sexta-feira, 6 de maio de 2022

O Visitante

 

Andava eu a matutar no possível, ou melhor, no iminente conflito nuclear que estava a tomar vulto em o continente asiático. Ora, isso viria agravar ainda mais o quadro caótico que o mundo atravessa. Ou será que o caos sempre foi apanágio do orbe terrestre? Preocupo-me sobremaneira com tal perspectiva e tenho minha inquietação justificada por entender que esta guerra - Rússia versus Ucrânia - ou uma outra guerra qualquer, só gera perdedores, independentemente de interesses, ideologias... Contudo, seres ditos humanos - os que primam por exibir rótulos de inteligentes, racionais, sensíveis, evoluídos, etc. -  parecem não perceber isso, até porque muitos deles declaram ser a guerra recurso bem lucrativo. Bem, se de fato assim o for, creio que um conflito dessa natureza colocaria em risco a sobrevivência do próprio planeta. Perdoai-me, mas no citado contexto não consigo divisar qualquer lucro.   

E foi em meio a todo este meu descomedimento geopolítico que conheci Otniel. Se bem que... a coisa (o acontecimento) deu-se de modo misterioso. Sim, comecei por receber mensagens em minhas redes sociais de alguém que dizia-se “o auxílio no esclarecer de alguns mistérios”. A princípio mostrei-me indiferente, haja vista não só a quantidade de golpes, mas também a expressiva circulação de falsas notícias no âmbito virtual. Todavia, a insistência nos avisos e notificações, bem como o fato do então desconhecido manifestar profundo conhecimento e partilhar das mesmas preocupações que eu, cativou-me o interesse. 

Encontramo-nos em tarde opressa; um certo jardim público. Otniel trazia o rosto oculto por máscara; exigência imposta por autoridades em virtude de uma planejada pandemia. Tinha a mesma altura, mesmo porte físico, o mesmo olhar, os mesmos cabelos grisalhos... Perturbei-me. Depois de alguns instantes de pasmo, antes mesmo das apresentações formais, exigi que ele tirasse a máscara. Assim o fez e mais uma vez fui tomado de estupefação: eu estava diante de mim mesmo. Em decorrência de meu espanto, ele sorriu; o mesmo sorriso que costumo lançar mão quando surpreendo alguém em assombro. Busquei palavras, mas o léxico abandonara-me, a voz evadira-se, o entorno emudecera. Por permanecer numa espécie de transe hipnótico, Otniel deu início a elaboradas explicações.

Disse-me ele que não me incomodasse com nossa semelhança física, pois ninguém poderia nos ver desse modo; quem quer que para ele olhasse teria diante de si sua própria réplica. Afinal, atalhou de modo filosófico, o mundo é algo fenomênico; é visto a partir de percepções particularizadas. Declarou-me ainda ser uma espécie de profeta, cuja missão seria liderar certo grupo organizado para livrar a Terra da opressão de alguns mandatários. Confessou-me não estar só na empreitada. Recordei-me do juiz homônimo que sucedera a Josué. Mas este Otniel não pertencia ao nosso planeta; doravante poderemos chamá-lo alienígena. Ele já visitara nosso orbe outras vezes. Disse-me que as visitas (dele e de outros) tiveram início ainda no decorrer da Segunda Guerra Mundial; mais exatamente após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Alguns estadistas da época receberam várias “visitas” de vários “visitantes”. Disse-me ainda não entender porque a tentativa de omitir da população as “inspeções” feitas por eles quando em missão a nosso planeta. Ele fez questão de lembrar dos mistérios que cercam a Área 51 nos Estados Unidos.

Não obstante, deixou-se rir do personagem - o homenzinho verde - estereotipado pela mídia mundial. Perguntei pelo porquê daquela visita em particular. Explicou-me que as ondas de pensamento emanadas por circunstantes - pessoas assim como eu - criam imagens, e estas os alertava de que o mundo estaria próximo de outra grande calamidade. Sim, na verdade, não havia preocupação direta com o ser humano, mas com o planeta em si. Ora, uma guerra nuclear dizimaria a Terra; ao aniquilar a Terra, todo nosso sistema solar estaria comprometido. O comprometimento - o desequilíbrio - do sistema solar afetaria todo o universo. Otniel e seus liderados tinham por missão, apenas, resguardar o universo. Nada de dominar, escravizar, explorar, roubar água, alimentos e ou riquezas minerais. Livremo-nos, portanto, da imaginação artístico-midiática.

Num misto de curiosidade e angústia, perguntei: Como se daria o livramento dos opressores e respectivos desmandos que assolam o planeta? A um breve sorriso seguiu-se o comentário de que as tão badaladas relações internacionais servem apenas para oficializar pacotes de interesses econômicos. Em caso de vera ameaça nuclear, o visitante e seus comandados interviriam de modo a aniquilar grande parte da população dos países envolvidos, a criar insegurança, evitando assim o confronto atômico e, dessarte, o colapso total do universo. Em conclusão, disparou: - “Afinal, o todo é maior do que a parte!” Bem, e quanto a mim, assim creio, só resta contemplar o céu e balbuciar em um inglês morno: “While my eyes, go looking for flying saucers in the sky”.

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