Não
é uma resposta simples, pois envolve vários matizes e circunstâncias. Vejamos:
Há a
classe desfavorecida, e esta se deixa arrastar por chavões apelativos, pois que
é sempre colocada como base de uma argumentação meramente retórica da favorecida
classe política situacionista, que a revela como vítima de um sistema indigno,
centralizador e excludente. A consequência desta manobra covarde é a criação de
uma acerba rivalidade, fazendo dos empresários inimigos de seus funcionários,
brancos inimigos de negros, homens inimigos de mulheres, etc. No entanto, a
classe desfavorecida é, de fato, mais vitimizada por aqueles que se dizem seus
defensores. Percebe-se uma derivação ou mesmo uma similaridade com a Síndrome
de Estocolmo, pois que a classe desfavorecida passa a ter simpatia, amor ou
amizade por seus verdadeiros agressores.
A
classe política da situação, favorecida evidentemente, é quem faz uso deste
mecanismo, e usualmente lança mão do populismo para cooptar o maior número de
seguidores, seguidores este que são mantidos na ignorância, pois que são mais
fáceis de manipular, embora outro discurso sofístico declarar preocupação com a
saúde, com o emprego, com a educação e a cultura dos “vitimados” pelas elites, criando
até programas educacionais e mecanismos para facilitar o ingresso destes em
cursos superiores. Pobres vitimados, pois não conseguem perceber o ardil de tais programas governamentais.
Dentre
a população não desfavorecida e não política existem aqueles que defendem
cegamente o governo. São eles alguns - poucos, na verdade - artistas,
escritores, cantores e compositores, que tiram proveito dos recursos disponibilizados
pelo governo para o incentivo à cultura, com o fito de custearem seus presunçosos
projetos, muitas das vezes esdrúxulos e de má qualidade. Não sei se por “ingenuidade”
ou extrema vaidade, estes mostram-se incapazes de perceber que, na verdade, o
governo lança mão destes recursos para comprar apoio. Percebam que não falo em
intelectuais, pois que verdadeiros intelectuais não se permitem tal manipulação.
Mas
existe a classe dos não desfavorecidos, a classe média em geral, que não se permite
enganar pelos discursos e ditames desta ditadura espúria, mascarada de
democracia, que lhes impinge predicados de conotação ofensiva, tais como:
oligarcas, elites, burgueses ou algo que o valha, com o único propósito de
lhes desacreditar, desrespeitar e marginalizar, objetivando potencializar uma
rivalidade inexistente e dividir a população com o intuito de se mostrarem como
paladinos de uma ignota justiça social.
Será
que se pode, neste caso, falar em ideologia? Não, de modo algum. Ideologia
implica uma espécie de abnegação, aonde ideias e ideais vão se estruturando e
solidificando pouco a pouco, o que exige tempo. Todavia, não mais se tem uma
boa relação com o tempo; não há passado ou futuro, pois só existe o agora e
esse agora é o lucro imediato. Citando Francis Fukuyama, “a luta ideológica que
exigia audácia, coragem, imaginação e idealismo foi substituída pelo cálculo
econômico”. A classe política, bem como cidadãos, de um modo geral, não têm mais
qualquer resquício de ideologia; têm apenas grande determinação para alcançar o
poder e nele se perpetuar.
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