sábado, 4 de julho de 2020

Causo de caserna



Anos setentas. Eu servia a Gloriosa, a Marinha de Guerra. Fim de semana e eu de serviço no Corpo da Guarda no Centro de Instrução ...  Noite de sábado. Um marinheiro alterado, ébrio talvez, a falar alto e com ares de desacato. O oficial de serviço o repreende, chama o suboficial, avisa da punição e manda que o evento conste em Diário. O suboficial era homem de meia idade e não muito polido. Em geral, os suboficiais são pessoas que vieram das mais humildes patentes, “de baixo”, como costuma-se dizer; são pessoas simplórias e não tão letradas, se bem que honestas e muito responsáveis.

O Diário não permite qualquer tipo de rasura; é documento a ser consultado em situações as mais diversas. A rasura o descaracterizaria como registro e, destarte, como documento probatório. Pois bem, o suboficial busca as informações necessárias para o preenchimento do referido registro. Informa-se da punição, data, horário, circunstâncias, etc. Sim, e o mais importante: o nome e patente daquele que foi punido. Chamava-se Waldemir Diogo da Silva, cujo nome de guerra era simplesmente Diogo.

A sabedoria popular costuma dizer que: “quando a responsabilidade aumenta, o diabo atenta”. E desta feita não foi diferente. O suboficial, a empenhar-se na caligrafia, preenchia atentamente o referido diário quando apercebeu-se do equívoco: o nome de guerra do protagonista fora grafado errado; ao invés de Diogo, ele escrevera Digo. O suboficial exasperou-se. Pôs-se a andar pelo recinto; a irritação o invadira, o tomara. O sargento, a desempenhar a função de Ronda, ao observar o desespero do colega, mostrou-se solidário e propôs uma solução. Disse o sargento: “Chefe, faz uma ressalva!”

Imensamente agradecido o suboficial dispôs-se a fazer a ressalva. Ei-la: “Aonde digo Digo, não digo Digo, digo Diogo”.  

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