terça-feira, 24 de maio de 2022

Eu, o imbecil

 

“A internet deu voz aos imbecis”. Poder-se-ia minorar os efeitos de tal declaração, mas o problema reside pontualmente em quem a proferiu. Eu diria decepcionante, haja vista envolver um ministro de nossa Suprema Corte a palestrar em Congresso Brasileiro de Magistrados. Não, não o recrimino por exteriorizar seu ponto de vista, afinal, Sua Excelência fez uso da liberdade de expressão tão característica em uma democracia (até mesmo em nosso estado democrático fuleiro). Inclusive, não haveria motivo para nos mostrar ofendidos, não fosse a intenção deliberada do ministro em fazê-lo. Aliás, cá entre nós, a figura de Sua Excelência, é, por si só, sobremodo ofensiva. (Desculpai-me, mas não posso me furtar à irrisão). Até seu jeito de falar é agressivo. E fica patente a intenção em nos injuriar quando (quanta falta de originalidade) lança mão de uma frase do escritor Umberto Eco, totalmente descontextualizada, a agredir inclusive os princípios da hermenêutica, com o objetivo de atingir-nos. Que ninguém nos ouça, mas faço-me cético no tocante ao eminente ministro conhecer, um mínimo que seja, sobre essa ciência, a hermenêutica.

Bem, segundo nosso léxico em vigor, imbecil é o que ou aquele que manifesta pouquíssima inteligência ou discernimento. Pergunto: Será que as redes sociais, de fato, permitem aos idiotas tornarem-se falantes?  E onde será que nós, os imbecis, assimilamos tanta tolice? Ora, nas mesmas fontes que por décadas manipulou e ainda tenta manipular a opinião pública. Hoje, no entanto, imbecis assim como eu, através das redes sociais, informamo-nos acerca dos gastos excessivos com Suas Excelências, da infinidade de seus funcionários, dos lautos jantares com lagostas e caviar, e isso sem falar nos elegantes e caríssimos vinhos. E não paramos por aí. Parvos como eu, a fazer uso da internet, descobrimos alguns currículos ocultos. Por exemplo: meros advogados de partidos políticos (advogados de porta de xadrez) catapultados ao status de Ministros de Estado, graças ao conluio e favorecimento políticos. As redes sociais também nos informam sobre a vida pregressa de alguns ministros que esforçam-se por esbanjar integridade, se bem que outrora sentaram-se e negociaram com chefes do tráfico e do crime organizado.

Será que somos tão tolos, ou está tendo lugar uma enorme preocupação em nos manter imbecilizados? Não vos enganeis, Vossas Excelências, pois são os aplicativos que nos alertam para as tramas urdidas dentre os politiqueiros de carreira, que apesar de terem sido indiciados por vários crimes, têm seus processos estagnados no STF até a prescrição. Sim, a internet nos põem de sobreaviso sobre as agressões à Constituição produzidas, exatamente, pelos representantes de nossa Corte Constitucional, como no caso de certo impeachment, onde se manteve a elegibilidade do impedido; como no tal inquérito das fake news, onde o ofendido coordena a investigação, intima testemunhas, expede mandados de busca e apreensão e também ordens de prisão. E isso sem levar em conta que o tal crime não é previsto em nosso Código Penal. Senhor Ministro, aqui vai uma dica sine pecunia; princípio básico de direito penal: “Não há crime sem lei que o pré-estabeleça”. As redes sociais revela-nos amiúde os nomes dos Ministros que, em decisão colegiada, manifestaram seus votos, de modo a escarrarem em seus pares, também magistrados, no extinguir os processos contra um inigualável ladrão, condenado já em terceira instância. E a prisão de deputado federal que, apesar da imunidade parlamentar, por ter exteriorizado sua opinião publicamente, teve prisão decretada pelo ofendido? E olha que ele não chamou ninguém de imbecil. Será que faz-se necessário mencionar a intromissão do STF em outros poderes?  

Bem, eu poderia ficar aqui a citar vídeos, a falar em entrevistas gravadas, em declarações de outrora, tanto de seus pares como de seus desafetos, para corroborar meus argumentos, afinal, democracia é convivência com a dialeticidade. Contudo, eu também poderia ser acusado de incorrer no inusitado crime das Fake News. Então, para provar que não sou tão imbecilizado como vossa declaração tentou afirmar, já que ofendido, e a fazer uso de meu direito de resposta, afirmo que Vossa Excelência proferiu vossa afronta apenas por tergiversar; na verdade uma hesitação, um subterfúgio. Vossa Excelência está a demonstrar tão somente insegurança, e isso não é elegante nem honesto para um representante da mais alta corte do país. Infelizmente, na atual conjuntura, o Supremo Tribunal Federal, graças a seus representantes, tornou-se não só alvo de chacota, mas também sinônimo de patifaria, velhacaria e canalhice.        

Um comentário:

  1. Como já disse um certo sábio acerca de 2000 anos atrás. Não passam de Fariseus hipócritas.

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