Vós não podeis mensurar o quanto sinto saudades da tristeza. Isso mesmo; quem diria, heim? Tristeza a inspirar saudades! A contemporaneidade parece tê-la relegada ao ostracismo. Então, até por uma questão de elegância, sinto-me no dever de declarar em bom inglês: “Sadness was replaced by depression”. Os dias de hoje carecem de tristonhos, muito embora abundem em depressivos. Mas, se não me é falha a vetusta sensibilidade, depressão não inspira poetas. E a falar em poesia, certa tristeza busca invadir-me, mas ... antes que eu me deprima, mudemos o tema.
Não posso dizer, evidentemente, que
sinta falta dos irritados, dos nervosos, dos iracundos, etc., mas por onde
andaria esta parcela significativa da sociedade? Parece-me que também foram
substituídos. Sede bem-vindos estressados! O dia-a-dia na contemporaneidade é
incapaz de provocar irritação, apenas estresse. Curioso é como estes e aqueles
têm origem nas mesmas perturbações orgânicas e psíquicas. Não obstante, irrita-me
o fato da patente vulgarização do estresse. Como o sangue já me sobe à cabeça, ...
E quanto aos tiques nervosos? Falo de
manias. Conseguis lembrar de Wilson Simonal a cantar “mania é coisa que a gente
tem mas não sabe porquê...”? Não falo em maníacos, pois que estes sempre farão
parte do cotidiano. Porém, e a pessoa organizada, limpa, asseada? Esta passou a
ser marginalizada, pois assimilou um atributo que lhe rotula como possuidor de
TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo. Eu só posso entender tal assertiva como
sinais dos tempos. E o pior é que a presente afirmativa dá margem a uma falácia
utilizada amiúde pelos bagunceiros: “Existe ordem no caos!” Aproveito o ensejo
para eternizar minha resposta aos desordeiros: “Se existisse ordem no caos,
este seria cosmo”.
Poderíamos parar por aqui, no entanto,
já observastes que, hodiernamente, não mais sentimos medo? Sim, hoje
desenvolvemos apenas fobias. Seria a fobia um medo exagerado? Bem, antes que
meu medo transforme-se em fobia e eu revele toda minha loucura... ou seria
neurose? Se bem que minha loucura tem por base a insensatez, a doidice; há
alguma alienação mental, é fato, mas a extravagância seria considerada neurose?
Reclamo vossa atenção para o fato de que a extravagância permeia toda nossa
vida. É dentre os extravagantes que encontramos identificação intelectual e
afetiva, ou seja, afinidade. Ou trata-se de empatia?
Pois bem, a fazer uso de minha
capacidade analítica, somada, é claro, à certa dose de humor, percebo que
significativa parte da terminologia contemporânea obedece aos ditames de uma
“ciência” (???), que garante desvendar o grande mistério que atende pelo nome
de ser humano. A popularização da dita “ciência”, contudo, tornou-a banal e
desmedida, haja vista o presente texto. Mas nefasto mesmo foi o surgimento do
psicologismo. Este, que através de seus “especialistas” promete ter respostas
para tudo, invadiu lares, mentes, situações, relações e faz tempo que esfrega o
ilustre “bumbum” aboletado nas cadeiras das salas de aulas, pervertendo,
inclusive, a educação e os valores das novas gerações.
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