sábado, 2 de fevereiro de 2019

O anticristo



Bem, antes de mais nada, devo confessar-lhes que não sou teólogo. Meu conhecimento de teologia é bem superficial; é puro diletantismo. Eu não estudaria teologia nem mesmo para reduzir minha pena, caso fosse sentenciado à privação de liberdade. Todavia, acredito poder colaborar, por pouco que seja, com hermeneutas e/ou exegetas.

No tocante aos livros que compõem o Antigo e Novo Testamentos, o que mais me reclama a atenção é o Apocalipse de João. O texto apocalíptico mostra-se bastante denso por exibir laivos de arrebatamento místico, bem como vestígios de primevo fanatismo. Mas isso não vem ao caso, o importante é que muitos se têm debruçado sobre o referido livro na tentativa de melhor esclarecê-lo. Com isso, tivemos acesso a inúmeras interpretações, principalmente no que tange à figura do Anticristo. 

Ora, o Anticristo, etimologicamente, é aquele ou aquilo que se opõe a Cristo. O Anticristo ou a Besta, na verdade, é um personagem escatológico. E quem ou o quê se opõe a Cristo? Já se falou no Império Romano, por conta da perseguição aos cristãos; já se falou do Papa, pois o número 666, a marca da Besta, foi encontrada oculta na mitra papal. Já se vinculou a figura do Anticristo a Adolf Hitler, à antiga União Soviética, ao Império islâmico e até a Barack Obama. Pelo visto, podemos perceber que não há limites para a delirante e pujante criatividade humana.

E pautado exatamente nesta criatividade, distante que estou da ilha de Patmos, dou asas à imaginação e inicio minha exegese acerca do Anticristo. Percebei: o Anticristo é um ente abstrato, não uma personificação; é pessoa jurídica de direito público; é amálgama de estratos com cunho de interesses diversos e, por vezes, divergentes. A característica escatológica eu não vinculo ao fim do mundo, ao Armagedon, mas simplesmente a excrementos e/ou expressões obscenas. Portanto, o Anticristo é brasileiro.

De início, estou certo, receberei críticas as mais acerbas, inclusive arriscando-me a ser taxado de fascista ou algo que o valha. Mas percebei, a Besta é formação circunstanciada e díspar, que, no entanto, se harmoniza internamente. Externamente, contudo, revela o que há de pior em termos de valores humanos. Então, resumidamente, vou expor, em termos valorativos a aparência do Anticristo: Ele reúne a canalhice presente em Temer, Moreira Franco e Eduardo Cunha, revela a truculência de um Gilmar Mendes, o cinismo de Aécio Neves e José Sarney, o oportunismo de Alexandre de Moraes, o apedeutismo, a desonestidade e facécia de Lula, a parcialidade e venalidade de Carlos Marum, a pusilanimidade de Aloizio Nunes, de um Eliseu Padilha e  de um Rodrigo Maia, o mau-caratismo de Garotinho, Sérgio Cabral e Pezão, a dissimulação dos Picciani, a arrogância de Renan Calheiros e a facúndia de Marco Aurélio Mello. Poderia permitir-me discorrer ainda com mais profundidade sobre a Besta, mas ela há de mascarar-se sempre mais e mais.

Àqueles que não convenci, posso, como todo e qualquer neófito em teologia, encontrar uma numerologia à contento que justifique a assertiva de que o Anticristo é brasileiro. Vejamos: A Câmara Federal é composta de 513 deputados. Ao somarmos os valores dos algarismos teremos: 5 + 1 + 3 = 9. Agora vejamos a quantidade de senadores: 81. Somemos os algarismos: 8 + 1 = 9. Pois bem, temos dois algarismos 9. Ora, o inverso de 9 é 6. Portanto estamos às voltas com 6 e 6. Sim, o número da Besta é o 666. Onde o outro 6? Simples, as turmas - não a plenária do STF - são formadas por 5 ministros e mais um representante da Procuradoria Geral da República. Eis, portanto o terceiro algarismo 6. Eis a Besta em todo a sua inteireza.

Agora, só resta nos ocuparmos da característica escatológica. O jeitinho brasileiro acabou por cativar o cenário mundial. A Odebrecht comprou políticos de outros países, financiou campanhas em outros países, corrompeu líderes, bancou partidos estrangeiros necessitados de projeção. O Brasil, através de seu peculiar Anticristo, haja vista os escândalos de corrupção, tornou-se conhecido mundialmente, o que também o faz cultuado e tido como referência exemplar pela excrecência humana.  

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