Percebi, mesmo a contragosto, que as filosofias são únicas. Lamentável descoberta, pois a Filosofia é encanto, é consolo, é conforto. Todavia, este encanto, consolo e conforto estão interiorizados; não podem ser transmitidos. Não pode haver conhecimento universal ou universalizado. Por quê?
De início, o conhecimento nos é imposto – trata-se da coação educacional, aliás muito pertinente e bem-vinda. Mais tarde, em alguns, passado o ardor, o frenesi da juventude, surge o interesse pelo conhecer, mesmo que de modo utilitarista. Em reduzido número, no entanto, o conhecimento se torna algo vicioso, uma vontade quase que incontrolável, até que ele mesmo – o conhecimento – se impõe e determina a relação. O exercício da Filosofia é isso: é fazer do conhecimento uma prenda. Então, esta minoria eleita torna-se refém; o conhecimento agora o arrasta e o controla, o precede e o conduz.
Ora, deste modo, o filósofo traz em si a pretensão de versar sobre os mais variados temas. E mesmo que o tente fazer de modo equilibrado, cauteloso, reticente, ainda assim manifesta uma certa “vaidade” provocada pela própria filosofia. O “ranço” do saber filosófico contagia, constrange, perturba. Louvado seja Kant, que em sua epistemologia estabelece limites para o conhecimento.
E quando digo que as filosofias são únicas, o digo pautado na certeza de que neste exercitar do intelecto o filósofo encontra em si a medida – única – para tratar de determinado problema. O entendimento dispõe-se a conhecer fenômenos que a ele se apresentam, propondo então conceitos. Mas para estabelecer conceitos – o entendimento – lança mão de pré-conceitos, de pré-julgamentos, de uma abordagem previamente raciocinada e individualizada. Por isso, o modo de tratar dado problema mostra-se intransmissível. Entendo ser relevante citar aqui o pensamento do sofista Górgias, pois que “há uma diferença entre o que se pensa e o que é o pensado”.
A filosofia traz ainda em seu cerne um estigma: mesmo sendo bela, arrebatadora, contagiante, excitante, ela não pode ser considerada ciência. O pensamento filosófico é especulativo e improvável. Talvez seja melhor abandonarmos os conceitos e nos voltarmos às metáforas, reverenciando Nietzsche.
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