Surpreendo-me, e não raramente, dentre muitos
dos meus solilóquios, questionando o porquê de certas pessoas - pelo menos
assim me parece - negarem-se a crescer. Reformulando: por que algumas pessoas
teimam em permanecer crianças? Esse questionamento conduz-me a outra questão: O
que é ser criança? O que existe de tão atrativo na infância? Tais perguntas me
soam intrigantes. Pesquisemos, pois!
Crianças são seres que primam pela
simplicidade. E quando falo em simplicidade reporto-me ao caráter originário,
genuíno, o natural. Crianças manifestam sinceridade, desafetação, ou seja,
carecem de vaidade, de pedantismo, de verniz social. Não obstante, as crianças
estão inseridas no convívio social, estão no mundo, no mundo da vida - no Lebenswelt. E o que a vida lhes fornece
em retribuição? Brinda-as com a hipocrisia, com a mentira, coma arrogância, com
a ganância, com a mesquinhez. Mas o fato de brindar não é suficiente, pois as
cobranças são insaciáveis. Há como que uma exigência social - e o processo tem
início na educação doméstica - de perverter o caráter originário, de aniquilar
o natural. Toda a educação no lar visa, estritamente, moldar, modelar, superar,
romper o caráter genuíno dos rebentos, de modo a criar seres que atendam
exemplarmente às expectativas sociais. E essa “linha de montagem” acaba por criar
“máscaras”, por onde pessoas, já adultas, respiram, transpiram, gritam,
sorriem, choram, amam, sofrem, desempenhando seu papel no teatro da vida. (melhor
seria falar em burlesca comédia).
No entanto, há aqueles - acredito serem
pouquíssimos - que se negam a desempenhar tal papel, muito embora a educação
social ter-lhes sido apresentada. Como a sociedade não se conforma em abrigar
atores que lhes contesta o roteiro preestabelecido, ela os retribui com o
adjetivo ingênuo. E o que seria a ingenuidade? A ingenuidade só pode ser
atribuída a alguém que contraria - contrariar aqui deve ser entendido como não
ter apreço - os valores sociais; àquele que quebra, ou tenta romper paradigmas
sociais. Ser ingênuo é viver em uma dimensão similar a uma bolha, é optar pelo
autismo, isto é, tornar-se autista por espontânea vontade e permanecer fiel a
seu caráter natural, o que exige extrema capacidade, tenacidade, dom. A ingenuidade
é, em si, um eufemismo para se falar do pária, ou seja, daquele que a sociedade
exclui. O adjetivo ingênuo é uma criação descortês, fruto do ressentimento social,
e atribuído a todo aquele que quer permanecer em sua naturalidade, em sua
genuinidade. O ingênuo é o que se opõe ao genuíno.
Portanto, presto aqui minha invejosa
solidariedade àqueles que demonstram a devida coragem para se voltarem a si
mesmos e optar pela “Terra do Nunca” - Neverland
- em detrimento à farsa social.
Simplesmente amei!!!
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