, qual nada... Pautado
em sua própria insipiência, falta de sensatez e patente ignorância, lança mão
de incauta sutileza para revelar um cinismo imoderado. Apela para o motejo,
para o gracejar; e vem a ironia, a troça, a zombaria, o escarnecer. Enfim, o
que se tem é sarcasmo acerca de algo ou tema que, em si, permanece ignorado.
Pergunto-vos: Como é possível a
convivência?
Nenhum comentário:
Postar um comentário