Gente, não é inveja... eu diria ...
imensa admiração. Como eu gostaria de ser Esopo! de conseguir fabular! Mas onde
encontrar um animal que preencha todas as características dos homens e mulheres
públicas? (Não necessariamente nesta ordem). Não se deve somente abarcar uma
única faceta, pois que isso descaracterizaria a pessoa pública. Falar somente
em desonestidade é muito limitante; falar só em corrupção passiva e/ou ativa é
ser superficial; falar unicamente em falta de escrúpulos é irrisão; falar
apenas em vigarice é abusar do arrefecimento.
Neste passo, sou levado a crer, em
definitivo, na afirmação de que o ser humano é superior aos demais animais. Todavia,
discorramos, um pouco que seja, acerca de algumas espécies. Falemos do Canis
Lupus (o lobo): pessoas públicas também vivem em alcateias, ou seja, em seus
respectivos partidos políticos; refugiam-se em ideologias. Ainda na família
Canidae, as raposas: o ardil é fenótipo dentre a classe que se faz
privilegiada. Visitemos o serpentário, as Cobras: bem, pelo menos contra os
efeitos das toxinas inoculadas pelas serpentes há o soro antiofídico. E a
ferocidade tão presente nos Alligatoridae, jacarés; nos Rinocerontes e nos Felidae,
ou seja, leões, tigres, leopardos, etc. Contudo, por mais terrível que sejam,
nada se compara ao cinismo, à infâmia, à torpeza, à mesquinhez das pessoas
públicas.
Que fazer, então? Em respeito aos animais, criemos um novo pet,
um amálgama em forma de bichinho - não de estimação - que colija todos estes
“sinais distintivos”. Que tal um corpinho similar ao de urso ainda filhote? A
aparência de quem inspira confiança é fundamental. Há que manifestar certa fleuma.
Não obstante, a desfaçatez é inevitável; a desonestidade gritante deve ser
incomensurável. Não deixemos de lado a facúndia ignominiosa dos ministros do
Supremo Tribunal Federal. O mau-caratismo não pode ser olvidado. E por que não
a arrogância? Um tanto de desonestidade será bem-vinda. Não esqueçamos da
psicopatia que acomete a muitos e da manipulação cognitiva que bloqueia o
raciocínio de tantos outros.
Bem, longe de pleitear o status de um
Demiurgo, posso declarar-me - sem me envaidecer -criador de uma criatura vil e
desprezível que venha servir de base à minha primeira fábula. Mas por favor,
não confundais com Mary Shelley e seu Frankenstein; minha intenção diverge totalmente
da autora. Eu dou vida a um aleijão, a uma amoralidade. Seu nome? Cientificamente
eu chamaria de Teratodemo, uma singular espécie de mamífero, oriunda da
deformidade de caráter, tipo de monstruosidade advinda do humano. Sim, seria o substrato
que germina espontaneamente da escória; da choldra irresponsável que causa
repugna e ânsias de vômito. Entretanto advirto-vos: Não vos preocupeis, “esta é
uma obra de ficção; qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas será
coincidência”.
Então, em uníssono gritaríeis: Allez
poète! E na qualidade de poeta rapsodo, ou fabulador, inicio minha narrativa.
Um teratodemo, exemplar originado no
âmago de certa nação, amiúde lançava mão de recursos os mais mesquinhos para
entorpecer os sentidos e a razão dos habitantes, seus pares. Isso fazia-se
necessário para melhor governá-los e tê-los sob rédea curta. Os vis expedientes
variavam do estímulo à sensualidade exacerbada, dos discursos retóricos, da
irresponsabilidade nas comemorações, até o financiamento das mais variadas
festas, que ostentavam o título de manifestação cultural. E como os autóctones
viviam numa espécie de limbo, eles eram explorados, expropriados, achincalhados
e manipulados. Certa feita, no entanto, a coruja resolveu dar um basta naquela
situação e mostrar-se imune ao indutor, ao incitador. Sim, poder-se-ia aqui
estabelecer um paralelo à Caverna de Platão, pois sempre haverá um insurreto
dentre os manipulados. A insurgência escreve a história e é bem-vinda porque
rompe com o estabelecido. E o insurreto, a coruja, portanto, tratou de
despertar o povo tradicionalmente sonolento. Em conversa com o teratodemo, a
coruja perguntou: - “Por que te fazes amigo desse povo somente com a intenção
de explorá-lo? Por que os engana com teus discursos vazios? Por que os
manipula? Por que fazes da nação que também é tua um antro de analfabetos, de
preguiçosos, de oportunistas? Por que enalteces as iniquidades e as ações dos
pervertidos? Por que os vitimiza?” Mas o teratodemo nada respondeu. Apenas
virou as costas e deu início a uma perseguição sem par, na tentativa de
desmascarar a coruja, que de fato, preocupava-se com a nação e com o povo que a
integrava. O teratodemo, apesar de dizer-se poderoso, sucumbiu, mostrou-se
fraco, pusilânime; uma farsa é o que melhor pode diagnosticá-lo.
Bem, nesse momento todos vós aguardais
ansiosamente pela moral da história. Aqui a tens, nas palavras de Abraham
Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por
todo o tempo, mas não se pode enganar a todos por tanto tempo”.
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