segunda-feira, 9 de março de 2020

Sonho ou pesadelo?



Gente, sou réu confesso; eu não entendo! Afinal, qual a diferença entre sonho e pesadelo? Estaria simplesmente na divergência de emoções? Será que o irrealizado na dimensão onírica não implica pesadelo? O sonho nada mais é do que um conjunto de ideias e imagens que se me apresentam durante o sono. Pergunto: tais imagens e ideias devem ser, necessariamente, prazerosas? Pesadelo, por sua vez, é entendido como um mal sono, inclusive onirodinia. Bem, então, em face da complexidade do tema, decidi escrever o presente texto para que vós me auxilieis na compreensão do assunto.

Sonhei... Ou será que foi pesadelo? Bem, durante o sono, a imagem e sensação que me foi projetada era de que eu havia contraído o Novo coronavírus ou Covid 19. Eu, detalhista por excelência, questiono? Se estamos diante de uma pandemia do Novo coronavírus, por onde andará o antigo coronavírus? Ou melhor: o que fizeram da versão vintage do coronavírus? Enquanto a resposta não me chega, darei prosseguimento ao sonho... ou seria pesadelo? Ciente, oniricamente, de que a doença conduzir-me-á rapidamente à morte, volto-me a Deus. Curioso é como, em certas situações, os seres humanos logo buscam à Deus.  – “Senhor, sou tão jovem; 68 anos apenas”. (Aqui percebe-se uma linha de argumentação bem característica dos cínicos. Desde quando 68 anos é jovem? Sim, apelei para o mantra da ridícula modernidade, ou seja, a falácia da melhor idade). E continuo minha rogativa: – “Eu tinha tanto para fazer, tanto para contribuir com a humanidade...” Todavia, estou certo de que Deus não me deu ouvidos; Ele conhece bem o pedido de qualquer descarado!

Mesmo na condição de adormecido, não pulei as etapas identificadas pela psicologia em face do trágico. Sim, meu choque inicial envolveu a evocação a Deus. Em um segundo momento, eu neguei. Lógico, neguei. Como? Eu? Este que vos fala, bem criado, cidadão, ciente de seus deveres e exímio pagador de impostos? Criado com leite de cabra, Calcigenol irradiado e muito abacate com açúcar e aveia? Eu? Esbanjando saúde? Por onde andariam meus anticorpos? Férias? Outra descoberta: Pasmai! Disseram-me que alguns anticorpos tornaram-se Micro Empresários Individuais. Contudo, de nada adiantou negar. Então veio a raiva: Chamei os laboratoristas de irresponsáveis; xinguei o médico de pilantra, de terrorista. (Não sei porque, mas eu só pensava no Dráuzio Varella). Recusei-me à quarentena.

E chegou a fase da barganha. Devo alertar-vos de que eu continuava mergulhado em profundo sono. Pois bem, mesmo entorpecido propus-me fazer algo que pudesse, de certo modo, mitigar meus últimos instantes nesta vida. Louca Vida! Faria algo para auxiliar o meu país. Em sonho, abandonei o hospital furtivamente e fui para o aeroporto. (Como tudo se torna fácil quando em sonho, ou seria pesadelo?) No aeroporto, a fazer uso de cartão de crédito, comprei passagem para Brasília. Sim, eu queria fazer minha parte enquanto cidadão; eu queria abraçar o Lula, beijar a Dilma, o Rodrigo Maia, o Alcolumbre, a Gleisi Hoffmann, a Maria do Rosário (sem temer o processo por assédio sexual); eu gostaria de abraçar Sua Excelência o Ministro Marco Aurélio Mello, a Celso de Melo, a Lewandowski, beijar Rosa Weber, Carmem Lúcia e, por uma boa causa beijar as beiçolas de Gilmar Mendes. No entanto, não me foi possível; os seguranças barraram-me. Volto a perguntar-vos: O irrealizado no sonho não se revela como pesadelo?  

Não, não desisti. Voltemos à fase da barganha. Fui para o aeroporto e adquiri passagem para o Rio. Sim, ainda na condição de dormente, embarquei para o Rio de Janeiro. Após a aterragem dirigi-me à Rede Globo; eu gostaria de um modo ou de outro exercer minha cidadania. Em lá chegando eu queria abraçar Tiago Leifert, responsável pelo câncer televisivo que atende pelo nome de Big Brother. Mas eu queria mais: gostaria de abraçar o William Bonner e sua partner; queria beijar sua ex., a Fátima Bernardes. Túlio Gadelha? Não, definitivamente não! Eu tencionava abraçar Sandra Annenberg e Miriam Leitão. Como gostaria de abraçar o Faustão, o Luciano Huck e o intelectualoide de botequim que atende pelo nome de Pedro Bial. Não, não me esqueci do Serginho Groisman. E para finalizar, como eu queria beijar a Ana Maria Braga. Porém, as coisas, mesmo em sonho (pesadelo?) não saíram como eu esperava. Os seguranças não permitiram que deles me aproximasse.

Prezados, então, ainda dormindo, adentrei a fase do reconhecimento da perda. Mas o que me conduziu à depressão não foi o irrealizado durante o sonho; foi exatamente a única realização. Imaginai! Depois de zanzar desordenadamente pelo Projac, consegui apenas abraçar e beijar o louro José! Pergunto-vos: foi sonho ou pesadelo?  

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