Ao assistir pela TV certa comédia romântica - não me recordo do título no momento - teria o personagem principal declarado que “é impossível não amar aos que ouvem Puccini”. Pergunto-me: a melodia seria a causa? o amor apenas consequência? A meu ver, amar é o que nos torna sensíveis, suscetíveis de experimentar emoções, impressões. Evidentemente, que a declaração não faz de Puccini um único exemplar; outros compositores também são capazes de proporcionar o referido bem estar.
No entanto, voltemo-nos a outras
manifestações artísticas: como não assimilar a “magia” do inaudito presente nas
páginas de Cervantes? Como não ficar impressionado com as pinturas de Michelangelo
ou de um Vermeer? De que modo tornarmo-nos indiferentes às emoções presentes na
trama de um Ésquilo ou de um Sófocles? Como não experimentar certa comoção diante
dos escultores de Rhodes ou de um Auguste Rodin? Conseguis perceber? A arte
fala de si mesma; não tem como fito promover seu autor. Talvez sejam essas as
características que predicam os clássicos. A arte, portanto, é nada tangível; é
para ser admirada, não interpretada. Não obstante, uma certeza revela-se: o
artista deve ter o amor como fundamento.
Do exposto, pode-se extrair o objetivo
fundamental nas manifestações da arte: proporcionar bem estar, conforto, alento.
Então sou tomado de algum embaraço, pois afinal nem toda manifestação artística
tem semelhante capacidade. Muito pelo contrário, atualmente consideram arte o
que é impactante, o que provoca mal estar, o que constrange... Enfim, isso
ainda seria arte? Ou tratar-se-ia de uma arte subdimensionada? Ora, o subdimensionar
pressupõe o apequenar de algo; é atribuir menores dimensões. Certa questão se
me afronta: este apequenar estaria vinculado a falta de talento? A falta de
talento não apenas apequena, mas subverte a arte, minimiza o amor que lhe serve
de sustento. E essa subversão se autodestrói.
Bem, parece que agora não mais falamos
de arte, mas de seu aniquilamento. E qual seria a proposta deste abatimento? O
que pode o reduzido, o abatido, objetivar? Simples: o apequenar também de seres
humanos. A arte subdimensionada não mais se ocupa em facultar ânimo ou vigor, mas
desespero, uma angústia infligida, cultivada. A falta de talento, no entanto, não deverá ser
entendida como causa primeira; não creio que assim o seja. Simplesmente a
ausência de talento tem como origem a falta de amor; mas não o amor à fama, ao
ego, à vaidade. A pós-modernidade, igualmente subdimensionada, carece de amor à
própria arte.
A verdadeira arte é burguesa e opressora, segundo a contracultura.
ResponderExcluir