domingo, 15 de dezembro de 2013

E o sertão vai virar mar...


Quando pensava ter presenciado o limiar do populismo, deparo-me, e de modo inesperado, com mais uma das aleivosias escabrosas que soem ser apanágio da politicagem cínica, pois as palavras do pregador Jesuíno - “o sertão vai virar mar” - parecem tomar um novo fôlego diante da anencefálica decisão do Prefeito de João Pessoa. E vós, meus possíveis e incautos leitores, deveis desistir de ler Euclides da Cunha.

Bem, mas não vou me alongar neste introito, criando assim um clima de expectativa, pois a notícia em si já é suficiente para proporcionar não só tensão, mas desgosto e revolta. Pasmem: o nosso prefeito fará cair sobre João Pessoa algumas centenas de quilos de neve artificial, transportadas por helicópteros. Certamente, pensa ele, em sua menoridade administrativa, estar proporcionando ao nordestino - mais especificamente ao pessoense - um natal europeu ou estadunidense. Certamente o povo, e sempre o povo, manipulado, maltratado, vilipendiado - e dentre estes não distingo seus bajuladores e/ou séquito de prepostos igualmente manipulados - irão delirar com os flocos de gelo sobre suas cabeças ocas.

Quem sabe João Pessoa doravante não passará a constar dos guias turísticos do nordeste, ostentando o novo slogan de “única cidade nordestina a ter neve”? De certo que os turistas hão de vir (Que novidade não atrai turistas?), mas encontrarão uma cidade mal conservada, insegura, despreparada e ignorante. Talvez a neve sirva para além de atrair turistas, que daqui se evadirão com os sorrisos plenos de escárnios dado ao ridículo da empreitada, justificar igualmente a inépcia de seus secretários - além do de Turismo, é claro - que assumem cargos, não por terem qualificação para sê-los, mas pelo apadrinhamento contumaz que vagueia pelas vacâncias da polis.

Então, pautado nas predições dos incorrigíveis otimistas, posto que disseminam a premissa de que em toda desgraça deve-se vislumbrar o lado positivo, convido-vos a uma breve análise: O absurdo da nevasca em pleno verão nordestino, por certo, culminará num incontornável suicídio político. O que é muito bem vindo, afinal, seria um a menos para conspurcar a boa fé pública. E a vós, que se solidarizais com os expedientes espúrios dos que se empenham em atender plenamente ao estereótipo do cinismo político, os meus votos de um Bom Natal, repleto de neve e descaramento. E tudo isso proporcionado por um outro Noel: Noel Cartaxo.

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