Quarentena! Não, não falemos do vírus,
mas das consequências. Boas? Difícil mensurar. Depende das consequências, ou
seja, dos resultados naturais de um fato qualquer. Então nos perguntamos pelo
bom resultado. Mas a quarentena não é consequência; é recurso para minimizar
sobremodo a possibilidade de infecção; é prevenção. Então, ela mesma deve
trazer bons resultados. Contudo, identifico epifenômenos. Vejamos!
A casa tem sido alvo de faxinas e arrumações
intermináveis. Minha biblioteca toda organizada, livros catalogados. A coleção
de selos, enfim, atualizada. Papéis velhos foram descartados, alijados. Meus
armários passaram por uma devassa: quanta roupa encostada, quantos calçados em
abandono... eu, a me considerar incapaz
na ajuda aos necessitados. E o mais intrigante em tudo isso é o silêncio em que
estamos mergulhados. Não, o silêncio não atordoa. Creio que, apenas, nos
desacostumamos com o silêncio. Os ruídos dos motores cessaram; as ruas estão
desertas... Muito raramente, a sirene de uma ambulância.
Todavia, não ouço mais conversas. Onde
os risos, os gritos, a alacridade infantil? Eis o som do silêncio! Por onde os
cães que normalmente rosnam, ganem, latem? Onde o miado desafiante dos gatos
que vagabundeiam pelos telhados? Não, durante a quarentena não mais ouvi o
cantar de um simples e longínquo galo. E por que não mais recebo a visita dos
bem-te-vis, dos sanhaços? Os saguis têm evitado assobiar e zanzar por muros e
postes ao cair da tarde. Até os pombos se fizeram ausentes...
Eis o som do silêncio! Mas por que o
emudecimento? Tal poder adviria da quarentena ou da possibilidade de contrair a
doença? Homens e animais unidos, jungidos num mesmo ideal, num mesmo fim? Arrisco-me:
este silêncio é místico! De modo inconsciente a natureza está redescobrindo a
solidariedade. Nós, seres humanos, estamos a resgatar nossa humanidade. Neste
momento não estamos preocupados com o indivíduo; não desejamos contemplar esse
ou aquele ego. Estamos a repensar, a reaver nossa origem. Estamos, enfim, a
praticar o amor.
Here is the sound of silence. You can
dance!
Nenhum comentário:
Postar um comentário