Uma das características mais
marcantes da pós-modernidade é a luta inescrupulosa do ser humano para se
tornar celebridade. Tal proceder não implica necessariamente a conquista da riqueza,
mas o reconhecimento em si. Platão nos fala do conceito de thimo: algo intrínseco à natureza humana; um querer ser e
permanecer em si; a vontade de dominar os semelhantes e sentir-se superior a
estes.
Muito embora todo meu
esforço para entender antropológica e filosoficamente esta faceta da natureza
humana, os dias de hoje me extenuam, pois se nos apresentam como uma
exacerbação desta concepção, até porque o conceito de thimo não se confunde com o de vaidade. Não me arriscaria em falar
que chegamos ao limiar da vaidade humana, pois que o ser humano continua sendo
uma incógnita, ou melhor, o inapreensível. Em todo o caso, permito-me declarar
que atingimos um nível de vaidade já bem próxima do insuportável, do
intolerável. Mas a vaidade, o querer tornar-se
celebridade, tão bem recepcionado pela pós-modernidade, trouxe em seu encalço a
sua própria negação - uma dialética necessária tipicamente hegeliana. Refiro-me
àqueles que buscam as celebridades, não com intuito de cultuá-las, de
promovê-las, mas com o único propósito de expô-las ao ridículo, de
fragilizá-las, constrangê-las. O que não deixa de ser também uma enorme
vaidade.
Aqui me parece crucial
estabelecer a diferença fundamental entre tornar-se celebridade e ser
celebridade. Estas últimas parecem ser alvos preferidos dos ditos paparazzi. A família real inglesa, por
exemplo, vem se mostrando presa fácil desta modalidade que mescla arte,
técnica, labor e mexerico. Sem pudor,
sem caráter, e igualmente sem escrúpulos, fotógrafos perseguem os famosos para
surpreendê-los em alguma gafe, aleivosia, algum tropeço. Os assédios são
invasivos, olvidam a privacidade, conspurcam a intimidade, invadem
propriedades. Todavia, tais “profissionais”, além de afirmarem-se como seres
humanos, satisfazendo suas vaidades pessoais, são recompensados financeiramente
por tabloides sensacionalistas. Quem diria! Tabloides sensacionalistas
ingleses: a terra do politicamente correto. Mas tais tabloides subsistem porque
de certo modo alimentam o doentio arcabouço da existência humana e sua típica
vaidade.
Fechado o ciclo, infiro a
perspicácia de Heráclito de Éfeso, ao declarar em seu fragmento que “o início e
o fim é uma e a mesma coisa”. Ainda atônito, percebo também que posso
corroborar as palavras do Eclesiastes: Vaidade de vaidades; tudo é vaidade
embaixo do céu!
A vaidade de aparecer das celebridades, a necessidade de vender dos paparazzi e a necessidade humana de ver o outro exposto. É um ciclo. Uma cadeia de carniças e urubus, que todos nós tristemente participamos.
ResponderExcluirE quem não quer ser "estrelinha" hoje em dia?
Amei o texto.