A aborrecida reunião condominial (existe alguma que não o seja?) arrastara-se por horas. Nesta oportunidade, lembro-me vagamente, conheci alguém que era da Marinha Mercante; sim, estava na ativa e era cozinheiro. Dias mais tarde, quando buscava adquirir um objeto qualquer em conhecida loja de utensílios para o lar, deparei-me com um sujeito que dizia chamar-se Alex e que atestava termo-nos conhecido na dita reunião de condomínio. Eu seria capaz de jurar que nunca o vira. Ele, então, disse-me ser o tal sujeito que vivia embarcado. Bem, esse fato não foi suficiente para reclamar-me a atenção.
De outra feita, em visita à casa de
duas amigas, conheci certo professor. Conversamos durante muito tempo, até
porque eu também fora professor. Foram causos e causos, acompanhados de
críticas e sorrisos. Algum tempo depois, também na casa das mesmas amigas,
voltei a encontrar-me com o tal professor. Ele estava distraído a ler um impresso
qualquer; cumprimentei-o e ocupei-me com outra coisa. Pouco tempo depois, ele abandonou
o sofá, despediu-se e foi-se. Como na despedida tivesse demonstrado muita
simpatia, perguntei às amigas: - Quem é? - Elas entreolharam-se e responderam
que nos conhecêramos em outra oportunidade. Ainda desta vez, o acontecido não
me preocupou.
Ontem, no supermercado próximo de
casa, depois de sair da fila dos caixas e procurar pela esposa, encontrei-a a
conversar com uma jovem senhora. Estendi a mão e cumprimentei-a. Como eu
demonstrasse sincero desconhecimento pela pessoa, minha mulher disparou: - “Esta
é Fulana, amiga de nossa filha” - Sim, de fato, minha filha tinha uma amiga com
aquele nome, amiga que durante algum tempo frequentara nossa casa. Mas o
encontro aconteceu como se eu nunca a tivesse visto. A jovem ficou meio
desconcertada, sorriu amarelo e despediu-se. A esposa reclamou, recriminou-me e
mostrou alguma preocupação.
Desta feita, busquei compreender o que
acontecia com frequência. Sim, aquilo chamava-se Prosopagnosia, ou seja, perda
na capacidade de reconhecer rostos. Todavia, quando divulguei a novidade aos
mais íntimos, certo primo, alguém, eu diria, com notável senso de oportunidade humorística,
confortou-me: - “Eu não vejo isso como algo grave. Imagine adentrares um avião
e te sentares ao lado da Gleisi Hoffmann, ou da Anitta, ou do Alexandre de
Moraes, quem sabe do Fernando Haddad, ou ainda de Luís Roberto Barroso e não os
reconhecer. Que benção! Invejo-te; existem males que vêm para bem!”
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