terça-feira, 26 de julho de 2022

Prosopagnosia

 

A aborrecida reunião condominial (existe alguma que não o seja?) arrastara-se por horas. Nesta oportunidade, lembro-me vagamente, conheci alguém que era da Marinha Mercante; sim, estava na ativa e era cozinheiro. Dias mais tarde, quando buscava adquirir um objeto qualquer em conhecida loja de utensílios para o lar, deparei-me com um sujeito que dizia chamar-se Alex e que atestava termo-nos conhecido na dita reunião de condomínio. Eu seria capaz de jurar que nunca o vira. Ele, então, disse-me ser o tal sujeito que vivia embarcado. Bem, esse fato não foi suficiente para reclamar-me a atenção.

De outra feita, em visita à casa de duas amigas, conheci certo professor. Conversamos durante muito tempo, até porque eu também fora professor. Foram causos e causos, acompanhados de críticas e sorrisos. Algum tempo depois, também na casa das mesmas amigas, voltei a encontrar-me com o tal professor. Ele estava distraído a ler um impresso qualquer; cumprimentei-o e ocupei-me com outra coisa. Pouco tempo depois, ele abandonou o sofá, despediu-se e foi-se. Como na despedida tivesse demonstrado muita simpatia, perguntei às amigas: - Quem é? - Elas entreolharam-se e responderam que nos conhecêramos em outra oportunidade. Ainda desta vez, o acontecido não me preocupou.

Ontem, no supermercado próximo de casa, depois de sair da fila dos caixas e procurar pela esposa, encontrei-a a conversar com uma jovem senhora. Estendi a mão e cumprimentei-a. Como eu demonstrasse sincero desconhecimento pela pessoa, minha mulher disparou: - “Esta é Fulana, amiga de nossa filha” - Sim, de fato, minha filha tinha uma amiga com aquele nome, amiga que durante algum tempo frequentara nossa casa. Mas o encontro aconteceu como se eu nunca a tivesse visto. A jovem ficou meio desconcertada, sorriu amarelo e despediu-se. A esposa reclamou, recriminou-me e mostrou alguma preocupação.

Desta feita, busquei compreender o que acontecia com frequência. Sim, aquilo chamava-se Prosopagnosia, ou seja, perda na capacidade de reconhecer rostos. Todavia, quando divulguei a novidade aos mais íntimos, certo primo, alguém, eu diria, com notável senso de oportunidade humorística, confortou-me: - “Eu não vejo isso como algo grave. Imagine adentrares um avião e te sentares ao lado da Gleisi Hoffmann, ou da Anitta, ou do Alexandre de Moraes, quem sabe do Fernando Haddad, ou ainda de Luís Roberto Barroso e não os reconhecer. Que benção! Invejo-te; existem males que vêm para bem!”   

Nenhum comentário:

Postar um comentário