Anos setentas. Eu servia a Gloriosa, a
Marinha de Guerra. Fim de semana e eu de serviço no Corpo da Guarda no Centro
de Instrução ... Noite de sábado. Um marinheiro
alterado, ébrio talvez, a falar alto e com ares de desacato. O oficial de
serviço o repreende, chama o suboficial, avisa da punição e manda que o evento
conste em Diário. O suboficial era homem de meia idade e não muito polido. Em
geral, os suboficiais são pessoas que vieram das mais humildes patentes, “de
baixo”, como costuma-se dizer; são pessoas simplórias e não tão letradas, se
bem que honestas e muito responsáveis.
O Diário não permite qualquer tipo de
rasura; é documento a ser consultado em situações as mais diversas. A rasura o descaracterizaria
como registro e, destarte, como documento probatório. Pois bem, o suboficial
busca as informações necessárias para o preenchimento do referido registro.
Informa-se da punição, data, horário, circunstâncias, etc. Sim, e o mais importante:
o nome e patente daquele que foi punido. Chamava-se Waldemir Diogo da Silva,
cujo nome de guerra era simplesmente Diogo.
A sabedoria popular costuma dizer que:
“quando a responsabilidade aumenta, o diabo atenta”. E desta feita não foi
diferente. O suboficial, a empenhar-se na caligrafia, preenchia atentamente o
referido diário quando apercebeu-se do equívoco: o nome de guerra do
protagonista fora grafado errado; ao invés de Diogo, ele escrevera Digo. O
suboficial exasperou-se. Pôs-se a andar pelo recinto; a irritação o invadira, o
tomara. O sargento, a desempenhar a função de Ronda, ao observar o desespero do
colega, mostrou-se solidário e propôs uma solução. Disse o sargento: “Chefe,
faz uma ressalva!”
Imensamente agradecido o suboficial
dispôs-se a fazer a ressalva. Ei-la: “Aonde digo Digo, não digo Digo, digo Diogo”.
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