segunda-feira, 27 de maio de 2019

Hominem publicae: de te fabula narratur



Gente, não é inveja... eu diria ... imensa admiração. Como eu gostaria de ser Esopo! de conseguir fabular! Mas onde encontrar um animal que preencha todas as características dos homens e mulheres públicas? (Não necessariamente nesta ordem). Não se deve somente abarcar uma única faceta, pois que isso descaracterizaria a pessoa pública. Falar somente em desonestidade é muito limitante; falar só em corrupção passiva e/ou ativa é ser superficial; falar unicamente em falta de escrúpulos é irrisão; falar apenas em vigarice é abusar do arrefecimento.

Neste passo, sou levado a crer, em definitivo, na afirmação de que o ser humano é superior aos demais animais. Todavia, discorramos, um pouco que seja, acerca de algumas espécies. Falemos do Canis Lupus (o lobo): pessoas públicas também vivem em alcateias, ou seja, em seus respectivos partidos políticos; refugiam-se em ideologias. Ainda na família Canidae, as raposas: o ardil é fenótipo dentre a classe que se faz privilegiada. Visitemos o serpentário, as Cobras: bem, pelo menos contra os efeitos das toxinas inoculadas pelas serpentes há o soro antiofídico. E a ferocidade tão presente nos Alligatoridae, jacarés; nos Rinocerontes e nos Felidae, ou seja, leões, tigres, leopardos, etc. Contudo, por mais terrível que sejam, nada se compara ao cinismo, à infâmia, à torpeza, à mesquinhez das pessoas públicas.

Que fazer, então? Em respeito aos animais, criemos um novo pet, um amálgama em forma de bichinho - não de estimação - que colija todos estes “sinais distintivos”. Que tal um corpinho similar ao de urso ainda filhote? A aparência de quem inspira confiança é fundamental. Há que manifestar certa fleuma. Não obstante, a desfaçatez é inevitável; a desonestidade gritante deve ser incomensurável. Não deixemos de lado a facúndia ignominiosa dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O mau-caratismo não pode ser olvidado. E por que não a arrogância? Um tanto de desonestidade será bem-vinda. Não esqueçamos da psicopatia que acomete a muitos e da manipulação cognitiva que bloqueia o raciocínio de tantos outros. 
  
Bem, longe de pleitear o status de um Demiurgo, posso declarar-me - sem me envaidecer -criador de uma criatura vil e desprezível que venha servir de base à minha primeira fábula. Mas por favor, não confundais com Mary Shelley e seu Frankenstein; minha intenção diverge totalmente da autora. Eu dou vida a um aleijão, a uma amoralidade. Seu nome? Cientificamente eu chamaria de Teratodemo, uma singular espécie de mamífero, oriunda da deformidade de caráter, tipo de monstruosidade advinda do humano. Sim, seria o substrato que germina espontaneamente da escória; da choldra irresponsável que causa repugna e ânsias de vômito. Entretanto advirto-vos: Não vos preocupeis, “esta é uma obra de ficção; qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas será coincidência”.

Então, em uníssono gritaríeis: Allez poète! E na qualidade de poeta rapsodo, ou fabulador, inicio minha narrativa.

Um teratodemo, exemplar originado no âmago de certa nação, amiúde lançava mão de recursos os mais mesquinhos para entorpecer os sentidos e a razão dos habitantes, seus pares. Isso fazia-se necessário para melhor governá-los e tê-los sob rédea curta. Os vis expedientes variavam do estímulo à sensualidade exacerbada, dos discursos retóricos, da irresponsabilidade nas comemorações, até o financiamento das mais variadas festas, que ostentavam o título de manifestação cultural. E como os autóctones viviam numa espécie de limbo, eles eram explorados, expropriados, achincalhados e manipulados. Certa feita, no entanto, a coruja resolveu dar um basta naquela situação e mostrar-se imune ao indutor, ao incitador. Sim, poder-se-ia aqui estabelecer um paralelo à Caverna de Platão, pois sempre haverá um insurreto dentre os manipulados. A insurgência escreve a história e é bem-vinda porque rompe com o estabelecido. E o insurreto, a coruja, portanto, tratou de despertar o povo tradicionalmente sonolento. Em conversa com o teratodemo, a coruja perguntou: - “Por que te fazes amigo desse povo somente com a intenção de explorá-lo? Por que os engana com teus discursos vazios? Por que os manipula? Por que fazes da nação que também é tua um antro de analfabetos, de preguiçosos, de oportunistas? Por que enalteces as iniquidades e as ações dos pervertidos? Por que os vitimiza?” Mas o teratodemo nada respondeu. Apenas virou as costas e deu início a uma perseguição sem par, na tentativa de desmascarar a coruja, que de fato, preocupava-se com a nação e com o povo que a integrava. O teratodemo, apesar de dizer-se poderoso, sucumbiu, mostrou-se fraco, pusilânime; uma farsa é o que melhor pode diagnosticá-lo.

Bem, nesse momento todos vós aguardais ansiosamente pela moral da história. Aqui a tens, nas palavras de Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo, mas não se pode enganar a todos por tanto tempo”.

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