quinta-feira, 3 de maio de 2012

O SUS e o ar condicionado

O SUS e o ar condicionado

Amiúde, e não sem razão, critica-se o SUS. O chavão seria mais ou menos esse: “A saúde do brasileiro está doente”. Fala-se em corrupção no sistema, benefícios indevidamente pagos, aposentadorias fantasmas, pensões irregulares. Enfim, o sistema exaurido de recursos mostra-se agonizante.
Todavia, para tudo há uma solução! Então o Estado empenha-se em regulamentar os planos de saúde. Sim, os Planos de Saúde – aqui já os evidencio em maiúsculas. E como toda solução atenuante, ou seja, remediadora, os Planos de Saúde surgem como panacéia. Ops! “Muita calma nessa hora”. Eu falei em panacéia, mas panaceia é a cura para todos os males. E nós sabemos que são muitos os males a serem curados. Dentre estes citarei apenas dois: comecemos com os males físicos, (as doenças ou os doentes, como queiram, pois para alguns só existem estes e não aqueles) mas nem todas - doenças - têm a cobertura dos planos; sim, há também males sociais, pois que nem todos - cidadãos - têm condições de bancar um plano de saúde (desta feita os retrato em minúsculas), o que nos remete a um mal financeiro. Mas o Estado há de redargüir com o recurso da metábase de que milhares abandonaram a condição de extrema pobreza. Lógico, contra fatos não há argumentos.
Então narremos um fato! Senhora de meia idade, com cefaléia, fortes dores no peito, hipertensa confessa e de carteirinha, com freqüentes regurgitações e diarréia dá entrada em núcleo hospitalar de certo Plano de Saúde - neste instante volto a grafá-lo em maiúsculas, talvez levado pela expectativa de um bom atendimento. Qual nada; ledo engano! Depois de uns bons 40 (quarenta) minutos é atendida pelo plantonista. Pasmem: nem um exame, nem um medicamento. Apenas 2 (dois) frascos de soro. Ah sim, quase esquecia; o laudo: virose! Minha pergunta estúpida a então recém atendida paciente: “E aí, tudo bem? Sente-se melhor?” E ela respondeu com um misto de mágoa, desânimo e ironia: “Pelo menos o ar condicionado funciona”!
Bem, como sou dado a ilações, permito-me concluir: As “salgadas” mensalidades dos planos de saúde - atenção hipertensos - justificam-se apenas pelo uso do ar condicionado. Um país onde até o medicamento para diarréia exige receita médica; onde os PSFs marcam consultas com meses de antecedência; os consultórios credenciados dos planos de saúde, - volto às minúsculas - seus “concorrentes,” também demorem a fazê-lo, precisa, no mínimo, ser repensado. Por enquanto, nós, burgueses por falta de opção - aderimos a planos de saúde para não sucumbir nas filas de hospitais públicos - nos abandonamos ao conforto de um ar condicionado degustando, via endovenosa, um frasco de soro glicosado.
Este insólito artículo passará, mas minhas palavras não passarão: Há de chegar o dia em que sentir-nos-emos saudosos do nosso Sistema Único de Saúde.

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