terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma bárbara egologia


Ego sum qui sum.

Eu simplesmente sou o que sou! E é isso que me apavora. Eu sou aquilo que sou, embora a contragosto. Sou quem sou e não gosto de sê-lo. Mas o que sou, afinal? Algo que repudio. E quem não sou? O que quero ser. Então a questão se me afronta: De fato, sou?
Há algo em mim que não sou eu; que me é estranho, indesejável. Mas não se trata de outro eu; sou eu mesmo. É o eu que não quero, mas que faz parte de mim. Tampouco trata-se de um alter ego, pois que este não é confiável. Não, nada de maniqueísmo, ou qualquer outro dos “ismos” tão utilizados nos dias de hoje para explicar o trivial ou o banal. É um eu que me habita, me expande, me sufoca, me comprime, me habilita. É um eu que me faz, me oculta, me eterniza. Esse é aquele que me quer fazer acreditar que sou. Tenho existência? Como posso existir se não concordo com meu modo de ser? Percebe-se, portanto, que há um eu que determina-se como existente em franca oposição a um não-eu que busca existir.
Aqui devo colocar-me frontalmente contra Descartes, pois minha verdadeira existência, da qual não desfruto, é que advém de meu pensamento. É justamente o pensar que me traz a certeza de que o que existe não sou eu, mas um outro eu que não tem existência; é pelo pensar que me certifico de que o que tenho é uma pseudo-existência.
E como vive um pseudo-existente? Na tentativa insana de tornar-se existente. Que dilema é esse, onde o existente não é, e o pseudo-existente quer ser?
Que convivência danosa, insalubre! Com o tempo, além da expectativa de não querer ser, vivo também o tédio dessa expectativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário