Diferentemente do romance de Nathaniel Hawthorne, a casa em questão não está envolta em mistérios, não é mal assombrada nem se propõe a assustar quem quer que seja. No entanto, assim como A Casa das Sete Torres, esta - pelo menos na presente crônica - também será protagonista e terá a pretensão de tornar-se algo como um legado. Nada obstante, desejo sinceramente que a casa das sete janelas jamais seja palco de qualquer drama.
E a morada teve lugar em cidadezinha simpática
- menos de 3000 habitantes - localizada sobre um monte cravejado de rochas. O
clima ameno, até para o verão nordestino, convida forasteiros de modo
espontâneo. Sua gente, simples por excelência, auxilia no cativar turistas que
se tornam diligentes visitantes. Afinal, a vida interiorana sempre exerce certo
fascínio no povo da cidade grande.
O projeto teve como autora a filha
caçula, que praticamente estreara em sua vida profissional como arquiteta. As sete
janelas não foram de caso pensado. O poderoso número 7, contudo, tornou-se
bem-vindo, até porque a cabala o descreve como número representativo da
harmonia, do equilíbrio. E como não aspirar pelo suporte de tais substantivos
em se tratando de um lar?
A chácara que abriga a vivenda carrega
também seus méritos: uma brisa constante a envolver o lugar mostra-se
benfazeja; recentes árvores que compõem o principiante pomar, em verdade, são orgânicos
ornamentos a complementarem a paisagem; pássaros os mais variados sentem-se à
vontade para lá comporem ou ensaiarem seus diversos cânticos, hinos, odes para
louvar o bem estar e a mãe natureza.
Lá experimento o saudável abandono. Zanzo
com os pés fincados na terra em meio a moitas, canteiros, leirões repletos de
sementes... Antevejo a brevidade de flores, de brotos, de rebentos; a terra a
expelir o que de melhor produz. Já no alpendre permito-me folgar em preguiçosa
rede. Ausculto, então, o silêncio; não um silêncio engendrado, produzido, mas a
quietude natural intrínseca à pureza de breves momentos.
A balouçar-me na merecida indolência,
penso nos filhos, filhas, minhas sementes germinadas, amadas, e... por vezes
idolatradas. Sim, estas floresceram, frutificaram... as netas, algumas já fazem-se
adultas. Recordo infâncias outras eivadas com aquele sabor de terra: um
felicidade indescritível. Quisera que o tempo junto àquela casa, a casa das
sete janelas, erguida na distante chácara, nos absorvesse a todos numa eterna
infância, em eterna benignidade, afeto, carinho. Que Deus nos abençoe!
E no balanço de quase toda a nossa existência, são esses poucos momentos que fazem compensar todo os sacrifícios e tormentos enfrentados. Na contabilidade da vida, sempre tenderá ao saldo positivo. Essa é a tão almejada felicidade que buscamos por quase toda a vida. Esse momento me permite discordar de Lobão, que disse preferir "... viver 10 anos 1000, do que 1000 anos a 10...".
ResponderExcluirQue os poucos dias do resto de nossas vidas torne-se eternos.
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