Dou início a este libelo desculpando-me pela forma
agressiva manifestada no título. Mas, que fazer? Parece ser a nova tônica do
discurso apologético à ignorância. Dizem-nos os docentes, os lentes, e da forma
mais indecente, que o título acima enquadrar-se-ia (perdoem-me a mesóclise) no
que chamam de linguagem popular, e que por ser popular, pode desvincular-se da
norma culta.
O absurdo da assertiva parece basear-se numa
confusão conceitual. E não sei ao certo se tal descalabro é fruto de uma real
ignorância, ou se tem por objetivo mascarar astutos e impensáveis projetos.
Vejamos: se, de fato, houve sinceridade por parte da professora que defende tão
veementemente o apedeutismo, o governo pode canalizar todo o percentual do PIB
destinado à educação - o que já não é muito - para outros projetos. Vamos
economizar! Se bem que economizar não seja apanágio dos governos brasileiros.
Para que pagar professores? E para que educação? E para que Ministério e
respectivo Ministro? Se a educação, em si, foi relegada a segundo ou terceiro
planos, ministro e ministério já não mais se justificam. E, por favor, que o
governo não se exima da responsabilidade de disseminar a banalização educativa,
pois os livros didáticos foram adquiridos e distribuídos pelo Ministério da
Educação sem o menor critério avaliativo. Só para que não caia no esquecimento:
este é o governo que tem a pretensão de reivindicar para o Brasil o status
de “primeiro mundo”.
Sempre surge alguém, ou “alguéns” (surpreendo-me
aqui lançando mão do recurso populacho na utilização da linguagem) defendendo o
insipiente governo. E os meus possíveis leitores perguntar-me-ão (eu e essa
minha mania de mesóclise): Por que? Simples! Tudo começou quando a ideologia
passou a frequentar as salas de aula. Não por ser ideologia, mas sim por ser
uma ideologia caquética, superada, mofada: a utilização da ideologia, não como
meio, mas como meio e fim, ou seja, uma realidade educacional onde basta o
conscientizar e o suscitar espírito crítico, em detrimento a qualquer conteúdo.
Todavia, o criticar exige conhecimento, isto é, conteúdo. Sem conteúdo, a
crítica dissipa-se.
O espírito crítico, neste caso, não admite antítese
- na verdade torna-se dogma - sob pena de algum incauto incorporar adjetivos
como: burguês, reacionário, de direita, etc. Sim, a ideologia vem em socorro de
uma esquerda ressentida, extemporânea. E o discurso desta esquerda confunde-se
e empenha-se em confundir conceitos. O ressentimento é tamanho que mesclam,
propositadamente, pobreza e ignorância. No âmbito deste discurso ideológico,
todo aquele que se comunica em língua culta, ou busca fazê-lo, é burguês, é
opressor, etc. A pobreza, nesta ótica canhestra e igualmente manipuladora,
vê-se obrigada a expressar-se erradamente para justificar uma ideologia
desengonçada. E chamam isso de expressão popular!
Não sem razão, a expressão popular diz-nos que “a
ignorância é atrevida”, pois a ignorância, quando travestida de sabedoria,
desemboca na arrogância. E esta é a promessa para as próximas gerações: a douta
e arrogante sabedoria! Tal declaração torna-se inconteste quando analisamos o
chavão “Universidade para todos”. Ora, de início a frase não passa de um
truísmo, pois a universidade está ao alcance de todos. Porém a coisa
perverte-se quando interpretada por uma ótica ideológica igualmente pervertida.
O governo, para corrigir os desmandos cometidos na educação básica, quando o
conteúdo deveria ser isonômico, independente de classe social, propõe e com
extrema facilitação, através de programas assistenciais e exames perfunctórios
o acesso ao terceiro grau. Em suma, adequa a universidade ao nível - e que
nível - dos pretensos bacharelandos, para mitigar a própria consciência.
A médio prazo teremos que conviver com erros
médicos, com construções inseguras, com advogados que recorrerão ao Google para
redigir uma simples petição inicial. O mercado de trabalho sofrerá uma certa
contração; bacharéis e mais bacharéis desempregados, justamente por não terem o
nível e o perfil de bacharéis; com a aplicação da lei de mercado, que trata da
oferta e da demanda, os salários despencarão; muitos, apesar do título do
terceiro grau, para fugirem do desemprego, conformar-se-ão com um empreguinho
de balconista, como escriturários ou até mesmo guiando táxis. E antes que o
discurso ideológico do ressentimento solicite minha cabeça, explico-me: o
balconista, o escriturário e o motorista são importantes em qualquer sociedade,
mas para exercer tais funções não precisam ficar quatro ou cinco anos em uma
faculdade, malbaratando seus próprios recursos ou o dinheiro do contribuinte. O
governo deveria pensar bem na importância das profissões técnicas e auxiliares,
antes de estar prometendo títulos de “Dotô” para toda a população, criando uma
expectativa desumana, perversa, torpe.
Quanto a mim, na condição de réu confesso, ou seja,
de direita, burguês, opressor, ou algo que o valha, dou-vos uma contribuição sine
pecunia: Conhecimento é mérito; não acreditem naqueles que prometem
igualdade através da banalização.
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