quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Universidade não é para todos!



Parece-me que a tônica dos governos da pós-modernidade é administrar por chavões; ou seria um cabalístico dejá vu? A máxima em questão - Universidade para Todos - já desgastada, assume proporções sobremodo inconsequentes e irresponsáveis, olvidando a meritocracia tão necessária ao desenvolvimento de uma nação que tem a pretensão de dizer-se séria.
Não sei ao certo se tal postulado é refém de outra bizarrice inglesa que apregoa o “politicamente correto”. Mas em todo o caso, a primeira soa como complemento da segunda, criando, evidentemente, uma expectativa na população, que carece de um ensino rigoroso e sistemático, ensino este que tem como supedâneo o aporte insidioso de uma didática que exibe o epíteto de “construtivismo”.
Aqui, e a título de esclarecimento aos incautos, segue uma sintética explicação: o construtivismo de Piaget trata tão somente da estrutura cognitiva. A teoria levada a efeito pelo estudioso genebrino volta-se às etapas de aprendizado, mostrando a aptidão para assimilar o conhecimento vinculado a cada fase do desenvolvimento infantil. Como as etapas se mostram de modo cumulativo, Jean Piaget chamou tal estrutura de construtivismo, isto porque a faculdade de assimilar conhecimentos revela-se como uma construção. Não se trata, de modo algum, em atribuir ao aluno a responsabilidade de aprender o que quiser e quando quiser. Pelo exposto, pode-se presumir a torpe interpretação dada à teoria do filósofo suíço.
Mas, como se isso não bastasse, a ela - a torpe interpretação do construtivismo piagetiano - se une uma ideologia caquética e igualmente espúria, que proclama com acinte uma educação que tem como finalidade precípua a “formação de cidadãos com espírito crítico”. Inadvertidamente ou não, desprezam os “novos didatas” que - e a frase não é minha, mas de Ludwig Wittgenstein -“a crítica pressupõe conhecimento”. Trocando em miúdos: para criticar faz-se mister conhecimento para fazê-lo; não se critica a partir do nada, sem embasamento, sem conteúdo. Estamos diante, portanto, de uma capenga fabulação.
Mas a educação (?) segue seu curso normal (?) formando cidadãos com espírito crítico (?). Todavia, esses cidadãos não conseguem realizar um simples cálculo aditivo ou subtrativo sem auxílio de uma calculadora, - quando sabem usar uma calculadora - pois não leem o manual de instruções porque não sabem fazê-lo. Mas são cidadãos e possuem espírito crítico (?). E é com esse “vigor literário e científico” que tais cidadãos adentram as universidades.
Neste ínterim cabem algumas perguntas: porque todos na universidade? A frase sugere uma nação composta apenas por profissionais liberais. É isso? E os técnicos? E os serviços? E as atividades primárias? Olvidam os ilustres “condutores” desta nação que tal proposta, se realizada, pode desembocar numa inversão social, haja vista alguns exemplos de países da extinta Cortina de Ferro. Não! Há somente uma patente preocupação com índices; e só. Como decorrência desta comédia, percebe-se a aleivosia do Estado, pois cria em seus cidadãos a expectativa de torná-los “doutores”, esquecendo premeditadamente que o mercado de trabalho é seletivo. O princípio darwiniano não seria mais bem empregado como no mercado de trabalho: “only the strong survive”. Então observamos placidamente a banalização das profissões liberais, onde os conhecimentos se mostram pífios e os salários se mostram parcos. 
Bem, mas as universidades tiveram que se adaptar às exigências sociais. As instituições privadas aboliram o vestibular, afinal toda e qualquer empresa privada visa, antes de tudo, o lucro. Então vêm as facilitações, as condutas permissivas, a esfera dúctil nos critérios do aprendizado.  E as universidades públicas? Essas se vergaram aos desmandos e aos chavões do estado-providência, franqueando suas portas para as cotas, realizando assim a expectativa de um governo reconhecido por sua ingerência, mas que tenta reparar, e do modo mais escabroso, as estultícias deslavadas levadas a termo nos ensinos fundamental e médio. Todavia, as universidades públicas ainda impõe critérios “rígidos”(?) para aqueles que nela pretendem ingressar (entenda-se por critérios rígidos o fato de estudar para ter acesso às mesmas). Então, o governo cria programas de financiamento para que os “discriminados” pelas instituições públicas conquistem “seu lugar ao Sol” nas instituições particulares. O citado programa - vale a pena frisar - é bancado com o dinheiro dos contribuintes.
Campeia pelos abstrusos corredores do poder a ideia de que a política de cotas seria a solução exemplar para se reverter as gritantes diferenças sociais no país. Aqui fazem-se necessárias algumas desmistificações: a primeira delas é de o governo se dedica com afinco às distorções sociais. Bobagem! Se tal acontecesse, a primeira coisa a ser feita seria uma reforma fiscal, buscando uma melhor distribuição de rendas. A segunda é de que, com o discurso recheado de um sociologismo ultrapassado e canhestro, declara que “alguns não tiveram oportunidades”. Acabemos também com essa falácia. Todos nós temos oportunidades! O que há é uma acomodação do povo, originada nos vetustos e seguidos governos populistas que, além dos programas de “facilitação”, evidentemente em busca de apoio, agora se valem de mais um chavão, jogando a responsabilidade nos braços daqueles que, com seus impostos, custeiam os programas acima referidos. Mais uma vez o governo lança o mérito no ostracismo. A facilitação e os favores anulam quaisquer estímulos, aniquilam quaisquer iniciativas, estabelecendo destarte, uma demente forma de persecução a objetivos.
Ainda como sucedâneo desta inaudita chocarrice, encontro professores formados em “linhas de montagem” e com títulos de bacharéis em pedagogia, com o fito de alfabetizar os “excluídos”. Mais um pertinente questionamento se nos afronta: “professores” que não cultivam o hábito da leitura, justamente por não gostarem ou saberem fazê-lo, podem incentivar seus pupilos à leitura? E neste quadro dantesco, como ficam as pesquisas? E o desenvolvimento científico desta nação? Para ser sucinto: água abaixo!
Inconteste o fato de que tornamo-nos reféns do tempo. Não ensejando ser elitista, mas com a necessidade de sê-lo, outra vez cito Wittgenstein: “Os limites do meu mundo são os limites do meu conhecimento”. Que horizontes limitados tem essa nação! Infelizmente. Acredito que, pelo menos, nos próximos quarenta anos vindouros, o Brasil ressentir-se-á desta anomalia sócio-político-educacional epidêmica. 

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