sexta-feira, 3 de julho de 2020

Privado do inexistente



É quase incessante a sensação de vácuo; uma lacuna que se me invade. Busco identificá-la, mas baldas se mostram as tentativas. Há algo como um atraso, um delay entre mim e o mundo. Sim, podemos falar em contumaz inconstância; eu e o mundo quase sempre não nos identificamos. Distrações? Recurso simplório, trivial. Passatempos? A ingenuidade do lúdico. Fugas? Não existe perspicácia no evadir-se, até porque é óbvio tratar-se de evasão. Discursos, palestras motivacionais? A falácia como expediente. Certifico-me: o mundo me guarda rancor; tem por mim profundo desprezo. Quisera também conculcá-lo; quisera também evitá-lo. Mas, qual ... bobagens!

Então sinto-me privado, desapossado do ignoto. Ou não seria, de fato, desconhecido? Sim, refugio-me exatamente no que conceituam como obscuro. Apático e plangente compreendo que os seres humanos construíram um mundo despojado de Deus. E a questão: teria Deus resolvido abster-se do mundo? Não, simplesmente o mundo abstém-se de Deus; o mundo é falto de Deus. Chamam-No irreal, ineficaz, nulo, sem importância ou valor; dizem-No inexistente. O mais curioso é que, independente da crença, da posição ou ideologia, o mundo necessita dessa não existência. O que seria de nós apartados desse irreal?

Enfim posso compreender o porquê da vacuidade do mundo: estar privado do Inexistente!

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