domingo, 11 de novembro de 2012

Do complexo de Peter Pan ou da Ingenuidade




Surpreendo-me, e não raramente, dentre muitos dos meus solilóquios, questionando o porquê de certas pessoas - pelo menos assim me parece - negarem-se a crescer. Reformulando: por que algumas pessoas teimam em permanecer crianças? Esse questionamento conduz-me a outra questão: O que é ser criança? O que existe de tão atrativo na infância? Tais perguntas me soam intrigantes. Pesquisemos, pois!
Crianças são seres que primam pela simplicidade. E quando falo em simplicidade reporto-me ao caráter originário, genuíno, o natural. Crianças manifestam sinceridade, desafetação, ou seja, carecem de vaidade, de pedantismo, de verniz social. Não obstante, as crianças estão inseridas no convívio social, estão no mundo, no mundo da vida - no Lebenswelt. E o que a vida lhes fornece em retribuição? Brinda-as com a hipocrisia, com a mentira, coma arrogância, com a ganância, com a mesquinhez. Mas o fato de brindar não é suficiente, pois as cobranças são insaciáveis. Há como que uma exigência social - e o processo tem início na educação doméstica - de perverter o caráter originário, de aniquilar o natural. Toda a educação no lar visa, estritamente, moldar, modelar, superar, romper o caráter genuíno dos rebentos, de modo a criar seres que atendam exemplarmente às expectativas sociais. E essa “linha de montagem” acaba por criar “máscaras”, por onde pessoas, já adultas, respiram, transpiram, gritam, sorriem, choram, amam, sofrem, desempenhando seu papel no teatro da vida. (melhor seria falar em burlesca comédia).
No entanto, há aqueles - acredito serem pouquíssimos - que se negam a desempenhar tal papel, muito embora a educação social ter-lhes sido apresentada. Como a sociedade não se conforma em abrigar atores que lhes contesta o roteiro preestabelecido, ela os retribui com o adjetivo ingênuo. E o que seria a ingenuidade? A ingenuidade só pode ser atribuída a alguém que contraria - contrariar aqui deve ser entendido como não ter apreço - os valores sociais; àquele que quebra, ou tenta romper paradigmas sociais. Ser ingênuo é viver em uma dimensão similar a uma bolha, é optar pelo autismo, isto é, tornar-se autista por espontânea vontade e permanecer fiel a seu caráter natural, o que exige extrema capacidade, tenacidade, dom. A ingenuidade é, em si, um eufemismo para se falar do pária, ou seja, daquele que a sociedade exclui. O adjetivo ingênuo é uma criação descortês, fruto do ressentimento social, e atribuído a todo aquele que quer permanecer em sua naturalidade, em sua genuinidade. O ingênuo é o que se opõe ao genuíno.
Portanto, presto aqui minha invejosa solidariedade àqueles que demonstram a devida coragem para se voltarem a si mesmos e optar pela “Terra do Nunca” - Neverland - em detrimento à farsa social.

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