Há não muito, circulou pelo Congresso Nacional, assim
soube, um projeto de lei que visava esterilizar todos os cães da raça Pit Bull.
A sustentação fundamental de tal projeto seria o já badalado argumento da
agressividade, periculosidade, nocividade e outras “dades” que transitam pelo
linguajar dos seres humanos.
Bem, parto do princípio
que, se para nos livrar de certos perigos - mesmo aqueles que envolvem de perto
a vida humana - usássemos o recurso da esterilização, algumas perguntas
ficariam sem respostas. Por exemplo: a quantidade de vítimas fatais no trânsito
é aterradora. Que fazer? Esterilizar os automóveis? Ou a raça de motoristas
irresponsáveis que exibem uma habilitação para conduzi-los? Talvez devamos nos
ocupar das autoridades que fornecem sem quaisquer critérios as habilitações.
Mas falemos em animais.
Devemos esterilizar as baleias Orca Orcinus
para que não mais matem e/ou afoguem seus treinadores. E olha que o nome
Orcinus é bem sugestivo: significa “do Inferno”.
Neste ponto posso ser
acusado de retórico. Solicitando vênia, retomo minha argumentação com um acento
mais pragmático. O que fazer com o sem número de assassinos que cresce em
proporção geométrica numa sociedade onde a violência é banalizada? Esterilizá-los?
De certo que não.
E os envolvidos na guerra
do tráfico que acumulam vítimas sobre vítimas e exibem com soberba seus feitos
na mídia e na sociedade? Também esteriliza-los?
Certamente existem males
bem piores na sociedade do que cães, agressivos ou não. Existem males que estão
além do fazer mal ao dono: são aqueles nocivos a toda uma sociedade; são
aqueles que, pautados no cinismo e na hipocrisia, dissimulam sua própria
nocividade; são aqueles que, sob a égide de uma pseudoautoridade, usam do
recurso de uma imunidade parlamentar, de um foro privilegiado. Eles matam,
quando embriagados ou não; eles usurpam e não de modo inconsciente; eles
extorquem, e para tal fazem uso da racionalidade. Eles preterem, discriminam,
molestam.
Neste caso, já que a
palavra de ordem é esterilizar, esterilizemos, portanto, a classe política!
Quem sabe uma geração alheia a esta raça anômala possa nos agraciar com a
dignidade?
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