quinta-feira, 12 de abril de 2012

Podemos rasgar o dicionário


Dou início a este libelo desculpando-me pela forma agressiva manifestada no título. Mas, que fazer? Parece ser a nova tônica do discurso apologético à ignorância. Dizem-nos os docentes, os lentes, e da forma mais indecente, que o título acima enquadrar-se-ia (perdoem-me a mesóclise) no que chamam de linguagem popular, e que por ser popular, pode desvincular-se da norma culta.
O absurdo da assertiva parece basear-se numa confusão conceitual. E não sei ao certo se tal descalabro é fruto de uma real ignorância, ou se tem por objetivo mascarar astutos e impensáveis projetos. Vejamos: se, de fato, houve sinceridade por parte da professora que defende tão veementemente o apedeutismo, o governo pode canalizar todo o percentual do PIB destinado à educação - o que já não é muito - para outros projetos. Vamos economizar! Se bem que economizar não seja apanágio dos governos brasileiros. Para que pagar professores? E para que educação? E para que Ministério e respectivo Ministro? Se a educação, em si, foi relegada a segundo ou terceiro planos, ministro e ministério já não mais se justificam. E, por favor, que o governo não se exima da responsabilidade de disseminar a banalização educativa, pois os livros didáticos foram adquiridos e distribuídos pelo Ministério da Educação sem o menor critério avaliativo. Só para que não caia no esquecimento: este é o governo que tem a pretensão de reivindicar para o Brasil o status de “primeiro mundo”.
Sempre surge alguém, ou “alguéns” (surpreendo-me aqui lançando mão do recurso populacho na utilização da linguagem) defendendo o insipiente governo. E os meus possíveis leitores perguntar-me-ão (eu e essa minha mania de mesóclise): Por que? Simples! Tudo começou quando a ideologia passou a frequentar as salas de aula. Não por ser ideologia, mas sim por ser uma ideologia caquética, superada, mofada: a utilização da ideologia, não como meio, mas como meio e fim, ou seja, uma realidade educacional onde basta o conscientizar e o suscitar espírito crítico, em detrimento a qualquer conteúdo. Todavia, o criticar exige conhecimento, isto é, conteúdo. Sem conteúdo, a crítica dissipa-se.
O espírito crítico, neste caso, não admite antítese - na verdade torna-se dogma - sob pena de algum incauto incorporar adjetivos como: burguês, reacionário, de direita, etc. Sim, a ideologia vem em socorro de uma esquerda ressentida, extemporânea. E o discurso desta esquerda confunde-se e empenha-se em confundir conceitos. O ressentimento é tamanho que mesclam, propositadamente, pobreza e ignorância. No âmbito deste discurso ideológico, todo aquele que se comunica em língua culta, ou busca fazê-lo, é burguês, é opressor, etc. A pobreza, nesta ótica canhestra e igualmente manipuladora, vê-se obrigada a expressar-se erradamente para justificar uma ideologia desengonçada. E chamam isso de expressão popular!
Não sem razão, a expressão popular diz-nos que “a ignorância é atrevida”, pois a ignorância, quando travestida de sabedoria, desemboca na arrogância. E esta é a promessa para as próximas gerações: a douta e arrogante sabedoria! Tal declaração torna-se inconteste quando analisamos o chavão “Universidade para todos”. Ora, de início a frase não passa de um truísmo, pois a universidade está ao alcance de todos. Porém a coisa perverte-se quando interpretada por uma ótica ideológica igualmente pervertida. O governo, para corrigir os desmandos cometidos na educação básica, quando o conteúdo deveria ser isonômico, independente de classe social, propõe e com extrema facilitação, através de programas assistenciais e exames perfunctórios o acesso ao terceiro grau. Em suma, adequa a universidade ao nível - e que nível - dos pretensos bacharelandos, para mitigar a própria consciência.
A médio prazo teremos que conviver com erros médicos, com construções inseguras, com advogados que recorrerão ao Google para redigir uma simples petição inicial. O mercado de trabalho sofrerá uma certa contração; bacharéis e mais bacharéis desempregados, justamente por não terem o nível e o perfil de bacharéis; com a aplicação da lei de mercado, que trata da oferta e da demanda, os salários despencarão; muitos, apesar do título do terceiro grau, para fugirem do desemprego, conformar-se-ão com um empreguinho de balconista, como escriturários ou até mesmo guiando táxis. E antes que o discurso ideológico do ressentimento solicite minha cabeça, explico-me: o balconista, o escriturário e o motorista são importantes em qualquer sociedade, mas para exercer tais funções não precisam ficar quatro ou cinco anos em uma faculdade, malbaratando seus próprios recursos ou o dinheiro do contribuinte. O governo deveria pensar bem na importância das profissões técnicas e auxiliares, antes de estar prometendo títulos de “Dotô” para toda a população, criando uma expectativa desumana, perversa, torpe.
Quanto a mim, na condição de réu confesso, ou seja, de direita, burguês, opressor, ou algo que o valha, dou-vos uma contribuição sine pecunia: Conhecimento é mérito; não acreditem naqueles que prometem igualdade através da banalização.

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