terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Asteroide

 

A notícia surpreendeu a todos; eu diria bombástica. Conseguiu superar o alarde imposto pela cultivada pandemia de Covid19. A diferença é que o asteroide fez-se, de fato, presente; sua proximidade foi confirmada por todos os grandes observatórios astronômicos. Imagens do Hubble, Gama Compton e Spitzer revelaram a dimensão da catástrofe. O Tamanho? Em torno de 300 metros de diâmetro. Astrônomos disseram que o corpo abandonara órbita bem definida, situada entre Marte e Júpiter, na região conhecida como Cinturão de Asteroides e aproximava-se da Terra. Meu Deus, estamos prestes a vivenciar o Armagedom!

E as perguntas que não querem calar. Onde se dará o impacto? Quais as suas consequências? Bem, mesmo interessado em dirimir possíveis e pertinentes dúvidas de meus leitores, não pretendo mostrar-me prolixo. Contudo, não há como se revelar íntimo de Bruce Wayne e desconhecer o Batman. Pois bem, as consequências, em geral, no caso do impacto de asteroides, varia na razão direta das dimensões do mesmo. A coisa vai desde a formação de crateras, até a movimentação de placas tectônicas; a energia liberada pelo impacto provoca mudanças climáticas e na biosfera, o que pode ser devastador para a civilização humana. Se em menores dimensões, o asteroide provoca ainda muita destruição: terremotos, tsunamis, etc.

E o local do impacto? Todos se perguntam. Desta feita, para surpresa geral, nenhuma cidade ou estado norte-americano será atingido; a Estátua da Liberdade permanecerá incólume. A Torre Eiffel sairá ilesa, bem como o Palácio de Buckingham, o Portal de Brandemburgo, as Muralhas da China e o Monte Fuji. O asteroide dirige-se ao Brasil. Brasil?! Gritais em uníssono. Sim, dessa vez caberá ao Brasil a responsabilidade de “segurar a peteca”. Não obstante, Joe Biden colocou as forças especiais norte-americanas a nosso dispor. Boris Johnson ligou, Angela Merkel ligou, Putin ligou, Benjamin Netanyahu ligou. O Macron, ... bem o francês está mais preocupado com o desmatamento da Amazônia. Nicolás Maduro não se decidiu; um poço de ressentimentos o viejo pendejo.

O Ministério da Defesa, juntamente com o Chefe do Executivo, decretam estado de emergência e traçam planos para evacuar as cidades do leste, próximas ao mar. Sim, desta vez a estátua do Cristo Redentor irá desaparecer, para o deleite de alguns que dizem-se artistas e cultuam a cocaína. Mais uma vez o pânico se alastra. A grande mídia põe da lado os números da pandemia e expede a cada cinco minutos boletins sobre a proximidade do asteroide. Redes de TV montam programação específica e convocam especialistas no assunto. Faustão convida alguns doutos, Bial conversa com um expert, Datena convida peritos, Silvio Santos convida práticos. Aqui permito-me um comentário: eu não sabia que o Brasil tinha tantos especialistas para tantas especialidades... Mas vamos em frente! A programação dos rádios e emissoras de TV adaptam-se às demandas noticiosas. Jornais informam resultados de enquetes realizadas por alguns honrados institutos de pesquisas: o número previsto de mortes beira aos milhões e a popularidade do presidente despenca.

Todavia, em termos de Brasil, situação alguma pode ser considerada desastrosa o suficiente que não possa agravar-se. Sim, governadores questionam o estado de emergência, afinal, o carnaval se aproxima... Cariocas e paulistas lamentam. Os baianos pensam que se trata apenas de uma reedição do Bendegó. Não só os estados do leste, mas todos os outros exigem do governo uma verba extra para combaterem os efeitos destrutivos do asteroide; a turba em alvoroço faz filas frente as agências da Caixa Econômica a exigir mais um auxílio emergencial. O Ministro da Economia enfarta. A coisa foge ao controle.

E quando todos pensavam estar a viver seu pior pesadelo, vem o tiro de misericórdia: Impedidos moralmente de acusar cientistas de renome mundial por divulgar Fake News, partidos de esquerda reunidos entraram com um pedido junto ao Supremo Tribunal Federal, objetivando retirar a autoridade do Executivo e transferir a governadores e prefeitos o poder de decisão acerca da evacuação; afinal eles conhecem melhor as realidades de suas cidades. O STF, na pessoa de certo ministro, sua Excelência, Refrigerância, Repugnância, expede parecer favorável aos postulantes. A PGR entra com recurso e tenta sustar o parecer. E por que o recurso não é julgado com presteza? Simples, um de nossos togados está em Portugal a tomar vinhos e escutar fados.  

Bem, enquanto o STF nada decide, o país para; tudo se revela como caos. Organizações criminosas coordenam saques: sobe o preço da gasolina, da farinha de trigo, da soja, etc. Milicianos executam seus desafetos: a Hyundai deve encerrar as atividades no Brasil. E vós me perguntais pelo asteroide. Pari passu a celeridade das soluções no país, o asteroide mantém sua velocidade de cruzeiro: 30 Km/s. Então podemos conhecer, mais uma vez, o caráter do político brasileiro. Aulas são suspensas. Outra vez? Voos são suspensos, exceto para conduzir aqueles que pretendem emigrar. Campeonatos de futebol são suspensos; os estádios deverão estar aptos para receber futuros desabrigados. Fala-se em construir hospitais de campanha. Preocupação maior do brasileiro: Vão fechar os bares? Não, não há necessidade. (Risos) Certo governador vai a público declarar que os chineses têm como deter o impacto do corpo celeste e, por isso, resolveu aumentar o ICMS.

Em meio a toda esta algaravia, outro exemplar da nossa Corte Constitucional estabelece um prazo para que o Chefe do Executivo explique o porquê do asteroide dirigir-se à região leste do país e não a outro local; exige também que sejam anunciadas as medidas que estão sendo tomadas para minimizar os efeitos da “ultrajante impacção ao nosso Estado Democrático de Direito” (palavras da ministra). E vós, cobertos de razão, me direis: “Mas que paisinho sem vergonha!”

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