A cor vermelha a sugerir o incandescente; é luz, é alerta. E eu passo a frear o veículo de modo lento. Paro e recordo: “Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem...” Não, não há conhecidos, amigos, ou ... Existem apenas estranhos. Incrível, eu me encontro com estranhos. Afasto o olhar de um lado para outro. E lá está o semáforo: Vermelho! Mas, por que o vermelho está no topo, em posição superior, sobre todos os demais? O que significa o vermelho, enfim? A proibição, o limite, a coerção. Divago: Antes de tudo a proibição; esta é nossa vida, nossa realidade. Creio que a primeira palavra a ser decodificada pela criança é o NÂO.
Logo depois vem o amarelo, ou melhor,
o alerta, a restrição, o incômodo. Por que amarelo? A cor da desventura, a cor
sacrificial. Nossa viver é isso: infelicidade, infortúnio. O semáforo somente
aponta para a condição otimista, a expectativa de melhora; é quando mais demora
a trocar de cor. Amarelo também pode propor a descontração, inspiração...
contudo, ainda somos os mesmos obstaculizados, os ainda coagidos, proibidos
pela precedente vermelhidão.
Em seguida e por último a lâmpada de
cor verde. O que é isso, o verde? Enfim a realização da permissividade, o
direito de ir e vir levado à efeito, a possibilidade, a liberdade. E mais uma
vez vagueio, ou melhor, fantasio: quanta coisa precede a liberdade! Seria a
servidão o berço da liberdade? Penso em La Boétie. Outra coisa curiosa: O lema
do Iluminismo declara em primeiro lugar a Liberdade; só depois viriam a
Igualdade e a Fraternidade. Mas o semáforo inverte o foco. Quem estaria coma
razão?
No sinal verde os autos arrancam
irresponsáveis; motores roncam, esbanjam cavalos de força, insinuam-se por entre
ruas, vias, calçadas ...; eles são potencialmente letais. Então permito-me a um
último questionamento? Estamos, com efeito, preparados para desfrutar da tal liberdade?
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