domingo, 17 de julho de 2022

Syntirofobia

 

Carta aberta à boa vontade política

 

Venho por meio desta, mui respeitosamente, vindicar de V.Sªs. o reconhecimento da minoria a que pertenço. Afinal, assim quero crer, cabe a vós a prerrogativa de legislar e não ao STF - Supremo Tribunal Federal - como tem-se mostrado amiudadamente. A minoria de que vos falo vem sofrendo desvantagens sociais em face de, pontualmente ou simultaneamente, manifestar nível cultural ou econômico, ideologia política, herança étnica, orientação religiosa ou sexual, diversa daquela considerada “mais apta” à presente convivência social.

Em face da temática supracitada, vejo-me na obrigação de melhor explicitar o porquê de tal exigência. A esta altura, eu não saberia ao certo se, feliz ou infelizmente, reconheço-me como alguém de classe média. Fazer o quê? Tive um pai trabalhador, que lutou toda uma vida para conseguir realizar o sonho da casa própria, dar educação, algum conforto e cultura aos filhos, sem esperar por auxílio de governos e/ou governantes. Tive mãe prendada, que se esmerava em educar, através de exemplos, os pirralhos a seu encargo. Meus pais nunca - e assim me ensinaram - se fizeram vítimas da sociedade, responsabilizando-a por seus deslizes e/ou deméritos.  

Infelizmente (?), nasci de pele branca, e por isso sou discriminado. Talvez o discurso - que aos poucos torna-se hegemônico - venha pregando uma Asprodermofobia, ou seja, aversão à pele branca. Tive oportunidade de aprender música, e isso ainda no colégio público. Já não se fazem mais colégios como antigamente! O que houve com a educação? Falta de verbas? Ou foi o assimilar de uma nova didática? Hoje, lamentavelmente, minha base cultural é ridicularizada; fala-se em “reformas”, em “contracultura”. Mas o achincalhe, o menosprezo, demonstra o experienciar de uma “guerra cultural”, ou melhor, uma aversão à cultura.

Quando jovem, tive contato com o fumo. Sim, tornei-me fumante ainda muito cedo, só dele me livrando bem tardiamente. Contudo, apesar de ter vivido uma era de mudanças - Beatles, cabelos longos, calças jeans e tudo o mais -, minha formação familiar manteve-me longe das drogas. Hoje, sofro uma certa “distinção” por não ser a favor das drogas e colocar-me frontalmente contra sua legalização. Por que? Afinal, a mídia e os politiqueiros de plantão não poupam referências à “badalada” liberdade de expressão, tão típica da vera democracia. Perdoai-me Srs., mas reconheço-me refém de nova faceta da sociedade atual: a Narkomenosfobia, isto é, aversão ao não usuário de drogas.

Agora dizei-me: por que sou alvo de escárnio ao declarar-me religioso? Se não me falha a memória, a opção religiosa é constitucional. Por que não crer no improvável? Incrivelmente, o improvável conquista-me, conforta-me. Por que deificar seres humanos eivados de carências, falhas, equívocos? Por que eudeusar mitos criados por uma mídia tendenciosa? Por que divinizar heróis de fabricação duvidosa? Ficai certos, senhores, “nossos heróis morreram de overdose”; o cotidiano não nos fornece referências; há muito carecemos de estadistas. Ou será que, a exemplo de muitos, devo idolatrar um determinismo material? Meu refrigério vem, exatamente, do imaterial, do indeterminado, do metafísico. Por que, então, devo me submeter a uma irreligiosidade estulta?  

E, por fim, a clamar por vossa indulgência, venho confessar que, em minha educação, foi-me passado o modo um tanto “antiquado” no que tange ao exercício do cortejar. Eu falo de olhares e sorrisos acompanhados de todo um gestual, visando conquistar a pessoa com a qual simpatizamos. Todavia, já se fala em criminalizar olhares que manifestem conotação sexual. Por favor, dizei-me: como identificar tal olhar? Trata-se de percepção individual? E como tal percepção, já que individual, pode generalizar e apontar o crime? Parece-me, antes de tudo, que por conta do discurso feminista, vivemos uma geração doutrinada em aversão ao sexo; pelo menos ao sexo tido por convencional. Não, minto, a coisa vai bem mais longe: Hoje, não só o movimento feminista, mas também o dissimulado processo de emasculação, criaram uma sociedade que impõe sua Cisgênerofobia, ou seja, uma sociedade que demonstra abertamente aversão aos que possuem identidade de gênero idêntica à que lhe foi atribuída por nascimento. 

Sinto-me imerso numa espécie de dadaísmo social ou até mesmo perseguido por manifesta aversão ao comportamento conservador, Syntirofobia. Logo, espero contar com o empenho dos Srs. no sentido de tornar crime a perseguição gratuita aos heterossexuais, aos de pele branca, aos educados, aos religiosos, aos possuidores de alguma cultura, aos não usuários de drogas e aos não moradores de favelas. Já que minoria, gostaríamos de ter nossos direitos (modus vivendi) reconhecidos e que os tratamentos desiguais ou injustos a nós dispensados fossem punidos com o rigor da lei; que nos fosse proporcionado ressarcimento, bem como o direito de resposta. 

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