Gente, sou réu confesso; eu não
entendo! Afinal, qual a diferença entre sonho e pesadelo? Estaria simplesmente
na divergência de emoções? Será que o irrealizado na dimensão onírica não
implica pesadelo? O sonho nada mais é do que um conjunto de ideias e imagens
que se me apresentam durante o sono. Pergunto: tais imagens e ideias devem ser,
necessariamente, prazerosas? Pesadelo, por sua vez, é entendido como um mal
sono, inclusive onirodinia. Bem, então, em face da complexidade do tema, decidi
escrever o presente texto para que vós me auxilieis na compreensão do assunto.
Sonhei... Ou será que foi pesadelo?
Bem, durante o sono, a imagem e sensação que me foi projetada era de que eu
havia contraído o Novo coronavírus ou Covid 19. Eu, detalhista por excelência,
questiono? Se estamos diante de uma pandemia do Novo coronavírus, por onde
andará o antigo coronavírus? Ou melhor: o que fizeram da versão vintage do
coronavírus? Enquanto a resposta não me chega, darei prosseguimento ao sonho...
ou seria pesadelo? Ciente, oniricamente, de que a doença conduzir-me-á
rapidamente à morte, volto-me a Deus. Curioso é como, em certas situações, os
seres humanos logo buscam à Deus. – “Senhor,
sou tão jovem; 68 anos apenas”. (Aqui percebe-se uma linha de argumentação bem característica
dos cínicos. Desde quando 68 anos é jovem? Sim, apelei para o mantra da ridícula
modernidade, ou seja, a falácia da melhor idade). E continuo minha rogativa: – “Eu
tinha tanto para fazer, tanto para contribuir com a humanidade...” Todavia,
estou certo de que Deus não me deu ouvidos; Ele conhece bem o pedido de qualquer
descarado!
Mesmo na condição de adormecido, não
pulei as etapas identificadas pela psicologia em face do trágico. Sim, meu
choque inicial envolveu a evocação a Deus. Em um segundo momento, eu neguei.
Lógico, neguei. Como? Eu? Este que vos fala, bem criado, cidadão, ciente de
seus deveres e exímio pagador de impostos? Criado com leite de cabra,
Calcigenol irradiado e muito abacate com açúcar e aveia? Eu? Esbanjando saúde? Por
onde andariam meus anticorpos? Férias? Outra descoberta: Pasmai! Disseram-me
que alguns anticorpos tornaram-se Micro Empresários Individuais. Contudo, de
nada adiantou negar. Então veio a raiva: Chamei os laboratoristas de
irresponsáveis; xinguei o médico de pilantra, de terrorista. (Não sei porque,
mas eu só pensava no Dráuzio Varella). Recusei-me à quarentena.
E chegou a fase da barganha. Devo
alertar-vos de que eu continuava mergulhado em profundo sono. Pois bem, mesmo
entorpecido propus-me fazer algo que pudesse, de certo modo, mitigar meus
últimos instantes nesta vida. Louca Vida! Faria algo para auxiliar o meu país.
Em sonho, abandonei o hospital furtivamente e fui para o aeroporto. (Como tudo
se torna fácil quando em sonho, ou seria pesadelo?) No aeroporto, a fazer uso
de cartão de crédito, comprei passagem para Brasília. Sim, eu queria fazer
minha parte enquanto cidadão; eu queria abraçar o Lula, beijar a Dilma, o Rodrigo
Maia, o Alcolumbre, a Gleisi Hoffmann, a Maria do Rosário (sem temer o processo
por assédio sexual); eu gostaria de abraçar Sua Excelência o Ministro Marco
Aurélio Mello, a Celso de Melo, a Lewandowski, beijar Rosa Weber, Carmem Lúcia
e, por uma boa causa beijar as beiçolas de Gilmar Mendes. No entanto, não me
foi possível; os seguranças barraram-me. Volto a perguntar-vos: O irrealizado
no sonho não se revela como pesadelo?
Não, não desisti. Voltemos à fase da
barganha. Fui para o aeroporto e adquiri passagem para o Rio. Sim, ainda na
condição de dormente, embarquei para o Rio de Janeiro. Após a aterragem
dirigi-me à Rede Globo; eu gostaria de um modo ou de outro exercer minha
cidadania. Em lá chegando eu queria abraçar Tiago Leifert, responsável pelo câncer
televisivo que atende pelo nome de Big Brother. Mas eu queria mais: gostaria de
abraçar o William Bonner e sua partner; queria beijar sua ex., a Fátima Bernardes.
Túlio Gadelha? Não, definitivamente não! Eu tencionava abraçar Sandra Annenberg
e Miriam Leitão. Como gostaria de abraçar o Faustão, o Luciano Huck e o intelectualoide
de botequim que atende pelo nome de Pedro Bial. Não, não me esqueci do Serginho
Groisman. E para finalizar, como eu queria beijar a Ana Maria Braga. Porém, as
coisas, mesmo em sonho (pesadelo?) não saíram como eu esperava. Os seguranças
não permitiram que deles me aproximasse.
Prezados, então, ainda dormindo,
adentrei a fase do reconhecimento da perda. Mas o que me conduziu à depressão
não foi o irrealizado durante o sonho; foi exatamente a única realização.
Imaginai! Depois de zanzar desordenadamente pelo Projac, consegui apenas
abraçar e beijar o louro José! Pergunto-vos: foi sonho ou pesadelo?
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