Ego sum qui sum.
Eu simplesmente sou o que sou! E
é isso que me apavora. Eu sou aquilo que sou, embora a contragosto. Sou quem
sou e não gosto de sê-lo. Mas o que sou, afinal? Algo que repudio. E quem não sou? O
que quero ser. Então a questão se me afronta: De fato, sou?
Há algo em mim que não sou eu;
que me é estranho, indesejável. Mas não se trata de outro eu; sou eu mesmo. É o
eu que não quero, mas que faz parte de mim. Tampouco trata-se de um alter ego,
pois que este não é confiável. Não, nada de maniqueísmo, ou qualquer outro dos
“ismos” tão utilizados nos dias de hoje para explicar o trivial ou o banal. É um
eu que me habita, me expande, me sufoca, me comprime, me habilita. É um eu que
me faz, me oculta, me eterniza. Esse é aquele que me quer fazer acreditar que
sou. Tenho existência? Como posso existir se não concordo com meu modo de ser?
Percebe-se, portanto, que há um eu que determina-se como existente em franca
oposição a um não-eu que busca existir.
Aqui devo colocar-me frontalmente
contra Descartes, pois minha verdadeira existência, da qual não desfruto, é que
advém de meu pensamento. É justamente o pensar que me traz a certeza de que o
que existe não sou eu, mas um outro eu que não tem existência; é pelo pensar
que me certifico de que o que tenho é uma pseudo-existência.
E como vive um pseudo-existente?
Na tentativa insana de tornar-se existente. Que dilema é esse, onde o existente
não é, e o pseudo-existente quer ser?
Que convivência danosa,
insalubre! Com o tempo, além da expectativa de não querer ser, vivo também o
tédio dessa expectativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário