“No princípio era o Logos, e o Logos
estava com Deus, e o Logos era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se
fez.” João 1: 1-3. Em geral, as pessoas entendem o termo Logos como palavra,
como fala ou coisa assim. O termo grego, no entanto, é polissêmico, pois admite
18 acepções ligadas à raiz do verbo “legein” - trazer à luz. Eis algumas delas: dizer, palavra,
discussão, proposição, definição, frase, declaração, razão (argumento), Razão
(faculdade de raciocinar), proporção (associado à tradição pitagórica, pois a
primeira fração apresentaria o mesmo “Logos” que a segunda fração), explicação,
mensagem (em sentido metafórico), manifestação, conclusão, criação advinda de
ideia, expressão. Pelas palavras de João, podemos perceber que o Logos implica
diretamente manifestação, uma criação advinda de ideia formal, expressão de
algo antes interiorizado, apenas pensado e com necessidade de ser
exteriorizado; algo que exige sua formalização, sua materialização.
Em face do até aqui exposto, pode-se
inferir que a formalização, exteriorização, materialização exige, em si, sua
expressão, sua divulgação e conhecimento. Aí, portanto, entende-se o vínculo do
Logos com a palavra, com a linguagem, a definição. E como surge a linguagem? A
linguagem teve três momentos distintos: de início tivemos uma língua concebida
por hieróglifos, a linguagem utilizada pelos deuses, uma linguagem muda,
gestual; em segundo momento tivemos a língua simbólica, a linguagem dos heróis,
na qual os símbolos tiveram primazia; por último tivemos a língua articulada, linguagem
dos seres humanos, linguagem poética, com versos jâmbicos (uma sílaba breve e
outra longa), cuja constituição teve início com interjeições, depois pronomes, em
seguida as preposições, então os nomes e por fim os verbos. Contudo, ainda
mantemos, e até por carência da própria linguagem articulada, o uso das
metáforas, esta herança da fase simbólica.
Bem, o objetivo da linguagem é tornar
possível a comunicação, o conhecimento. No Antigo Testamento, o símbolo era a
árvore do conhecimento do Bem e do Mal. É pertinente chamar a atenção que a
primeira musa, advinda dos raios de Júpiter, foi definida por Homero como a
“Ciência do bem e do Mal”. E como o ser humano inicia a “degustação” do fruto
desta árvore? A tentação da serpente! Mas por que serpente? Sim, a serpente de
que fala o Antigo Testamento é simbologia pura e ligada à Píton, serpente
vencida por Apolo. As primeiras expressões dos seres humanos tiveram origem na
presença da Píton, pois ela originou a linguagem articulada, ou seja, as
interjeições provocadas pelo espanto. Não só a filosofia nasce com o espanto,
mas também a linguagem articulada. Talvez esteja aí o estreito vínculo entre
espanto, filosofia e Logos. E evidentemente, tudo graças a bondosa serpente!
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