Não me reporto a pecados outrora cometidos; aqueles característicos da saudosa juventude. Não. Eu falo do conceito que precede o pecado. Sim, porque o pecado como conhecemos (erros cometidos, mal procedimento, o confrontar de declarações contraditórias, etc.) deve-se ao advento do judaísmo cristão. Então vós me perguntais: “Ora, e antes do surgimento desse nosso pilar - a religião - não haviam pecados?” Eu, pelo menos por enquanto, não me arriscaria em proferir um sim ou um não. Contudo, advirto-vos que os gregos falavam em Υβρισ (hybris), ou seja, um insulto, uma ofensa realizada com desprezo, uma insolência, uma injúria, uma afronta, e mais uma vez o confrontar, ou seja, a acareação entre contraditórios. Se bem que o insulto, a ofensa, a insolência e injúria presentes no conceito grego, estariam relacionados ao excesso, ao descomedimento, ao desequilíbrio, uma afronta ao justo meio aristotélico (não ao meio aritmético). E o que seria o justo meio aristotélico? Lancemos mão de um exemplo: entre os extremos Covardia e Temeridade existe a Coragem. Todavia, em nos valendo de melhor acurácia, percebemos que a Coragem estaria mais próxima da Ousadia, ou seja, da Temeridade. Eis o justo meio!
Nada obstante, o conceito de hybris relaciona-se diretamente à
natureza; seria o insulto, a afronta, o descomedimento no que tange à natureza.
Sim, falamos em preservação e respeito a physis
(natureza). Em se observando a medicina proposta pela escola hipocrática,
poderemos depreender que a ciência médica trataria somente de reequilibrar os
organismos tendo como base a natureza. Os descomedimentos, os excessos
provocariam um desequilíbrio orgânico em confronto à natureza.
Enfim, acredito que agora possa
responder vosso pioneiro questionamento. Eis o nosso maior, mais antigo e grave
pecado: os excessos que agridem a natureza, inclusive a nossa natureza, a natureza
humana. Para finalizar, lanço mão de verso presente em antiga canção popular: “Água
de mais mata a planta!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário