Parece
que o rótulo tornou-se uma exigência da pós-modernidade. Todos nós, queiramos
ou não, gostemos ou não, somos instados a exibi-los. E estes – os rótulos –
variam dos mais soberbos – quando exibem minúcias detalhistas de pseudo intelectualizados
– aos de criatividade mais chula. Com certa contrariedade, mas parte integrante
desta malta em eterna efervescência, acabei por assimilar um novo título; – em breve
o estarei elencando em meu Lattes – o de esquizofrênico.
Fazendo
jus ao novo rótulo, passo agora a discorrer acerca desta minha recém-descoberta
psicopatia, se é que tal epígrafe deva ser levada a sério.
Mas
vejamos. Diz-se, dentre tantos apanágios da esquizofrenia, que:
a)
“perda das relações sociais que mantinha”. Parece-me que as pessoas devem perpetuar
todas as relações sociais, muito embora sabendo que todas as relações deterioram-se
com o tempo, sejam elas entre pais e filhos, entre irmãos, sócios, vida
matrimonial, etc.
b)
“dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns”. Como se a pós-modernidade
tivesse a menor intenção em resolver alguma coisa. A geração pós-moderna, e com
muita razão, culpa as gerações passadas pelo caos instalado, a partir da
pretensão da mentalidade iluminista em estabelecer padrões de comportamento com a promessa de
tornar a humanidade feliz. Deu no que deu!
c)
“hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis”. Aqui me permito responder
colocando uma nova questão: Qual o legado da “modernidade líquida”?
d)
“sensibilidade excessiva a barulhos e luzes”. O que me ocorre é a imposição em
nos adequar à sonoridade aviltante das festas raves e ao uso costumeiro de
óculos escuros para mitigar a luminosidade feérica e sempre festiva do mundo
hodierno.
e)
“rostos inexpressivos”. A inexpressão de um semblante sempre exprime algo.
Inexpressão é um conceito vazio. Eu me solidarizo àqueles que, em face de
tantos desenganos e decepções, mantêm os semblantes inexpressivos.
f)
“afirmações irracionais”. Observem, por favor, discursos políticos, declarações
de autoridades, CPIs do Congresso, votos de relatores e me apontem afirmações
racionais. As afirmações irracionais advêm de um processo de assimilação/imitação.
g)
“abandono das atividades usuais”. Sofremos um massacre midiático diário, no
sentido de inovar comportamentos, fincados em pesquisas e experiências as mais
torpes e estapafúrdias. E ainda se justifica tal absurdo com a retórica de uma necessária
ruptura conceitual histórica.
h)
“incapacidade
de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente, risos
imotivados”. Devemos ser capazes de demonstrar prazer, mesmo diante das
aberrações que toma lugar no palco do mundo; devemos ser capazes de chorar
quando nosso ídolo for desclassificado no “reality show”; devemos ser incapazes
de chorar quando Barak Obama e o povo norte americano festejam nas ruas a morte
de um extremista islâmico. Em que diferem uns dos outros? Só devemos sorrir
diante das câmeras, expressando aquela felicidade dos muares. Mostremo-nos
felizes como o gado que caminha plácido e sereno rumo aos abatedouros.
Estou
pensando seriamente em usar a alcunha de: “o esquizofrênico”. O que acham?
Nenhum comentário:
Postar um comentário